O Novembro Azul é uma campanha nacional voltada para a conscientização sobre a saúde masculina, com foco especial na prevenção e diagnóstico precoce do câncer de próstata. Em 2023, Sergipe registrou 510 casos de câncer de próstata, superando os 476 casos de câncer de mama em mulheres no estado. Embora a campanha esteja centrada no câncer de próstata, a mastologista Paula Saab, da rede estadual de saúde, destaca a importância de os homens também estarem atentos a possíveis alterações nas mamas, reforçando que esse tipo de câncer, embora menos comum, pode acometer homens.
O câncer de mama em homens é relativamente raro, estimando-se que, para cada 100 mulheres diagnosticadas com a doença, ocorre apenas um caso em homens. A especialista destaca que, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de mama masculino representa cerca de 1% do total de casos, mas, em 2020, foi responsável por 207 óbitos no Brasil.
Paula Saab ainda orienta sobre a importância de identificar os sinais e sintomas precocemente e ressalta os tratamentos disponíveis, reforçando a necessidade de conscientização também para os homens. “Na maioria das vezes, se manifesta como nódulo palpável, o paciente sente um caroço. Porém, existe uma condição no homem chamada ginecomastia, que provoca o crescimento da glândula da mama masculina. Ela cresce também pelo desbalanço hormonal ou por pacientes que tomam algumas medicações anti hipertensivas ou ainda aqueles que tomam hormônios para atividade física, que acabam desenvolvendo a glândula”, detalhou a médica, tranquilizando que nem todo nódulo será câncer, mas, por prevenção, ao notar algo irregular, deve-se buscar o diagnóstico.
Embora os homens possam realizar mamografias, elas são indicadas apenas como exames diagnósticos, e não como parte de uma rotina preventiva. Ao perceber a presença de um caroço, é fundamental que o paciente procure imediatamente um médico. Essas alterações podem ser dolorosas, especialmente quando relacionadas à glândula mamária. No entanto, em casos de câncer, a dor geralmente não está presente.
O lavrador José Natalício Santos, do município de Feira Nova, no médio sertão, foi diagnosticado com câncer de mama aos 57 anos. Ele procurou o médico da cidade ao notar que sua mama estava crescendo. Como no início não doía, o paciente procrastinou a consulta, mas as dores se intensificaram, ao ponto de impedi-lo de trabalhar, quando finalmente buscou o Hospital de Urgência de Sergipe (Huse).
“O médico de Feira Nova encaminhou meu tio para o Huse e lá foi feita uma biópsia, que deu positivo para câncer de mama. Inclusive ele está com consulta de retorno marcada”, relembrou Raquel dos Santos Porto, sobrinha do paciente, que o acompanha no tratamento feito no Hospital Cirurgia, unidade que mantém convênio com a rede estadual de saúde.
Exames e tratamento
Quando um paciente percebe alguma anomalia na mama, realiza-se um diagnóstico diferencial para determinar se a alteração é benigna ou se trata de câncer. Os exames solicitados são os mesmos realizados em mulheres, como a mamografia e o ultrassom. As características de um nódulo suspeito seguem o padrão de ser irregular, podendo causar retração na pele. Caso haja suspeita, o nódulo será submetido à biópsia, assim como ocorre no diagnóstico feminino.
O tratamento para o paciente masculino segue o mesmo protocolo adotado para mulheres. Caso seja necessária a cirurgia, geralmente será realizada uma mastectomia total, já que os homens não possuem volume mamário suficiente para procedimentos de cirurgia parcial. A abordagem da região axilar também é semelhante à das mulheres, podendo incluir a biópsia de linfonodos. A depender do caso, será necessário o tratamento complementar rádio-químico.
É importante ressaltar que tanto o câncer de mama masculino quanto o câncer de próstata podem estar relacionados a uma alteração genética de um gene que passa de geração em geração. Toda vez que um homem tem câncer de mama, há a necessidade de investigar o resto da família, devido à provável alteração do gene BRCA2. “A filha de um paciente com mutação de BRCA2 tem 60% de chance de ter câncer de mama ao longo da vida, por exemplo”, destacou a médica.