Quem nos recebe na porta da casa de andar no bairro Coroa do Meio, Aracaju, é Rany, um buldogue francês muito do esperto e que conduz seu companheiro e personagem principal da matéria: Marcelo Silveira, 43. ‘Gosto muito de cachorro’. Pronto. Ganhou a reportagem. No primeiro depoimento a gente já detecta: o cara é gente boa.
Numa área no fundo da casa, uma oficina com uma forja com uma manta de cerâmica em formato cilíndrico enfeita o lugar. ‘Quando a gente liga, a temperatura alcança 900 graus, quer ver?’. Claro. Oxigênio e gás fazem o barulho de uma turnina de avião deixando tudo incandescente. É ali que as ligas 52100, 5160 ou 1070 entram pra que quando incandescentes saiam recebendo porrada na bigorna. Haja braço. O tubo pra fazer a têmpera também tá ali do lado.
DE HOBBY A NEGÓCIO
“Trabalhei muitos anos como vendedor de carros na Fiat. Depois da crise procurei uma alternativa diferente e que me desse prazer. E desde criança brincava de fazer facas com pedacinho de serra.” Entramos na oficina de Marcelo e vimos um lugar muito bem estruturado. Organizado. Aquele hobby começara a ter ares de negócio. ’Tenho estudado muito, viajado pra ser treinado pelos melhores’. E o resultado?
Marcelo apresentou pra gente facas únicas. ‘Faço da lâmina ao cabo’. E são cabos belíssimos feitos com madeira de lei e que deixa a pegada muito fácil. O dorso largo, alguns trabalhados em file work. Marcelo faz a faca do jeito que você quer. Madeira? “Escolha”. Formato da lâmina? “Também”. E a bainha? “pode escolher”. Espada ele não faz.
‘E O CORTE?’
Testamos o fio da faca com um papel A4 dobrado em V. A faca deslizou com suavidade sem tomar conhecimento do papel.
Mas pra ter uma faca dessa né igual ir no Ferreira Costa, pegar e colocar na cesta, não. Tem que ser tipo fazer uma tatuagem, senta, conversa, desenha e faz. Marcelo leva de 3 a 4 dias para preparar uma peça. Não dá pra estabelecer um valor por que cada trabalho é único, mas pra o leitor não ficar navegando em pensamento, digamos que fique entre R$ 350 e R$ 700,