Professora Patrícia Rosalba fala de seu ativismo acadêmico em prol dos direitos da mulher e das pessoas LGBTQI

A professora Patrícia Rosalba Salvador Moura Costa é pós-doutora em Ciências Humanas, mestre em Sociologia e faz parte dos corpos de educadores do Instituto Federal de Sergipe e da Universidade Federal de Sergipe. Para além de todos os títulos acadêmicos, Patrícia milita na defesa dos direitos das mulheres e da população LGBTQI.

A pesquisadora sintetizou diversos de seus estudos no livro “Aracaju dos Anos 90: Crimes Sexuais, Homossexualidade, Homofobia e Justiça”, publicado pela Edise no ano passado. Ao Olho Vivo, Patrícia fala sobre o papel da produção acadêmica no combate às violências sexuais e de gênero.

Olho Vivo – Sua pesquisa se dedica, ent re outros assuntos, à área de gênero e sexualidades. Qual a sua motivação para trabalhar com tais temas?
Patrícia Rosalba – Toda a minha formação profissional está pautada no estudo das questões sociais. Nesse contexto, tenho um interesse específico nas desigualdades que se impõem na sociedade. Por isso, acompanho com especial atenção os fatos relacionados ao campo de gênero e sexualidades, sobretudo no que diz respeito às violências que atingem as mulheres e os/as LGBTQIs. A minha motivação está em tentar analisar este fenômeno complexo que é a violência de gênero e contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, a partir da produção acadêmica que desenvolvo.

OV – Em sua opinião, esses temas vem ganhando espaço na academia e na sociedade?
PR – Apesar de vivermos atualmente um retrocesso muito expressivo no campo das políticas públicas e de direitos no Brasil, acredito que há também muita resistência aos atuais retrocessos. Portanto, a academia continua atuando firmemente e produzindo pesquisas e atividades de extensão sobre a temática, mesmo com os cortes orçamentários que o Brasil teve nas áreas de Ciência e Tecnologia e da Educação. Por outro lado, temos os movimentos sociais que atuam e fomentam debates, pressionam o Estado e mobilizam as instituições públicas e privadas para o acolhimento responsável das questões de gênero e sexualidade. Mas, claro, temos um caminho longo pela frente, de muita luta, resistência e reivindicações.

OV – Um dos focos do seu livro “Aracaju dos anos 90” é a homofobia familiar. A que conclusões você chegou quanto a esse assunto?
PR – O livro traz ao debate questões que dizem respeito aos aspectos culturais, sociais e históricos da cidade de Aracaju dos anos 90, através de investigações que envolvem crimes sexuais, homofobia familiar e justiça. Os resultados apontam como a homofobia familiar é mais uma face das diversas violências s ofridas por pessoas LGBTQIs. Talvez essa seja uma das áreas mais traumáticas, tendo em vista a importância que a família tem para o desenvolvimento dos indivíduos. Uma família em que o diálogo é inexistente e em que não há compreensão ou respeito às diversidades pode provocar traumas imensuráveis nas vidas de seus filhos/as.

OV – De acordo com a pesquisa, qual a sua interpretação sobre a atuação da justiça em relação aos crimes sexuais dos anos 90 até hoje?
PR – Os processos judiciais estudados mostram que o Sistema de Justiça Criminal foi acionado para resolver problemas relacionados à não aceitação da homossexualidade no espaço familiar. As relações entre a instituição judiciária, a família e as transformações as quais vivenciou a capital sergipana nos anos 90 dialogam com as mudanças que estavam ocorrendo no âmbito internacional. Nesse sentido, podemos inferir que o contexto social e cultural à época propiciaram um olhar atento d o judiciário sergipano aos discursos sobre gênero e sexualidades que marcaram Aracaju nos anos 90. No entanto, trata-se de uma leitura especifica, que mantém relações com contextos amplos, mas que não necessariamente se repetem em outros espaços geográficos. Atualmente, somos o País que mais assassina LGBTQIs no mundo, e o número de vítimas continua subindo, segundo dados da Rede TransBrasil e do Grupo Gay da Bahia. É uma vergonha ocuparmos esse lugar no cenário internacional.

OV – A população LGBTQI tem, aos poucos, conquistado algumas de suas pautas nos últimos anos. O que ainda falta conquistar?
PR – Todas as conquistas que os/as LGBTQIs tiveram estão atreladas também às lutas travadas pelos movimentos sociais. No entanto, há muito a ser conquistado ainda. Um debate urgente precisa atingir o tema da homofobia gritante que existe no Brasil e dos assassinatos que atingem os LGBTQIs. É preciso que estejamos atentos a esse cenário de execução existe nte no País e que saiamos desse processo de intensa violência que estamos vivendo. É necessário respeitarmos a diversidade, uma vez que somos um País tão diverso.

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