Materiais pesados, lixo doméstico e plástico são descartados às margens da BR-101
Quem trafega pela rodovia BR-101 entre os municípios de Nossa Senhora do Socorro e Laranjeiras percebe uma grande quantidade de lixo descartada de maneira irregular às margens da rodovia. Seguindo pela estrada, a situação fica ainda mais dramática e preocupante. Além do lixo doméstico produzido pelas centenas de caminhoneiros que passam pela região para carregar e descarregar, podemos ver plásticos utilizados para envelopar a carga e resíduos das cargas, o que inclui materiais pesados e que trazem grande risco a saúde da população, como coque e ureia.
Nossa equipe de reportagem foi até o povoado Pedra Branca, em Laranjeiras, poucos dias depois de uma fiscalização da Adema. Lá, podemos ver de perto uma grande quantidade de coque de petróleo sendo descartada de maneira irregular. Em alguns trechos ele mais parece asfalto, devido a grande quantidade e ao fato de que o tráfego de veículos assentou o material no solo. Além disso, nos períodos de chuva, o coque descartado de maneira irregular nas margens da rodovia é levado pela água até o Rio Sergipe, onde há um viveiro de peixes e camarões.
Ainda em 2015, a pesquisadora Angélica Baganha já alertava para os perigos que o descarte irregular de coque de petróleo traz. Na região onde a pesquisa foi realizada, no povoado Jatobá (Barra dos Coqueiros), foi constatada a presença de substâncias que provocam graves problemas de saúde a curto e longo prazo.
“As principais doenças que esses elementos dispersos no ar podem causar são asma, bronquite, conjuntivite, todos esses problemas respiratórios. Agora vanádio e níquel são perigosos porque eles são cancerígenos. Só que isso em 10 anos não tem como perceber, pois, são problemas que só vão aparecer depois de 40 anos”, comentou a pesquisadora na época.
UM PROBLEMA CRÔNICO
O descarte irregular de resíduos na região de Laranjeiras acontece há décadas. E, com uma população com pouca instrução e conhecimento sobre os perigos dos produtos transportados, ainda é comum ver pessoas se oferecendo para limparem os caminhões em troca de um pouco de dinheiro.
No povoado Pedra Branca encontramos o caminhoneiro José Ademilson, que hoje roda o país transportando adubo. Para ele, é muito importante que haja um descarte correto dos resíduos das cargas, principalmente das de coque “porque isso mata e aqui é uma região com caranguejos e tudo mais”.
“Você para o carro por aí daí sempre aparece alguém perguntando se quer que limpe o caminhão por dez reais. E como é barato, muitos aceitam, mas não é o certo”, comenta José Ademilson.
Foi para acabar com esse tipo de problema que o Ministério Público do Estado de Sergipe e a Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema) firmaram uma normativa que determinava que 14 fábricas, de diferentes produtos, apresentassem “trimestralmente certificados de limpezas das carrocerias dos caminhões que fazem os transportes de seus produtos e/ou matérias primas”. Apesar disso, apenas duas fábricas cobram doa caminhoneiros esse certificado.
Uma das únicas fábricas que cobram o certificado de limpeza fica localizada em Laranjeiras. Segundo o dono da fábrica de fertilizantes, José Bispo dos Santos, a cobrança do laudo de limpeza é feita antes mesmo do caminhão ter acesso ao interior da fábrica, somente após a verificação da documentação o caminhão passa pela operação de carga ou descarga.
“Acredito que essa normativa é boa tanto para o meio ambiente quanto para a gente. Vários pesquisadores detectaram a presença de metais pesados na água dessa região. E com o descarte correto desses resíduos, nós empresários também temos a segurança de que os nossos produtos não serão contaminados. Eu faço a análise do nosso produto e se algo anormal for detectado eu posso até ser punido”, comenta.
DESCARTE CORRETO
Há poucos metros de onde muitos caminhoneiros descartam seus resíduos de maneira irregular, existe um local autorizado pela Adema para realizar a limpeza dos caminhões, fazer a destinação correta dos resíduos e a emissão dos certificados que os motoristas deveriam entregar nas fábricas. Apesar da capacidade ser de 200 caminhões por dia, o local opera com apenas cinco por cento da capacidade, já que a grande maioria das empresas não cobram o certificado, como determina a normativa.
Esse tipo de trabalho já é comum em outras regiões, mas não sabemos porque há essa resistência tão grande, até mesmo de grandes empresas que cumprem medidas desse tipo em outros estados. Tanto que o Ministério Público do Estado teve que intervir para que a normativa fosse cumprida e a nova gestão da Adema também se mostra preocupada com esse crime que acontece há quase 40 anos”, lembra Ricardo Pinho.
A empresa de limpeza de caminhões coleta o lixo doméstico produzido pelos caminhoneiros e, após a limpeza da carroceria, é feita a separação entre os materiais que podem ser reciclados e aqueles que terão como destino final o aterro sanitário em Rosário do Catete.
“Infelizmente os caminhoneiros só nos procuraram quando a fábrica exige o certificado de limpeza emitido por uma empresa licenciada. Então, quando ele vem, nós verificamos qual o tipo de resíduo ele está transportando, nós fazemos recolhemos, classificamos e separamos em cada caixa. Quando esse resíduo não pode ser reciclado, nós enviamos para o aterro sanitário, incluindo o lixo doméstico. Já aquilo que pode ser reciclado, como plástico e paletes, nós enviamos para uma empresa parceira que trabalha com reciclagem, em Itaporanga”, explica.