Por Flávia Lima Moreira*
No jornalismo e na política tem uma expressão que me tira do sério: para além. O “para além” está nos discursos de esquerda, direita e na imprensa. Todos os dias ele está lá nas redes sociais, nas entrevistas, discursos e notícias. Difícil um programa de TV ou rádio que não tenha a expressão usada; impossível um discurso de um político que não a repita à exaustão.
Não sei vocês que leem este artigo, mas eu sinto um abismo gigante entre a política e a vida real; entre a imprensa e a vida real. “Para além” dos bons jornalistas e dos bons políticos, existe uma coisa chamada “poder” que acaba subvertendo a ordem natural de suas nobres funções.
Lulistas e Bolsonaristas são a prova real disso. Cada um de seu lado dos extremos, eles duelam e levam consigo uma legião de extremistas que fazem de tudo, menos ouvir a sociedade e ver a realidade. Dizem que defendem a democracia e o povo, mas estão tão distantes disso quanto o Brasil está longe de vencer a Covid-19.
Bolsonaro disse que não é coveiro. Lula agradeceu a existência do coronavírus. Lula e Bolsonaro, de cima de seus altares, cumprem a mesma saga: pelo poder, cedem ao centrão; pelo poder, cedem aos que não querem protagonismo; pelo poder, se dobram a interesses que não são os mesmos daqueles que os elegeram.
Lula e Bolsonaro se unem, ainda, no encontro com Valdemar da Costa Neto e tudo o que ele representa. Se unem no encontro com Roberto Jeferson. Eles se unem na briga pela sobrevivência política no poder. Isso nada tem de democrático.
É como a imprensa e seu núcleo do “para além”. Para além da imparcialidade, veículos optam por se transformar em canais extraoficiais de um lado ou outro. A democracia, essa pobre coitada que todos tanto citam, fica ali, no discurso, apenas.
Democracia se faz com participação em massa. Não se faz escolhendo o lado da massa a ser ouvido. Democracia não combina com discursos radicais e que visam a inflamar os mais cegos e fanáticos seguidores. Democracia não combina com corrupção. E aqui vale lembrar que corrupção não tem ideologia, não. Lembremos do mensalão petista e olhemos para o Planalto agora. Muitos nomes se repetem no entorno daqueles que tudo fazem pelo poder. Tudo, até mesmo deixar de lado a democracia, esse sistema tão novo para os brasileiros, e já tão massacrado por radicais que esquecem que só chegaram ao poder por conta dela.
Tem gente muito boa de todos os lados. E todos eles estão de um só lado: o da democracia. Aqueles que optam pelo radicalismo, seja na política ou na imprensa, estão “para além” da democracia e, portanto, juntos, lado a lado, de mãos dadas, apesar da troca constante de ataques. Eles estão do lado que valoriza mais o poder e deixa de lado a sociedade.
A sorte deles é que aqueles que têm o poder real não sabem disso, permanecem na ignorância. O poder real está nas mãos de quem tem voto. Chegará o dia em que eles saberão disso? Talvez sim, mas isso depende de fatores que estão muito além da nossa vontade e direito. Está nas mãos dos “Unidos do para além”.
- É jornalista e empresária nas áreas de comunicação, marketing e pesquisas em Porto Alegre (RS)