Conheça detalhes sórdidos da atuação da equipe que atua no hospital, segundo pesquisa efetuada por este semanário no Processo nº 201810701344

A ocupação da Bela Vista, hoje bairros Cirurgia e Suíssa, foi feita por escravos libertos, nos fins do século XIX, que eram impedidos de residir na região mais central de Aracaju. Para atender aos primeiros moradores, foi feita uma fonte no local onde hoje se encontra a Praça da Bandeira, a chamada Fonte da Caatinga, e foi por ali que surgiu o hospital onde se realizavam cirurgias, o que gerou o seu nome e, depois, o nome do bairro.

Erigido nos anos de 1920, estando a dois anos, portanto, de comemorar seu primeiro centenário, foi o maior hospital do estado até 1986, quando foi inaugurado o Hospital João Alves Filho. O Dr. Augusto Leite, seu mentor e primeiro gestor, deve sofrer horrores nestes dias se puder, lá do outro plano, de alguma forma, saber do antro de aleivosias por que passa aquela organização.

Gilberto dos Santos

Este ano, como nos 10 últimos, o Hospital de Cirurgia esteve envolvido nos noticiários, sempre através de notícias degradantes para a história de um dos mais antigos e renomados centros de saúde do estado de Sergipe e do Brasil.

O agravamento da crise ética ocorre justamente quando Gilberto dos Santos, então presidente, conforme ata de 2009, passa a ocupar, paralelamente, o cargo de primeiro tesoureiro.

Depois, em procedimento investigativo, o MPE aponta indícios de “prática criminosa, de improbidade administrativa e desvio de finalidade do objeto para o qual foi constituída a fundação beneficente”. Através de Procedimento Investigativo Criminal de número 54.17.01.0064 o órgão ministerial constatou que “os quadros societários das pessoas jurídicas contratadas pela fundação eram compostos por familiares de membros presentes e ex-integrantes da diretoria da instituição”.

Com isso, continua o relatório, a ação “resvalaria em conflito de interesse, ocorrendo enriquecimento ilícito (dos familiares) às custas do nosocômio”. Mais à frente, a peça processual continua, desta feita dando nomes aos responsáveis: “Aduz que o referido procedimento investigatório identificou como beneficiários do suposto esquema o srs. Gilberto dos Santos (então Diretor, ora 1º Tesoureiro), Tiago de Souza Santos (filho do Sr. Gilberto), Christian Oliveira (outrora também Diretor), Milton Souza de Santana (atual Presidente); André Santana (outrora responsável pelo setor de compras do hospital), Wagner José de Andrade Santos (atual diretor técnico do hospital), Agnes Maria Oliveira, João Francisco Barreto Chagas de Araújo e Rossana Freire Marinho Sales”.

Thiago de Souza Santos

Fazendo qualquer um supor que os gestores não temiam eventuais consequências, foi criado o GAC ¬ Grupo de Alta Complexidade, prestadora de serviços ao hospital, sendo seus representantes legais pessoas ligadas ao hospital, “sócios, ex-sócios, ex-representantes legais e até mesmo funcionários com vínculos de parentesco, empresariais e estrita amizade”.

A prática de nepotismo e o descaso administrativo, considerando-se que o hospital recebe verbas públicas e delas precisa prestar contas, chega a tal ponto de gravidade que causa espanto pela ousadia, já que seus gestores se supunham inatacáveis pelas cortes superiores, submetendo seus relatórios apenas a uma confraria travestida de conselho, como aponta o MPE.

“ Verificou-se durante a investigação que essa contratação da GAC pela FBHC se deu, respectivamente, entre pai e filho, o primeiro na condição de contratante, o segundo como contratado. Destaca que apesar de a fundação depender para funcionamento em sua totalidade de verba pública, esta jamais se submeteu ao controle do Tribunal de Contas do Estado de Sergipe e que, durante todos esses anos de sua existência, as contas têm sido analisadas e aprovados por um conselho próprio, cujos integrantes se alternam entre parentes e amigos…”.

Para ressaltar a benevolência do Conselho com seus gestores, ao lado do descaso com os servidores, que repetidamente estão com seus salários atrasados, observem abaixo, caro leitor ou querida leitora, como se dava a ternura do Cirurgia.

“O próprio diretor-presidente, segundo o órgão ministerial, teria recebido salário no valor de R$ 51.798,60 (cinquenta e um mil, setecentos e noventa e oito reais e sessenta centavos), seu filho – Gerente Executivo de Unidades Operacionais – GERUN – percebeu o valor de R$ 30.147,40 (trinta mil, cento e quarenta e sete reais e quarenta centavos). Outro filho do presidente da fundação recebeu o valor de R$ 15.947,00 (quinze mil, novecentos e quarenta e sete reais); o que configuraria, em suma, a prática nepotismo na instituição”.

Milton Eduardo Santana

Uma das tragédias recorrentes que acometem o Hospital de Cirurgia é a constante pane no acelerador linear, equipamento imprescindível pata aplicação da radioterapia. Os pacientes que dependem desse tratamento, além da pontualidade no início e término não podem interromper as aplicações, como tem ocorrido frequentemente.

Isso é motivado pela deficiência na manutenção preventiva, justamente porque o hospital não honra com os compromissos assumidos perante as empresas e/ou técnicos responsáveis pelo serviço. Acerca desse abalo, o MPE se manifestou: “O aparelho de radioterapia, por exemplo, imprescindível ao tratamento dos pacientes que dele precisam, ficou sem funcionar durante meses, interrompendo o serviço pelo hospital, em virtude da falta de pagamento do especialista contratado para reparo do equipamento”.

Depois de todo o processo, a Justiça tomou decisões definitivas para estancar a sangria desatada que acometia o hospital doente, determinando o “afastamento dos membros que compõe (sic) a Mesa Administrativa, bem como a proibição de efetuarem quaisquer funções administrativas na referida entidade até o julgamento do feito; 2) nomeação de interventor judicial ou administrador provisório, custeado pela fundação ré, tomando-se por base, durante o período de 12 (doze) meses, prorrogável por mais um ano… sugerindo a indicação para a função da Sra. Márcia de Oliveira Guimarães, servidora pública estadual”.

A desfaçatez atinge o clímax da inconsequência quando se vê a já mencionada empresa GAC, que tem como um de seus sócios o filho de Gilberto, Thiago de Souza Santos, como também a empresa GREKO Construções e Incorporações, que tem também como sócio Thiago de Souza Santos, e a AGSM Serviços Médicos Ltda – ME, cujo sócio é o senhor Gilberto Santos, atual tesoureiro do hospital, todas prestando serviço ao Cirurgia.

Milton Souza Santana

Anexo ao hospital paira, como um fantasma, um prédio inacabado, cuja obra se arrasta há anos, sendo atualmente de propriedade da empresa MLP Construções Ltda, acerca da qual o processo manifesta: “com sede em Nossa Senhora das Dores há fortes indícios de sua ligação com o ex-diretor presidente, ora tesoureiro o Sr. Gilberto dos Santos, porquanto uma ex-sócia da empresa, a sra. Rosivania Santos Rocha, é atualmente servidora da Prefeitura Municipal de Nossa Senhora das Dores, município que tem como prefeito justamente o Sr. Thiago de Souza Santos, filho do Sr. Gilberto dos Santos. Por sua vez, o sr. Andre Luis de Santana Peixoto, administrador da HLIX Soluções Ambientais é filho do atual diretor-presidente do Hospital Cirurgia, o Sr. Milton Souza Santana”.

O processo está correndo, os envolvidos foram afastados e agora a sociedade espera que a justiça seja feita, torcendo para que o Hospital de Cirurgia, de história tão rica, deixe de ser mencionado na crônica policial e volte aos seus dias de glória.

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