Com o envelhecimento da população, a preocupação com a saúde e a segurança dos idosos se torna cada vez mais importante. Um dos desafios mais significativos que essa faixa etária enfrenta são as quedas, que podem resultar em lesões graves, complicações de saúde e até a morte. De fato, as quedas são uma das principais causas de hospitalização e incapacidade entre os idosos. Estima-se que cerca de 1/3 dos idosos apresentam pelo menos uma queda por ano. E essa incidência aumenta com a idade.

As quedas em idosos podem ser atribuídas a diversos fatores, incluindo problemas de equilíbrio, fragilidade física, diminuição da visão e da audição, e até mesmo a presença de condições médicas crônicas. Além disso, fatores ambientais, como tapetes escorregadios, degraus irregulares e iluminação inadequada, também podem contribuir para o aumento do risco de quedas.

No entanto, há uma série de medidas que podem ser adotadas para prevenir quedas e promover a segurança dos idosos. O primeiro passo é descobrir a causa para que ela seja tratada. Por exemplo, o idoso está caindo porque tem artrose de joelhos, que está causando dor e desequilíbrio. Neste caso, é preciso focar em tratar a artrose. Segundo a médica geriatra, cardiogeriatra e professora da pós-graduação de Geriatria da IPEMED/SP, Drª Loren Andrade, a prevenção deve atuar em dois pilares: fatores extrínsecos e fatores intrínsecos.

Drª Loren Andrade, Geriatra e Cardiogeriatra

“Quando falamos em fatores intrínsecos, nos referimos aos relacionados ao próprio paciente, como trabalhar o equilíbrio e a força muscular. O Tai Chi é uma das modalidades de exercício que comprovadamente reduz quedas em idosos. Além disso, pilates, musculação e outros exercícios de equilíbrio e fortalecimento também podem ajudar”, orienta Drª Loren Andrade.

A polifarmácia (uso de muitas medicações) também é um fator comumente implicado na origem das quedas. “É importante avaliarmos, em especial, os anti-hipertensivos e psicotrópicos (como medicações sedativas e antidepressivos), que são medicações que podem aumentar o risco de queda, seja porque causam queda da pressão arterial, ou até mesmo sonolência, facilitando os tropeços. Se existe uma condição clínica associada, como déficit visual secundário à catarata, esta deve ser corrigida”, disse a especialista.

Com relação aos fatores extrínsecos, a geriatra afirma que é preciso olhar com cuidado para o ambiente onde esse idoso mora. Sempre que possível, trabalhar na adaptação desse ambiente, melhorar a iluminação, principalmente de ambientes onde ele circula à noite. “Por exemplo, deixar luzes do banheiro acesas ou colocar sensores que façam ela acender quando detectar a presença de alguém”, explica.

Maria Helena: escorregão devido a uma sandália

Susto em casa

A aposentada Maria Helena Santos Carvalho, de 75 anos, levou duas quedas recentemente. Em uma delas, ao lavar roupas, acabou escorregando e por muito pouco não bateu a cabeça em uma bancada de mármore localiza atrás. “Eu escorreguei para frente, inclinei o corpo e derrubei um balde com sabão em cima de mim. Estava sozinha em casa. Saí toda ensaboada em direção ao banheiro para tomar um banho”, comenta.

A causa da queda foi a chinela. A aposentada acabou comprando outra sandália, antiderrapante, e nunca mais caiu. Drª Loren também chama a atenção para os pisos antiderrapantes. Segundo ela, é preciso ter cuidados com pisos irregulares e escorregadios. “Usar corrimão nas escadas, evitar obstáculos no chão, como brinquedos, tapetes, tomadas soltas. O banheiro é um dos cômodos onde mais ocorrem as quedas. É importante observar algumas adaptações que trazem mais segurança como: assentos elevados, barras de apoio, piso antiderrapante, cadeiras de banho, sensores de quedas e alarmes de emergência”, orienta.

Uma condição frequente no idoso após apresentarem uma queda é o medo de cair. Isso é bem preocupante, visto que esse medo pode acabar levando a um isolamento social, na medida que esse idoso passa a evitar sair de casa para não se expor a situações de risco, além de poder causar alterações na marcha, perda de massa muscular e perda de funcionalidade, pois esse idoso passa a restringir suas atividades e até mesmo a modificar sua caminhada, pelo medo de cair novamente

Os idosos robustos, independentes e autônomos, geralmente caem fora de casa, por se exporem a situações de maior risco. São idosos que fazem exercícios ao ar livre e caem na rua porque tropeçam em calçadas irregulares. Já os idosos frágeis e mais debilitados, normalmente caem em casa, durante atividades rotineiras, como aconteceu com a aposentada Maria Helena. Também podem acontecer quedas ao tropeçar no tapete da sala, no brinquedo do neto, ou até escorregando no banheiro durante o banho.

“Nesses casos, comumente existe uma condição patológica subjacente. São idosos, em geral, com perda de massa muscular (sarcopenia), alterações do equilíbrio, problemas osteomusculares (como artrose). Todo idoso com histórico de quedas deve passar por uma avaliação médica detalhada, onde serão investigadas alterações de marcha, força muscular e equilíbrio; além de pesquisadas doenças que podem aumentar o risco de complicações, como osteoporose”, disse Drª Loren.

A instalação de corrimão pode ser muito eficaz na prevenção a quedas

Quando procurar ajuda

A especialista afirma que a busca por uma ajuda deve ser sempre. Na avaliação médica, são identificadas as condições neurológicas e cardiológicas que podem estar envolvidas, além dos déficits sensoriais, como alteração visual por catarata, muito comum no idoso. “E por falar em preocupação, existe uma condição que particularmente me preocupa nesse cenário, que é a queda de origem inexplicada, aquela situação onde o idoso caiu e não sabe explicar o que ocorreu. Geralmente ele chega na consulta dizendo: Dra, não sei o que aconteceu, quando percebi, já estava no chão. Além disso, são episódios de quedas não testemunhados por familiares”, afirma.

Programas de exercícios voltados para a melhoria do equilíbrio e da força muscular podem desempenhar um papel crucial na redução do risco de quedas. Além disso, a avaliação regular da saúde ocular e auditiva, bem como a revisão dos medicamentos em uso, pode ajudar a identificar potenciais fatores de risco. Adaptações no ambiente doméstico também desempenham um papel importante na prevenção de quedas. Isso inclui a instalação de corrimãos, a remoção de obstáculos que possam causar tropeços e o investimento em iluminação adequada em áreas de alto tráfego.

Promover a conscientização sobre essas medidas preventivas entre os idosos, suas famílias e cuidadores é essencial para criar um ambiente seguro e saudável. “Em resumo, a prevenção de quedas em idosos exige uma abordagem abrangente que aborde fatores físicos, médicos e ambientais. Ao adotar medidas proativas e promover a conscientização, podemos garantir que nossos idosos desfrutem de uma qualidade de vida melhor e mais independente”, conclui.

 

 

 

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