Preocupação com a quantidade de agrotóxicos já
trouxe mudanças nos hábitos alimentares

Em clima de final de Copa do Mundo de Futebol, o Brasil já é campeão. Na verdade, desde 2009. Campeão mundial na pulverização de agrotóxicos em lavouras. Um título que não se pode ter orgulho.

Para se ter uma ideia do risco que corremos, de acordo com o último relatório do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), das 12.051 amostras de alimentos de origem vegetal coletados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 26 estados, quase 20% delas apresentava uma quantidade de agrotóxicos acima do permitido. Sendo que alguns deles não são permitidos em vários países do mundo, inclusive no Brasil.

MUDANÇA DE HÁBITOS

Lúcio Mauro, chef de cozinha

Conscientes dos riscos que esses produtos causam no nosso organismo a médio e longo prazo, cada vez mais pessoas estão buscando produtos orgânicos, que são produzidos sem o uso desses defensivos.

“Uma das minhas preocupações iniciais foram os mais de cinco litros de agrotóxicos por pessoa em um ano (alguns proibidos na maior parte do mundo, inclusive). Tanto que os primeiros produtos que comecei a comprar de forma orgânica foram os apontados com o maior índice de agrotóxicos e mais ofensivos”, comenta a professora Carine Mangueira.

O chef de cozinha Lúcio Mauro comenta que a alimentação saudável começa pela qualidade dos alimentos que você ingere e os produtos orgânicos oferecem não só a qualidade, mas também um sabor mais marcante que os produzidos de maneira “tradicional”.

“Eu prego muito, até mesmo nas minhas aulas, que a alimentação saudável está principalmente ligada a qualidade do que você coloca na tua mesa. Então quando você tem acesso a um produtos como esse, que você sabe que não tem agrotóxico, que ele tem um sabor mais apurado… É muito melhor”, comenta.

PRODUÇÃO DE ORGÂNICOS EM SE

Raimundo Carlos produz orgânicos há 15 anosos

Aqui em Sergipe, os agricultores que produzem alimentos orgânicos são principalmente os da agricultura familiar. Segundo a Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro), 76 agricultores possuem o certificado de produtores orgânicos, enquanto outros 132 aguardam o registro.

Um desses produtores que possuem registro é o senhor Raimundo Carlos de Almeida, do Povoado Várzea Dos Cágados, em Lagarto. Produtor de orgânicos há mais de 15 anos, ele conta que um dos principais obstáculos enfrentados é a falta de incentivo e a logística para escoar a produção.

“Nenhum governador, depois do [Marcelo] Déda, nos deu incentivo. Nós temos problemas de logística para escoar a produção, com materiais diversos necessários para a produção. Nós trabalhamos somente com a coragem”, lamenta.

Apesar de todas as dificuldades, os agricultores sergipanos estão conseguindo produzir uma variedade cada vez maior de itens e em uma escala maior. O chef Lúcio conta que já se surpreendeu algumas vezes ao encontrar certos itens nos pequenas feiras.

“Antes você encontrava poucos itens. Hoje você já encontra pimenta, banana, alho poró… Eu encontrei uma maçã esses dias em uma das feiras, o que me deixou surpreso porque elas vêm de lugares frios e é um dos itens que mais carrega agrotóxico”, comemora.

Agrotóxicos proibidos já foram encontrados em amostras pela Anvisa

“PACOTE DO VENENO”

No dia 25 de junho, uma comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou o relatório final do Projeto de Lei nº. 6.299/2002, por 17 votos a nove. Conhecido como “Pacote do Veneno”, o projeto foi proposto inicialmente pelo então senador e hoje ministro da Agricultura Blairo Maggi (PP/MT) e prevê uma série de mudanças na Lei nº. 7.802/1989, que rege o uso de agrotóxicos no país.

Pelo texto final apresentado pelo deputado Luiz Nishimori (PR-PR), o processo de registro de novos agrotóxicos ficaria centralizado no Ministério da Agricultura (MAPA), e não mais entre os Ministérios da Saúde, do Meio Ambiente e da Agricultura, e do Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O projeto também reduziria o prazo para a liberação de novos agrotóxicos (ou “pesticida”, como o nome projeto passa a chamar os produtos químicos).

Se hoje o processo de análise para a liberação demora entre cinco e oito anos, pelo projeto esse tempo seria reduzido a dois anos, no máximo, a depender do produto. A proposta substitui ainda a análise do perigo da substância por uma avaliação de risco. Seria analisada não apenas a sua toxicidade, mas também outras variáveis, como a dosagem, o tempo e o tipo de exposição ao agrotóxico, as condições climáticas e o uso de equipamento de proteção individual.

Por meio de nota, a Anvisa afirma que “o PL não contribui com a melhoria, disponibilidade de alimentos mais seguros ou novas tecnologias para o agricultor e nem mesmo com o fortalecimento do sistema regulatório de agrotóxicos, não atendendo, dessa forma, a quem deveria ser o foco da legislação: a população brasileira”.

Para entrar em vigor o novo projeto ainda precisa ser votado no plenário da Câmara, passar pelo Senado e da sanção presidencial, mas a discussão sobre ele só deve ser retomada em agosto, após o fim do recesso parlamentar.

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