A temperatura, a umidade, a luz e os gases atmosféricos podem interferir diretamente na estabilidade dos medicamentos, causando a perda da sua efetividade. É muito comum pessoas deixarem comprimidos na cabeceira da cama, próximo da janela, onde tem incidência da luz solar. Essa atitude vai provocar a perda da estabilidade do medicamento, assim como deixá-los na cozinha, no banheiro, ou numa área de serviço, que são locais onde a umidade é muito alta.
O alerta é do farmacêutico, cientista e professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Lysandro Borges, que aponta diversos hábitos que são prejudiciais à efetividade dos medicamentos. Ele comenta sobre as pessoas que compram porta comprimidos, que normalmente tem uma tampa que não é hermeticamente fechada e, consequentemente, com o tempo vai havendo exposição desses fatores, principalmente a umidade, alterando a efetividade dos medicamentos.
Lysandro Borges, farmacêutico
“É importante saber qual a quantidade de medicamentos que serão usados no tratamento. Por exemplo: se forem 30 comprimidos, após o término do tratamento deve descartar a sobra. O grande erro do brasileiro é manter a famosa farmacinha em casa. Isso é extremamente prejudicial. Se o tratamento terminou, não há necessidade de armazenamento do resto. Um antibiótico, por exemplo, o tratamento são 7 dias ou 10 dias, a depender do médico. Se sobrou os comprimidos, a pessoa não vai ter a quantidade correta para utilizar em um novo ciclo de tratamento”, lembra.
Segundo Dr Lysandro, esse descontrole na dosagem do medicamento causará o aumento da resistência bacteriana, que é grande risco global. “Hoje existem as bactérias superresistentes aos antibióticos, como a KPC, que é causada pelo tratamento incompleto com antibióticos, gerando cepas resistentes e causando um caos global quando existe a presença dessa bactéria no indivíduo. Acaba que nenhum antibiótico vai funcionar. E tudo isso é reflexo desses tratamentos incompletos ou inadequados em pessoas sem necessidade do tratamento com antibióticos terapia”, disse o especialista.
Lysandro Borges explica que outra mania prejudicial à efetividade do medicamento é triturar os comprimidos. Esse hábito não vai permitir que a mesma quantidade de miligramas seja distribuída igualmente, o que pode provocar uma superdosagem ou uma hiperdosagem. “Outro fator está relacionado àquelas pessoas que trituram os medicamentos e os coloca em sucos, leite ou chás. Esses produtos, dependendo do ph mais ácido ou básico, vão interferir diretamente na absorção do medicamento e até a extinção do seu efeito farmacológico, visto que o princípio ativo quando está encapsulado está protegido”.
Onde guardar o medicamento
Os medicamentos devem ser guardados em um lugar com temperatura ambiente, em média 25°, longe da luz e da umidade, numa caixa fechada, em local alto de difícil acesso para crianças, que são as que mais se intoxicam em casa por acidentes domiciliares. No caso de uma viagem, deve-se carregar uma caixinha plástica, com tampa, e os medicamentos na embalagem original, indicando na própria caixa ou numa folha em branco, acessória, o horário da tomada correta do medicamento e quanto tempo do tratamento. É importante, também, marcar na própria caixa o prazo de validade.
O descarte do medicamento pode ser feito numa unidade básica de saúde
“Essa atitude é muito importante porque na farmacinha caseira não há um profissional habilitado para controlar a validade, quando eles vencem, perdem sua estabilidade, a pessoa utiliza o medicamento dois anos depois, vencido, e isso poderá causar males para essa pessoa. Então, deve-se marcar bem grande na caixa o prazo de validade, manter na embalagem original, não abrir o blister (embalagem de alumínio onde vem a cápsula) e retirar aquela estrutura da embalagem original, porque ela fica exposta ao ambiente e mais susceptíveis a interferências externas. No carro, durante uma viagem, evitar de colocar comprimidos no painel”, destaca Borges.
Como fazer o descarte correto
Após o término do tratamento, o descarte do medicamento pode ser feito numa unidade básica de saúde que tem um sistema de gerenciamento de resíduos. A embalagem de papel pode ser descartada no lixo comum, mas os comprimidos e cápsulas devem ser descartadas em local adequado, para não contaminar o meio ambiente. “Poucas pessoas sabem disso e às vezes descartam antibióticos, por exemplo, num lixo comum. Esses antibióticos vão para os aterros, lixões, e lá podem causar uma interferência no meio ambiente gerando resistência também bacteriana, podendo causar a intoxicação de animais que vivem nesses locais”, alerta.
Na administração do medicamento vencido, os riscos vão desde náuseas, vômitos, diarréias, dor abdominal até em casos mais graves uma intoxicação severa, onde a necessidade da internação hospitalar com atendimento de urgência. Os medicamentos vencidos perdem a suas propriedades originais, as propriedades farmacológicas e terapêuticas, com isso a molécula que é formada ela não é conhecida, portanto pode ser uma molécula inerte, ou uma molécula que cause problemas nesse indivíduo diferente do efeito esperado do medicamento.