Três navios carregados com grãos zarparam nesta sexta-feira (5) da Ucrânia graças ao acordo respaldado pela ONU para que a Rússia suspenda o bloqueio dos portos ucranianos, com o objetivo de aliviar a crise alimentar mundial.

Os navios, com mais de 57.000 toneladas de milho, saíram do país durante a manhã de sexta-feira, em um momento de grande polêmica após a publicação de um relatório da Anistia Internacional (AI) no qual a organização acusa a Ucrânia de colocar em perigo a vida dos civis.

Também nesta sexta-feira, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, fortalecido por seu recente êxito diplomático na questão das exportações dos cereais, terá uma reunião com o colega russo, Vladimir Putin, em Sochi, às margens do Mar Negro, para buscar a abertura de negociações para uma trégua entre Rússia e Ucrânia.

Cinco dias após a saída do primeiro navio com grãos do porto ucraniano de Odessa desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro, mais três carregamentos partiram da Ucrânia em comboio, o início de uma série de viagens regulares para abastecer os mercados agrícolas, anunciou o ministério turco da Defesa.

Os três navios viajarão para Irlanda, Inglaterra e Turquia. Além disso, um navio de carga segue para o porto ucraniano de Chernomorsk para carregar grãos, segundo o ministério.

Navegam sob o controle do Centro de Coordenação Conjunta (CCC), com sede em Istambul, responsável por controlar as exportações de cereais ucranianos pelo Mar Negro, seguindo o que foi estabelecido pelo acordo internacional assinado na Turquia em 22 de julho.

“Nosso principal objetivo é aumentar o volume de transbordo em nossos portos. Temos que processar 100 transbordos por mês para poder exportar a quantidade necessária de produtos alimentícios”, disse o ministro de Infraestruturas da Ucrânia, Oleksandr Kubrakov.

O transporte de grãos para os mercados internacionais foi retomado graças a um acordo entre Kiev e Moscou, que teve mediação de Ancara e da ONU, em uma tentativa de aliviar a crise alimentar que provocou a disparada dos preços dos alimentos.

Do agressor para a vítima

Mas a vitória diplomática foi ofuscada por um relatório publicado na quinta-feira pela AI em que a organização acusa as tropas ucranianas de violar o direito internacional e de colocar civis em perigo com sua defesa diante da invasão russa.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, criticou o relatório e afirmou que a organização “transfere a responsabilidade do agressor para a vítima.

“Não há nenhuma condição, nem sequer hipotética, em que se justifica um ataque russo à Ucrania. A agressão contra nosso Estado é injustificável, invasiva e terrorista”, declaro Zelensky.

No relatório, a organização cita incidentes em 19 localidades nas quais as forças teriam colocado civis em perigo, ao estabelecer bases em áreas residenciais e iniciar ataques a partir de áreas habitadas.

O grupo de defesa dos direitos humanos, no entanto, destaca que isto “não justifica em absoluto os ataques indiscriminados russos” contra a população civil.

A Ucrânia informou nesta sexta-feira que várias cidades foram alvos de bombardeios russos, incluindo Nikopol e Kryvyi Rig, no leste, onde várias casas e um posto de gasolina foram atingidos.

Vários mísseis atingiram durante a noite a cidade de Zaporizhzhia, no centro da Ucrânia, onde a Rússia foi acusada de armazenar armamento pesado na maior central nuclear da Europa, em território ucraniano ocupado.

Também foram registrados bombardeios intensos na segunda maior cidade do país, Kharkiv (nordeste), onde residências, lojas, um mercado e uma escola foram atingidas.

Contraofensiva

As forças ucranianas iniciaram uma contraofensiva no sul do país, onde afirmam que retomaram mais de 50 localidades que eram controladas por Moscou.

Também alegam que libertaram duas localidades na região leste de Donetsk na quinta-feira e uma nas proximidades de Kharkiv nesta sexta-feira.

A União Europeia (UE) anunciou sanções contra o ex-presidente ucraniano Viktor Yanukovich e seu filho Oleksandr, acusados pelo bloco de minar a segurança ucraniana.

Yanukovich foi deposto em 2014 por uma revolta popular contra a posição pró-Rússia de seu governo.

Após sua destituição, a Rússia anexou a península ucraniana da Crimeia e um território da região leste do Donbass.

A UE afirma que o homem de 72 anos radicado na Rússia ainda tem um “papel minando ou ameaçando a integridade territorial, soberania e independência da Ucrânia”.

O documento o acusa de tramar para retornar ao poder se a invasão russa derrubar Zelensky.

 

 

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