Da capa do livro, O Menino Amarelo me olha como uma Saracura-sanã que fugiu do brejo e tenta me dizer alguma coisa, com seus olhos tímidos e um jeito desajeitado de segurar a baleadeira, única arma que possui para desbravar o mundo. Entre cactos, saracuras e abacaxis, joelho ralado e sangrando ele ainda não sabe que há dores bem maiores e mais profundas que só o tempo haverá de mostrar. Ele me toca e me enternece e me sinto convocada pelo seu “olhar de cinema mudo” a procurá-lo nas páginas do livro que quero desbravar.

Esse Menino Feio me apresenta entre tantos e tão variados personagens (do Zé Garganta ao Padre Pedro) o
Lambe-Loiça, instrumento de vingança de mulher que “pertence à eterna estirpe das traídas”, como no poema Hematoma da Infidelidade de Marina Colasanti. Vingança miúda, mas constante que acalma o coração religioso sem lhe infligir remorso. Me vinguei junto com ela utilizando, de segunda mão, o Lambe-Loiça.

Antônio Saracura nos presenteia com vinte e nove contos, construídos a partir de quadros fixados na memória do tempo que ele evoca, revela, desvela, acrescentando cores e movimentos à rigidez da fotografia que ele captou em algum momento da sua vida. Sempre com muita leveza e extrema habilidade de escritor maduro, vai nos colocando diante de fatos e figuras que permeiam o cotidiano do interior da segunda metade do século XX até figuras da nossa cidade nessa fase pandêmica que nos deixou a todos de joelhos. São figuras comuns como é comum a vida a despeito
de todos os nossos esforços para torná-la glamurosa a qualquer preço.

Mas Antônio também se permite sonhar e desvendar pesadelos que lhe atormentam, como um minerador que sabe que no final a joia há de se mostrar. E adentra sem bússola à floresta densa dessas memórias através das quais acaba encontrando um ninho profuso de Saracuras. Boa Leitura!!

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