O projeto ‘Alma Africana’, do Centro de Excelência Nelson Mandela (DEA), realizou uma série de apresentações nesta terça-feira, 18, no Teatro Atheneu, em Aracaju. O grupo teatral do projeto, chamado ‘Parlacênicos’, encenou duas peças diante de uma plateia composta por escolas públicas do Estado, além da pesquisadora brasileira da Universidade de Northwestern, Julia Callegari, que veio dos Estados Unidos para acompanhar de perto o trabalho desenvolvido na unidade de ensino da rede pública estadual. A programação contou com os espetáculos ‘A Elza que vi’, no período da tarde, e ‘Pluft, o fantasminha (com Axé)’, à noite.

Entre as escolas presentes nas apresentações estavam turmas do Centro de Excelência 8 de Julho e o Centro de Excelência Atheneu Sergipense (DEA) e do Centro de Excelência de Educação em Tempo Integral Professor Fernando Azevedo, de Nossa Senhora das Dores (DRE 5).

Apresentações no Teatro Atheneu

O grupo de teatro ‘Parlacênicos’ faz parte do projeto ‘Alma Africana’ e envolve alunos em atividades de criação e expressão artística. À tarde, por volta das 14h30, a peça ‘A Elza que vi’ abordou a vida de Elza Soares, artista negra que fez história na música brasileira. No espetáculo, os estudantes encenaram a vida da cantora, que teve uma infância prejudicada e sofrida pela violência e racismo. À noite, às 19h30, foi apresentado o clássico do teatro infantil, ‘Pluft, o fantasminha (com axé)’, que incorporou elementos do teatro negro e referências às religiões de matriz africana, a exemplo dos orixás presentes na composição dos personagens, como exemplo da mãe de ‘Pluft’.

As apresentações fazem parte da programação anual do projeto ‘Alma Africana’, que realiza ações voltadas à valorização da história e da resistência negra, com a participação ativa dos estudantes do Centro de Excelência Nelson Mandela. Cofundador e coordenador do projeto Alma Africana, o professor  Evanilson França destaca que o teatro é uma forma de expressão que ajuda no protagonismo do aluno. “O teatro é uma arte de corpo inteiro, sendo extremamente dialógico, trabalhando com a literatura, com a música, a dança, a escultura e a pintura. Ele fortalece o protagonismo e a presença do estudante nos projetos pedagógicos”, enfatizou.

As atividades foram acompanhadas pela pesquisadora Julia Callegari, que estuda o ‘Alma Africana’ no âmbito de um projeto da Universidade de Northwestern, que selecionou cinco iniciativas brasileiras para pesquisas aprofundadas sobre relações étnico-raciais. Para ela, o diferencial do projeto está na continuidade e na construção coletiva, integrando alunos e comunidade escolar em ações que vão além de aulas pontuais na escola. “A gente sabe que esse protagonismo e empoderamento do jovem ajudam nos desenvolvimentos cognitivo e socioemocional deles, e aqui você vê os meninos co-construindo o projeto. Não é algo só dos professores; eles mesmos fazem e são autores”, explicou. Julia pretende publicar artigos acadêmicos em revistas internacionais e apresentar os resultados em conferências em outras universidades mundo afora.

Quem esteve no palco encenando sentiu as histórias na prática e aprendeu sobre o ‘teatro negro’. É o que fala Edgar da Silva, do 2° ano do Ensino Médio, que fez alguns personagens, como o ‘Garrincha’, na peça ‘A Elza que vi’. “Eu acho que o teatro é importante para mim, mas também para outras pessoas, para elas verem o mundo de forma mais realista. A gente sempre destaca temas como racismo, machismo e homofobia, para conscientizar as pessoas sobre o racismo que acontece no Brasil”, afirmou o estudante.

Edgar estava acompanhado do seu amigo, Luka Molik, integrante do projeto há três anos. Luka fez vários personagens durante a peça de Elza, a exemplo do pai da cantora. Para ele, o teatro foi uma grande mudança em sua vida. “Mudou completamente o meu jeito, a minha maneira de falar, de me comunicar; melhorou as minhas ideias. Tenho uma visão diferente do mundo”, disse.

Na plateia, durante a tarde, a emoção que saía do palco contagiou os espectadores. A professora de arte do Centro de Excelência 8 de Julho, Fernanda Mattos, acompanhou os pequenos do Fundamental II (6° ao 8° anos) no espetáculo. Ela afirma que foi a primeira vez em que muitos alunos assistiram a uma peça de teatro. “Nós estamos com as meninas da eletiva ‘Dança e Movimento’, em que trabalhamos corporeidade, consciência corporal, teatro, dança, e um pouquinho de artes cênicas. Hoje é a primeira vez que a maioria delas conhece o espaço teatral”, comentou.

Projeto ‘Alma Africana’

Existente desde 2005, o ‘Alma Africana’ nasceu no Colégio Estadual Benedito Oliveira, de Aracaju, e está, atualmente, no Centro de Excelência Nelson Mandela, também na capital. O projeto possui 13 ações que educam e formam públicos das mais diversas faixas etárias, como crianças e jovens das salas de aula, além de docentes e a sociedade civil.  As atividades incluem produção literária, musical e audiovisual; gincanas; intervenções culturais; e almoços afrodiaspóricos, sempre orientadas pelas vivências quilombolas e negras.

O coordenador Evanilson explica que o público é incentivado a produzir e participar das mais diversas atividades. “O nosso projeto tem como objetivo a construção de um mundo outro, onde haja relações equânimes e acolhimento, em que as diferenças sejam respeitadas. Esse mundo outro, na nossa perspectiva, precisa erguer-se sobre os saberes e os fazeres dos ancestrais”, conta o coordenador, que enfatiza a necessidade de combater o eurocentrismo no currículo escolar das unidades de ensino, além de reconhecer as culturas africanas e originárias em sala de aula.

Entre 2023 e 2024, o ‘Alma Africana’ recebeu seis prêmios, incluindo dois nacionais. Entre eles, o prêmio Educar (única escola estadual com Ensino Médio de Sergipe a receber), e o ODS Educação (única escola do Nordeste com este prêmio).

Fonte, Secom – Estado.

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