Semana passada tive que dirigir um carro cujo câmbio era manual, e não, automático, como estou acostumada. Tudo era diferente, do motor à direção mais pesada. Após receber buzinas dos intolerantes e deixar o carro ‘morrer’ algumas vezes, decidi rir da situação ao invés de encará-la com desespero e nervosismo.
Estou bem acostumada a não entregar o único poder que tenho, que é sobre meu estado de espírito, para qualquer tolice. Nesta fase de quarentena intermitente, parece-me que os testes emocionais ainda estão mais severos. Ouço planos de pessoas sobre ‘quando tudo voltar ao normal’. O que não conseguimos medir ainda é o quanto fomos afetados desde que a vida tomou outra direção que não seja a do manuseio automático.
Instintivamente seguimos em busca das sensações conhecidas. Com seis marchas para dar conta, olhei pra frente e me entreguei ao inusitado: vou na fé mesmo. Queremos segurança, mas os tempos são voláteis. Será que somos mesmo fruto do meio? Quem me conhece desde criança sabe que sou leitora voraz, contudo, não tive essa influência familiar. Fiz um acordo com meu filho mediante pagamento de mesada. Se ele lesse e me entregasse resumos do que havia lido, veria a grana. Mas ele prefere desenhar, a ler ou a escrever. Tal habilidade com os lápis, não tenho, e aprecio nele.
Somos muito únicos! E enquanto não nos olharmos com carinho e respeito, aceitaremos qualquer rótulo. Conheço pessoas que desistiriam diante do desafio de um câmbio manual e postergariam o momento, aguardando pela previsibilidade de pilotar algo já dentro do seu costume. Há 2 anos e meio eu pesava 42 kg a mais. Fiz uma cirurgia bariátrica e optei que a partir dali minha meta era reduzir, não apenas medidas no corpo, mas expectativas.
Afinal, quem gosta de barriga sarada é adolescente. Eu quero saúde: física, emocional e espiritual. No livro ‘Essencialismo, a disciplinada busca por menos,’ o autor Greg Mckeon detalha, de uma forma muito prática, como há dispersão de energias quando queremos muitas coisas. Se começamos a nichar, segmentar naquilo que realmente nos faz bem, felizes e satisfeitos enquanto profissionais e pessoas, atingimos o potencial máximo, pois há FOCO!
Eu já entendi que não vai adiantar eu forçar meu menino a fazer coisas que não sejam do interesse dele. Agora ele está fazendo curso online de desenho. Não é porque yoga me faz um bem danado que irá fazer pra outra pessoa. Mas ler e praticar yoga são coisas que recomendo, porque para mim, fazem sentido e ampliam a minha maneira de enxergar o mundo. Vale experimentar. Enquanto tento me manter atenta ao som do motor que denuncia a hora de trocar de marcha, exercito uma mente positiva e aberta às novidades de cada dia, amém.
Lembro que no pós-operatório da minha cirurgia de redução (de expectativas) foi penoso tomar uns caldos nutritivos em porções que passarinhos dividiriam comigo a refeição. Era necessário. Houve uma fase que eu queria tudo demasiadamente: comer, dormir, trabalhar, consumir, etc. Errei na dose e após dez anos fazendo tratamentos diversos, me pus em quarentena de correção. Foi a melhor decisão da minha vida.
A obesidade por vezes resiste apenas na mente. É comportamento, compulsão, e se repararmos bem, temos ninado esses bichinhos de estimação em várias áreas da vida. E hábito se cria. Dizem que um basta bem dado lhe economiza dez anos de terapia. E isso é tão fatídico que ao adotarmos uma conduta de educadores de nós próprios, vamos melhorando. Não me cobro perfeição, mas se eu for ajustando aqui e acolá o que não tá legal, aos poucos, com um passo de cada vez, tomo jeito. É persistir porque me amo primeiramente. Após uns 30 km rodando no automóvel eu até já estava ultrapassando e me sentido confortável naquela direção. 
Caos e confusão pra lidar? Teremos. Nascemos na Terra e não, em Nárnia. O ponto de conversão e equilíbrio pertence a nós. Diante de uma pandemia já percebemos que não podemos controlar quando, onde, como e os porquês. Mas temos o poder de controlar as nossas respostas a tudo. Infelizmente continuaremos tendo assaltos, notícias tristes e decepções. Como lidar? Ao tomar um buzinaço de um motorista quando deixei o carro ‘morrer’, o personagem me xingou de palhaça. Divertida até sou, mas cada qual projeta no outro o que é. Se ele enxergou isso em mim, provavelmente tenha a síndrome palhaçal dentro dele. VSF – Vai ser feliz, meu caro, assim retribuo internamente.
Estou muito longe de ser o que desejo, mas assim como não deixo de fazer minha higiene diária com um bom banho, também não negligencio meu autocuidado, meu olhar acurado sobre o que penso, faço e como distribuo a minha rotina. Só tenho tempo para o que me traz sentido de vida bem vivida. Só sigo aquilo que me ajuda nesta transformação contínua. Só agrego a quem tem sintonia de alma, pois sou puramente energia, muito além de um corpo mais leve, que agora faz jus ao que tenho me permitido ser. Sigo cada dia mais desprendida do desejo de controle, aceitando pilotar o que me foi confiado naquela ocasião. E se a tormenta vier, e ela vem, não a receberei com uma xícara de café quentinho, assim como o meu coração. Servirei caldos nutritivos em doses suficientes de afeto e paz. A gente só consegue dar o que tem. 

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