Falando a respeito de tempo e de emoções o Livro de Eclesiastes, no capítulo 3, refere-se a tudo que existe debaixo do céu, mas nem Salomão em toda a sua glória e sabedoria falou sobre a existência de um tempo do medo. Eis que é exatamente esse tempo que estamos vivendo. Porém, quando digo estamos, acho que estou sendo injusta, porque a impressão que eu tenho é que grande parte das pessoas não está sentindo esse frio no estômago, esse desconforto que me assalta por inteiro sempre que analiso os dados, assisto às notícias ou vejo imagens que mundo afora se acumulam e frequentam o nosso cotidiano, através de todas as mídias que a modernidade disponibiliza em profusão.

O dia amanhece como outro qualquer com o sol lançando os seus primeiros raios colorindo de leve uma aurora que amadurece e se transmuda numa bela manhã. Ou com chuvas amenas com seus pingos cantarolando despretensiosos à medida que se espalham leves como brisas pela terra bendita que abriga a todos. A natureza não sente medo. Ela está indiferente aos homens e mesmo quando ela se manifesta em movimentos graciosos ou grandiosos não é o homem o seu foco mas a sua própria existência. Ela é essencialmente o seu próprio destino.

O medo é algo intrinsecamente humano, ou parafraseando Nietzsche, demasiado humano. Parece contudo que algumas pessoas são mais refratárias a ele do que “supõe a nossa vã filosofia”. Andando por aí depois de devidamente imunizada (vacinada só não resolve, o medo continua) ainda encontro pessoas indiferentes aos cuidados básicos tão recomendados por todas as organizações de saúde, como se o vírus tivesse parado de circular ou tivesse perdido a letalidade, como acontece com alguns fenômenos climáticos que se anunciam catastróficos e perdem força ao chegar ao continente. Mas volto pra casa e sou informada de que uma nova onda se aproxima como se a esse mar revolto não faltasse uma vontade férrea de tudo alcançar e as ondas crescem e se avolumam. Você pode tentar fugir dela mas não sabe exatamente qual direção tomar e menos ainda a duração que ela vai ter. E ela continua a perseguir a todos com grande voracidade, deixando a sensação de que só nos resta o abrigo da própria casa. Como aqueles abrigos subterrâneos construídos em tempos de guerra.

 

Mas os tempos são outros. Existe uma máquina que não pode (?) parar e como está escrito nos Salmos 19 “um dia discursa a outro dia e uma noite revela conhecimento a outra noite” numa sucessão de fatos que atordoam os homens os quais ainda estão discursando muito mais que revelando. Como parar essa vertigem de medo antes que ela nos devore ou nos paralise? Estará ainda longe o tempo dos homens enquanto a natureza segue impávida mostrando toda a sua superioridade e indiferença?

O dia anoitece como outro qualquer, com o sol querendo esconder-se por trás de poderosas montanhas que guardam consigo os segredos da terra. À medida que ele se põe, desce sobre todos os homens uma leve escuridão que aos poucos se vai adensando mas abrindo brechas suficientes para a claridade da lua e o piscar das estrelas. A natureza continua a não sentir medo. Ela tem recursos para elaborar os dias e as noites, indefinidamente, seguindo o seu curso na direção do infinito.

Que a natureza nos seja benevolente e ofereça uma brecha através da qual possamos ver a esperança e confiar no amanhã, com a certeza de que tudo vai passar inclusive O Tempo do Medo.

 

 

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