O som da cumbia da Academia da Berlinda ocupava o ambiente de começo de noite na Blend Burgueria (Av Pedro Paes). Era uma terça-feira normal na vida do anormal fundador da Blend. A madeira, os quadros pendurados, garrafas de cerveja ornamentando as paredes, a meia luz que convidava ao happy hour, mas João Gabriel, 26 anos – iluminado pela tela do seu notebook – se destacava no ambiente apreciando planilhas numa das mesas de madeira crua do lugar. Foi nesse clima que recebeu nossa equipe pra um bate-papo sobre o mercado e sobre sua primeira ideia de negócio: um sex shop. “Senta aí, cara, vamos bater um papo”

Traz A Conta: Já dá pra dizer que a Blend te faz mais feliz do que rico?

João Gabriel: Mais feliz sim. Mais rico não. 2017 foi o ano que eu torrei o que eu tinha guardado.

TAC: Quem manda na Blend: o conceito ou o mercado?

JG: Eu vou dizer que hoje em dia vai tá aí 60% mercado, 40% conceito. No começo foi o contrário porque poderia ser o contrário, só tinha eu. Foi o que deu o pontapé pra o nível de hambúrguer na cidade. A gente abriu aqui com um hambúrguer. Meu plano de negócio eram ter somente três.

TAC: As novas Blends trarão um conceito de auto-serviço. Isso não traz um pouco de medo? 

JG: Menos gente trabalhando, serviço direto no balcão, hoje eu vou fazer desse jeito. Pra que a gente tenha custos reduzidos ao máximo. Quem é cliente entende que se é pra ter algo a mais, ele vai precisar pagar algo a mais e hoje em dia ninguém quer pagar mais por nada. Fazendo isso, a gente vai conseguir eu vou vender o hambúrguer que eu vendo de R$ 21,90 por R$ 15,90.

TAC: E as atuais Blends Steak e Beach, nelas cabem esse conceito? 

JG: Nesses casos o serviço faz parte da experiência. O cliente quer saber o que é um prime rib, o que é um t-bone. O cliente não sabe o que quer.

TAC: O fornecedor é um problema pra Blend entregar o produto que ela entende como ideal? 

JG: Desde quando abri a Blend, e eu vou te falar por que 3 meses atrás eu fazia as compras, desse tempo pra cá as coisas passaram a aparecer e ficar mais baratas. Mas insumos de primeira instância você ainda não tem uma qualidade. Por exemplo, eu quero fazer um hambúrguer de angus. Por que eu acho que antes de mais nada um hambúrguer é pão e carne. Hoje em dia em Aracaju você consegue carnes boas, mas é sempre um boi pé duro. Vale todo mundo somar força. A Friboi chega pro Sal & Brasa, chega pro Sal & Brasa… já pedi tabela, tô na luta pra trazer.

TAC: Por que até agora nenhuma hamburgueria até agora colocou uma carne decente?

JG: Por que pouca gente se preocupa com isso. Mas também não adianta ter um bom ingrediente e não saber fazer. Tem muita gente fazendo hambúrguer bom, e tem muita gente fazendo hambúrguer merda.

TAC: A chegada do Careca muda alguma coisa no mercado?

JG: Não. Veja pizza, veio Pizza Hut, veio Domino’s e já foi embora. O Careca vai dar certo, outros vão sofrer com isso… mas não muda muito.

TAC: Mas pode pegar pelo preço…

JG: Man, que preço é esse? Eu tava fazendo umas contas comigo, o Classicão aqui é R$ 21,… se eu reduzir a gramatura da carne, dá pra empatar com ele. Mas tem gente que prefere esse modelo, cadeira de plástico na calçada, deixou de ser brega pra ser cool.

TAC: Um atalho pra quem tá chegando agora seria entender por sua cabeça o que você já apanhou. O que você diria pra quem chega agora?

JG: Primeira coisa, o sucesso não é constante. A segunda maior de todas, dinheiro não vem fácil

[Jouis Fotografia]

TAC: …a tirar desses ensinamentos, você diria que houve algum momento de depressão nessa condução?

JG: Não diria depressão, mas sim desestímulos. Eu sou uma pessoa bastante desestimulada. Eu me forço a sair de casa pra fazer algo diferente. As vezes o negócio aperta e a gente fica sem pro-labore. A gente vai ajustando uma casa pra cobrir a outra. Já tive fila de espera durante 7 meses. Na rua, na calçada, no canteiro. Hoje não vejo um lugar com fila.

TAC: É impressão nossa ou você percebeu que o hambúrguer artesanal começava a cansar quando deu as outras casas características que iam além burguer?

JG: É essa a minha ideia. Ficou mais claro quando veio a orla. O Cajueiros veio a ter uma segmentação depois.

TAC: Como é o João chefe? O João Boss?

JG: Eu sou uma pessoa que eu peco pela benevolência e já fui muito pisado por isso. Eu fui percebendo com o tempo que a turma não entende, por exemplo, o que é horário, então eu tive que colocar um relógio de ponto. São 44 horas semanais, o acordo é esse, ponto. Nem eu faço favor pra eles, nem eles pra mim. Já tive funcionário que começou lá embaixo e foi subindo e começou a me roubar hambúrguer, leite em pó. Não é fácil.

TAC: Esse posicionamento também tem influência de um sócio mais experiente em gestão?

JG: Tenho aprendido bastante. Mas essa questão dos funcionários eu aprendi no Tribunal de Justiça do Trabalho. Não dá pra ser o Google. Eu gastava R$ 800 de pizza pra funcionário por mês, eu fazia festa, comprava cerveja e cigarro pra galera…

Blend Beach n’Burger

TAC: Funcionava?

JG: Tinha um drunk monday, na segunda-feira os funcionários bebiam com os clientes, não tinham problema. Funcionou por um tempo, mas a galera não entende liberdade. Você pode ser amigo, mas no final você é o patrão e ele é o empregado, e cada um vai querer olhar pelo seu. Foi uma mudança de equipe, de ação e atitude. Tá fazendo errado? Tá aqui uma advertência. Mas hoje eu tô com uma equipe engajada, talvez a melhor que eu já tive. Cada casa tem um supervisor, a gente consegue ter uma linha de comando.

TAC: Tendo 4 Blends, você consegue ter um padrão?

JG: Uma coisa que a gente faz é fazer tudo num lugar só. Creme de queijo vai pronto, o pão vai pronto, o barbecue, a cebola caramelizada.

TAC: Essa filha mais velha tem apenas 3 anos. Onde você vê a Blend daqui a mais 3anos?

JG: O meu plano pessoal é que a Blend em 2019 trabalhe com franquias, pra que em 2020 eu possa me desligar dela. Eu não quero estar mais envolvido em operação. Ou vendo tudo por uma bolada, ou opero com percentual. Eu tenho outros planos. Quero viajar pra França, trabalhar numa cozinha, num bistrô. Não sei se tudo vai mudar daqui pra lá, mas o que eu penso pra minha saúde é isso.

TAC: Com uma marca valorosa como a sua, pensa em desenvolvimento de outros produtos vinculados a essa marca?

JG: A gente pensa bastante nisso. As camisas serão um primeiro passo. Uma coisa que eu acho que é pra ontem é a confecção de molhos, o catchup, a mostarda pra pessoa levar.

Urban Park Blend, no Garcia

TAC: Considerando ter começado sozinho, e depois entrar um sócio… foi bom?

JG: Pra mim foi uma das melhores coisas que aconteceram. Pra mim e pra Blend! Não tem demagogia nisso. No momento que o sócio entrou, entrou um gás e uma força que eu não tinha. Financeiro e de empenho de realizar. De resolver problemas. E minha sorte é que é uma pessoa totalmente diferente de mim.

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