No dia 11 de abril é comemorado o Dia Mundial da Doença de Parkinson, doença neurodegenerativa mais comum no mundo, perdendo apenas em prevalência para a doença de Alzheimer. Estima-se que no Brasil a incidência da doença na população acima de 64 anos chegue a 3%. Devido ao envelhecimento da população, há uma tendência de aumento da sua prevalência para os próximos anos.
A doença de Parkinson é considerada em geral uma condição de causa multifatorial, em que fatores ambientais e genéticos interagem para o seu desenvolvimento. O acúmulo de uma substância tóxica nos neurônios leva a morte dessas células de uma forma relativamente padronizada compatível com a evolução dos sintomas. A alteração da função de uma região conhecida como substância negra leva a redução da dopamina nos circuitos cerebrais com o desenvolvimento dos sintomas motores clássicos da doença de Parkinson.
Sintomas como a lentificação motora, a rigidez muscular e o tremor, que geralmente aparecem após os 50 anos de idade, podem ser indicativos da doença de Parkinson. Há uma parcela pequena de pacientes que iniciam os sintomas parkinsonianos mais jovens por predisposição genética ou secundário a outra doença que pode se assemelhar a Doença de Parkinson. Segundo o neurocirurgião funcional Dr Jorge Dornellys da Silva Lapa, professor e Médico da dor no setor de Oncologia do Hospital de Urgências de Sergipe (Huse), é comum os pacientes começarem com um tremor de predomínio em repouso em um dos braços com sensação dessa mão mais lenta e com redução do tamanho das letras na escrita.
Dr Jorge Dornellys da Silva Lapa, neurocirurgião funcional
“As pessoas podem perceber que o balanço desse braço mais lento está diminuído em relação ao outro lado ao caminhar e pode se desenvolver com o tempo o congelamento da marcha (caminhar) com dificuldade de iniciar ela, além de marcha mais lenta. A voz pode ficar monótona e mais fraca e o rosto sem expressão com o tempo. Ainda, sintomas não-motores como perda do olfato, sintoma depressivos, dor e até pesadelos vívidos também podem aparecer no início do quadro clínico ou até antes dos sintomas motores”.
“Infelizmente, não há medidas claramente eficazes para prevenir a doença de Parkinson até o momento. No entanto, sabemos que a exposição a pesticidas e algumas drogas podem aumentar a probabilidade de desenvolvimento da doença de Parkinson”
Dr Jorge Dornellys da Silva Lapa
Diagnóstico
O diagnóstico da Doença de Parkinson é essencialmente clínico. O exame neurológico detalhado auxilia na orientação diagnóstica e o acompanhamento regular do paciente é importante para confirmação diagnóstica. Os sintomas de lentificação motora (bradicinesia) e rigidez muscular são reconhecidos como parte da síndrome parkinsoniana que pode estar presente em outras doenças.
“O médico especialista também deve ser capaz de diferenciar a doença de Parkinson desses outros diagnósticos como parkinsonismo secundário ao uso de medicações (por exemplo, alguns remédios para tontura e antipsicóticos) ou outras doenças neurodegenerativas como paralisia supranuclear progressiva, atrofia de múltiplos sistemas e hidrocefalia de pressão normal com implicação direta na escolha do melhor tratamento e definindo prognósticos diferentes. “Os exames complementares de sangue ou de imagem buscam sinais indiretos de doenças que cursam com parkinsonismo, no entanto, não conseguem sozinhos fechar o diagnóstico”, comenta o especialista.
Tratamento
Dr Jorge Dornellys lembra que não há tratamento que modifique a história natural da doença e que todos os tratamentos existentes até o momento são sintomáticos. “O tratamento medicamentoso é, sem dúvidas, a conduta inicial mais adequada e deve ser iniciada assim que os sintomas causarem perda da funcionalidade do paciente. Há várias medicações que devem ser usadas em monoterapia ou em combinações para tratar a doença de Parkinson com os produtos a base de levodopa, sendo os fármacos de maior potência”, disse.
Segundo o médico, o tratamento é interdisciplinar e deve incluir, no mínimo, fonoaudiologia, fisioterapia e terapia ocupacional para prevenir e tratar complicações como dificuldade de engolir, perda da clareza da fala, dificuldades de equilíbrio e marcha, assim como necessidade de adaptações para a realização de atividades do dia a dia.
“Com a evolução da doença, as medicações começam a fazer efeito por menor tempo e aparecem movimentos anormais (discinesias) muitas vezes induzidos pela própria medicação e isso leva a redução da funcionalidade e perda da qualidade de vida. O tremor também pode ser prejudicial pela inconveniência social como também reduzir a capacidade do paciente tomar água, se alimentar e colocar uma chave na fechadura. Mesmo com a otimização da medicação, esses sintomas podem se tornar difíceis de serem controlados. Nesse momento a cirurgia para o tratamento da doença de Parkinson passa a ser uma boa opção”, explica.
Treinamento e programação do alvo na cirurgia para doença de Parkinson
Cirurgia
A cirurgia para a doença de Parkinson deve ser considerada em pacientes com boa resposta inicial ao tratamento medicamentoso que após 4 a 5 anos do diagnóstico da doença apresentam essas complicações motoras acima (resposta curta e imprevisível da medicação ou movimentos no corpo que fazem gastar muita energia ou dificultam a realização de atividades do dia a dia) ou tremor que não melhora com a medicação. Há raros casos em que os pacientes respondem a medicações mas não são tolerantes as medicações para o tratamento e após várias tentativas de vários esquemas medicamentosos sejam orais ou transdérmicos, pode-se também pensar em cirurgia.
A cirurgia mais realizada no mundo atualmente é a estimulação cerebral profunda (Deep Brain Stimulation) em que é implantado um sistema com 2 eletrodos em alvos especificos no cérebro do paciente e um marca-passo no peito para gerar os impulsos elétricos. “Os parâmetros para controlar os sintomas do paciente podem ser programador por um tablet via telemetria ou bluetooth com segurança. Há outros tipos de cirurgias como a palidotomia e a radiocirurgia que podem ser usadas em casos específicos após discussão com o neurocirurgião funcional e com o neurologista especialista em distúrbios do movimento”, salienta o neurologista.
“Por último, é de suma importância lembrar que a cirurgia não é a última opção de tratamento. Não se deve esperar que os pacientes evoluam com síndrome demencial ou sintomas de marcha, equilíbrio e fala muito graves para referenciar para o tratamento cirúrgico, porque esses sintomas podem inviabilizar a realização do procedimento. A cirurgia quando bem indicada, melhora bastante a qualidade de vida e os sintomas motores dos pacientes conforme vários estudos científicos previamente publicados nesse campo”, finaliza.