Por Habacuque Villacorte – Da Equipe Cinform OnLine
Deputada é a primeira mulher na história a liderar a oposição na Alese e defende ação organizada, planejada e coordenada contra a COVID-19
Desta vez a equipe do CINFORM ON LINE, com exclusividade, conversou com a primeira mulher líder da bancada de oposição na Assembleia Legislativa de Sergipe, deputada estadual Kitty Lima (CIDADANIA). Na oportunidade ela faz críticas contundentes à falta de diálogo do governo do Estado para resolver os problemas, inclusive na relação com os servidores públicos. Kitty também contesta a postura de se combater a pandemia se baseando apenas em decretos e chama a atenção para a economia. Por fim ela também critica a falta de ação do prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PDT). Confira a seguir, e na íntegra, esta entrevista exclusiva:
Iniciando a entrevista, o que a sociedade sergipana pode esperar do trabalho da primeira mulher na liderança da oposição da Assembleia Legislativa?
KITTY LIMA: Podem esperar a dedicação e motivação para fazer o certo, para fazer o que é melhor para os sergipanos. Também podem esperar diálogo, podem esperar construção coletiva, pois nosso interesse não é fazer oposição por oposição. Queremos trazer alternativas para os problemas que apontamos e temos feito isso nesse início de ano.
Como tem sido esse novo desafio? Os demais deputados da oposição estão se somando? Você já conversou com outros deputados mais independentes? Existe possibilidade da bancada aumentar numericamente?
KITTY LIMA: A bancada do Cidadania sempre foi e permanece unida assim como o diálogo com todos os demais parlamentares, sejam independentes ou da base do governo. Não somos um grupo fechado! Adoraríamos ter mais deputados ao nosso lado na trincheira da oposição, mas essa não é uma decisão nossa, do Cidadania.
Independente das questões políticas, quem acompanha as sessões da Alese percebe que o presidente Luciano Bispo respeita muito seu trabalho. Como você avalia a postura dele no andamento dos trabalhos da Casa?
KITTY LIMA: O Presidente Luciano Bispo tem se esforçado para conduzir os trabalhos da Alese da melhor forma possível. Esforço que nós reconhecemos. Mas, ainda precisamos avançar muito na questão da construção da pauta de votação. Precisamos que os projetos dos parlamentares venham para a pauta, não podemos ficar apenas votando o que o governador manda para a Casa.
Suas posições são conhecidas já, mas agora como líder da bancada de oposição, qual a sua avaliação sobre o governo Belivaldo Chagas? O que mais te incomoda?
KITTY LIMA: O principal problema do governo Belivaldo é a falta de diálogo. Belivaldo e o seu grupo governam como se fossem donos do estado. Tomam decisões sem consultar quem será atingido diretamente pelas decisões, a exemplo dos servidores. Naturalmente quem governa sem diálogo deixa a desejar na transparência e está sempre mais suscetível a tomar decisões erradas, como ele tem tomado.
Falando nisso, como a senhora avalia a atuação do governo no combate à pandemia? A senhora tem cobrado informações sobre os respiradores. Por que tanto mistério sobre o Consórcio Nordeste?
KITTY LIMA: Nós gostaríamos de saber, na verdade todo o Estado de Sergipe quer saber: para onde foi o dinheiro dos sergipanos? O governo finge que não tem responsabilidade, quer tentar tapar o sol com a peneira, mas acreditamos que teremos as assinaturas necessárias para poder instalar a CPI que passará toda essa história do Consórcio a limpo. O episódio dos respiradores e a falta de sensibilidade com os setores afetados pelos decretos são uma prova da falta de diálogo e do quanto o governador é prepotente e gerencia o Estado como se fosse sua fazenda.
E como você tem acompanhado o processo de imunização? Está a contento? Por que chega tanta vacina do governo federal, mas os Estados e municípios demoram tanto para vacinar?
KITTY LIMA: A situação esteve pior no início e denunciamos por várias vezes a falta de planejamento para a imunização. Felizmente depois de muita pressão nossa e de toda a sociedade, o governo e as prefeituras começaram a acelerar o passo na aplicação das vacinas, porém ainda tem muito a melhorar.
Você é a favor ou contra as medidas restritivas, como toque de recolher, por exemplo? Na prática isso realmente funcionou? Como justificar tantos empregos perdidos e empresas quebrando?
KITTY LIMA: As medidas restritivas são necessárias! É o único método que, comprovadamente, diminui a contaminação. Mas as medidas, sem uma contrapartida, são o mesmo que cobrir um santo para descobrir outro. O Estado precisa atuar no apoio aos setores afetados. Não se pode fechar as empresas por um mês para depois pensar em algo para ajudar. Isso não é efetivo. O combate à pandemia exige ação organizada, planejada e coordenada, mas o que o governo faz é emitir decreto. Não se combate à pandemia na base do decreto.
O deputado estadual Zezinho Guimarães tem chamado a atenção das autoridades para o crescimento da fome, de famílias sergipanas já com dificuldade para se alimentar. Você concorda? A pobreza está realmente “ganhando corpo”?
KITTY LIMA: A fome já vinha aumentando em nosso Estado desde antes da pandemia. Sergipe já sofria com a falta de emprego, nós já sofríamos com empresas fechando e a pandemia potencializou esse processo, com o qual o governo tem sido omisso e vem abandonando quem mais precisa. Quando o governo decide fazer algo, é lento e pouco efetivo. Até lá, mais pessoas passam necessidade, mais empregos são perdidos.
E o que dizer do trabalho do prefeito de Aracaju nesta pandemia? Construiu um Hospital de Campanha sem UTI que está sob investigação e muito pouco. Não daria para Edvaldo ajudar mais?
KITTY LIMA: Edvaldo agiu em 2020 pela conveniência da eleição. Em 2020 a pandemia era menor e tivemos hospital de campanha e em 2021 a pandemia é maior, mas a prefeitura, além de não falar da abertura de um hospital de campanha, não abre leitos na cidade com a eficiência que a pandemia pede. 2021 não é ano de eleição, então na cabeça desses políticos tudo pode esperar, não existe urgência. Eu, como aracajuana, gostaria que todo ano fosse ano de eleição, porque aí eu iria ver as coisas andarem.
Você é favorável que o Senado Federal possa acrescentar governadores e prefeitos na CPI da Pandemia? É verdade que poderemos ter uma CPI da COVID na Assembleia? O que você acha?
KITTY LIMA: O Senado pode dar sua contribuição, mas dificilmente irá conseguir se aprofundar nos fatos que dizem respeito aos governos estaduais. Por isso, a CPI na Alese é fundamental e esperamos que os colegas assinem o requerimento, bem como que a Presidência instale a CPI.
Em meio a tanta política, falando um pouco sobre a causa animal: para quem não acompanha seu trabalho, pode-se dizer que seu mandato tem ajudado na conscientização e proteção? O que, efetivamente, a senhora já apresentou no parlamento a respeito?
KITTY LIMA: Nós temos muito orgulho de dizer que existe um cenário da causa animal antes do meu mandato e outro depois do meu mandato. Esse ano mais de R$ 500 mil serão investidos em políticas de castração por meio da parceria com o senador Alessandro. Com ele, conseguimos quatro castramoveis para municípios do interior, sendo que dois deles já vão entrar em processo de licitação. Porém, temos leis que a Alese precisa colocar em votação que vão garantir proteção aos animais de forma mais ampla, mas confiamos que o presidente irá pautar esses PLs e vamos ter mais conquistas.
E quanto aos servidores públicos? Dá para se ter alguma perspectiva positiva para 2021? O governo celebra que vem pagando a folha em dia agora, mas você entende que ele poderia avançar mais?
KITTY LIMA: O governo, no mínimo, deve abrir diálogo com as categorias e apresentar um planejamento para as recomposições salarias e retomadas dos planos de carreira. Esse seria o mínimo que qualquer gestor deveria fazer. Mas, Belivaldo prefere se esconder atrás de falsas conquistas. A estratégia do governador é trabalhar com a terra arrasada. Jackson destruiu tudo com a ajuda de Belivaldo e aí qualquer coisa que se faça em cenário de terra arrasada o marketing do governo, que é muito bem pago, transforma em conquista aquilo que é a responsabilidade de qualquer um que é Chefe do Executivo.
Concluindo a entrevista, muito se fala em Saúde e pouco se fala em Educação. Sobre o retorno das aulas presenciais, qual a sua avaliação? Por que?
KITTY LIMA: O enfrentamento da pandemia precisa ser eficiente para que as sequelas sejam passageiras. Essas sequelas são mais graves na educação, pois quanto mais a gente demora e mais o governo brinca de editar decreto e não propõe soluções reais e eficientes para que a gente diminua o impacto da pandemia, mais crianças, adolescentes e jovens perdem tempo em sua formação. Essas são as sequelas mais graves da pandemia. Teremos uma geração com graves problemas de aprendizagem e que vão merecer uma atenção especial no pós-pandemia. Basta saber se o governo está ciente disso e se está preparando para essa situação.