Apesar do crescimento, elas continuam ganhando 22% menos que os empresários do sexo masculino
Há cada ano, as mulheres conquistam cada vez mais espaço na sociedade, na política e no mundo dos negócios. Rompendo barreiras e assumindo um papel importante em áreas que antes eram totalmente dominadas pelos homens.
Segundo um levantamento feito pelo Sebrae com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2018, em Sergipe 95,8 mil pessoas do sexo feminino são proprietárias de um negócio. Número que representa 34% do total de empreendedores do estado. Ainda segundo o levantamento, elas são mais jovens (43,8 anos contra 45,3 no caso dos homens), mais escolarizadas (42% possuem o ensino médio) e trabalham em média 30,8 horas no negócio.
MULHERES EM TODOS OS RAMOS
Segundo dados da Junta Comercial de Sergipe (Jucese), das 76.672 empresas ativas, 47.152 têm a participação feminina, sendo que deste número mais de 16 mil têm a mulher como sócia-administradora, a cabeça do negócio. E elas estão presentes nos mais diversos ramos da economia, inclusive nos que antes eram vistos como “profissões de homens”.
A empresária Luzia Lima Torres é um desses exemplos. Trinta anos atrás, ela iniciou a empreitada no ramo de móveis como sócia-administradora de seu negócio e, de lá para cá, só o viu prosperar. Hoje, trinta anos depois de abrir a sua primeira empresa, o seu grupo já reúne diversas empresas.
“Abri a empresa junto com o meu marido e minha irmã, mas a sócia-administradora era eu. Eu gostaria de, na outra encarnação, não ser empresária, pois trabalhria menos”, afirma aos risos. Brincadeiras à parte, ela ressalta que “é muito prazeroso”. “Eu amo, gosto de fazer. Eu nasci para isso”, enfatiza.
Maria José Andrade é outra mulher que rompeu barreiras e adentrou em um ramo dominado por homens. Ela é sócia-administradora de uma empresa de moto-peças. “No início, senti um pouco de dificuldade por conta do ambiente. Mas logo me acostumei. Administrar uma empresa de pequeno porte, independentemente do ramo, não é tão diferente”, ressalta.
Hoje viúva, ela já tinha experiência com o comércio, já que trabalhava com o seu marido em um minimercado da família. Ela só voltou à gerência de um negócio a pedido do seu filho. “Meu filho se identificava com o ramo de moto-peças e pediu uma ajuda para abrir um negócio. Optei em ajudá-lo, abrindo a empresa e atuando na parte administrativa e financeira. Reacendeu-se em mim esse lado de administradora com a moto-peças”, afirma Maria José.
GANHANDO MENOS
Apesar dessa forte presença no mundo empresarial, as mulheres continuam ganhando 22% menos que os empresários do sexo masculino. Em 2018, os donos de negócio tiveram um rendimento mensal médio de R$ 2.344, enquanto que o rendimento das mulheres ficou em R$ 1.831.
A desvantagem para as empresárias também é significativa quando se trata de acesso a crédito e linhas de financiamento. Elas acessam um valor médio de empréstimos de aproximadamente R$ 13 mil a menos que a média liberada aos homens. Apesar disso, elas pagam taxas de juros 3,5 pontos percentuais acima do sexo masculino. Nesse aspecto, nem os índices de inadimplência mais baixos, verificados entre as pagadoras do sexo feminino, foram suficientes para gerar uma redução dos juros. Enquanto 3,7% das mulheres são inadimplentes, os homens apresentam um indicador de 4,2%.
“Infelizmente as mulheres enfrentam muito mais obstáculos que os homens na hora de empreender. Além da necessidade de administrar duplas ou até mesmo triplas jornadas, elas ainda precisam superar uma série de barreiras impostas pelo mercado. Diante desse cenário é cada vez mais urgente a criação de políticas públicas que ajudem a reduzir essa desigualdade e estimulem o empreendedorismo entre pessoas do sexo feminino”, comenta o superintendente do Sebrae em Sergipe, Paulo do Eirado.
CRESCIMENTO NÍTIDO
Para a diretora de Registro Mercantil da Jucese, Cristina Melo, o aumento das mulheres no comando de empresas e, até mesmo, na elaboração do processo em si do registro, é nítido. “Trabalho na Junta Comercial há mais de 10 anos e, com certeza, atendo muito mais mulheres do que anos atrás. Para nós, eu como mulher em especial, é motivo de alegria ver a participação feminina crescer em todos os espaços da sociedade”, ressalta.