Ato foi realizado na manhã desta terça-feira (24)
Usando uma fita branca no peito, militantes dos direitos humanos, profissionais de diversos segmentos e moradores da cidade de Estância, participaram nessa terça-feira (24), do ato “Movimento Mulheres pela Vida”, uma resposta aos casos de violência contra mulheres no município.
A última vítima foi a dona de casa, Leda Passos dos Santos, de 34 anos, morta com golpes de faca, no dia 19 de abril. O principal suspeito, segundo a polícia, é o marido que confessou ter matado a companheira por ciúmes.
O Estado de Sergipe teve aumento de 40% no índice de casos de feminicídio nos primeiros quatro meses de 2018. O dado alarmante vem de Érika Leite Santana, vice-Presidenta da União Brasileira de Mulheres/SE, Presidenta do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher/SE, Diretora Sindical do Sindicato dos Trabalhadores nos Serviços Públicos do Estado de Sergipe – SINTRASE). Diante dos índices ela questiona: “que tipo de sociedade é essa que estamos vivendo? Da barbárie?”.
Para a psicóloga Lidiane de Melo Drapala, coordenadora do Grupo de Trabalho Gênero e Diversidade Sexual do CRP19 e representante do Conselho Regional de Psicologia no Conselho Estadual dos Direitos das Mulheres , o ato representa uma luta que nunca parou.
“Todas as mulheres, pessoas LGBTs, quilombolas, toda população estanciana, o povo de Sergipe, precisa, merece e deve se organizar pelo fim da violência. Basta da cultura de ódio, misógina, da cultura que silencia toda forma de diferença. A gente quer falar de amor, respeito e integração. Todo mundo tem direito à dignidade, tem direito à integridade. O CRP19 se posiciona nesse momento visando a ampliação dos direitos e da garantia à vida”.
No entendimento de Karina Liberal, presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulheres de Estância, as mulheres são as maiores vítimas porque acreditam que elas são as mais frágeis, mas alerta que todos tem responsabilidade de dar um basta nessa situação.
“Precisamos perguntar: o que estamos fazendo com relação à violência? Seja de gênero ou contra quem for. Precisamos lutar. O nosso movimento não vai parar. Vamos clamar à sociedade um basta de tanta violência, e principalmente contra as mulheres”.
Para Marcos Vinícius Mota, advogado militante e assessor jurídico da Secretaria Municipal de Educação, o que se observa, enquanto estado democrático de direito, são os direitos das minorias sendo esvaídos, diminuídos, tolhidos, muitas vezes por poderes públicos. “O que nós queremos é que essas minorias, as mulheres, os negros, tenham voz, tenham vez, tenham respeito e que não sejam apenas uma letra morta prevista na constituição federal”.
Vestida como a personagem o “Olhos de Fogo”, uma menina que foi abusada sexualmente pelo padrasto que enlouqueceu, cometeu homicídio e foi parar no manicômio judiciário, a atriz e arte educadora Lidiane Nobre pediu um basta na violência contra mulheres. “A personagem não tem um final feliz, mas muitas mulheres podem ter. Muitas podem mudar essa realidade. Precisamos observar e escutar cada vez mais o próximo, porque os sinais da violência existem e nós precisamos enxergar”.
Para Linda Brasil, militante transfeminista não se pode dissociar a violência contra mulher de toda essa onda reacionária, baseada num fundamentalismo religioso. “A doutrina religiosa que faz com que pessoas não respeitem a diversidade, não respeitem as mulheres , que acabam sendo vistas por homens como objeto gerando conflitos que levam à morte. A discussão de gênero é fundamental porque essas violências físicas acontecem não só com mulheres mas também com LGBTs e contras todas as pessoas que questionam essas normas. Muitos morrem por viver sua identidade de gênero”.
“Racismo, LGTBfobia, violência contra mulher, discriminação, preconceito. Precisamos dar um basta nisso. Se o ódio contamina, o amor também pode contaminar. Vamos juntas e juntos trabalhar em prol de sociedade melhor. Vamos conclamar à população que façam seus legisladores e gestores trabalharem políticas públicas voltadas para o combate à todo tipo de violência de gênero”, completou Valdilene Martins, advogada, membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SE e presidenta estadual do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM).