Agência Nacional de Água colocou a barragem na lista das que apresentam risco, mas Semarh afirma que monitoramento não constatou nenhum risco grave
Depois do rompimento da barragem de rejeitos de minério em Brumadinho (MG), foi ligado um alerta nacional sobre os riscos que outras barragens correm. Um levantamento publicado pela Agência Nacional de Águas (ANA), em 2017, aponta 45 barragens “indicadas pelos fiscalizadores com algum comprometimento estrutural importante”, entre elas a barragem Sindicalista Jaime Umbelino de Souza, localizada no município de Nossa Senhora do Socorro.
Mais conhecida como barragem do Rio Poxim, ela tem capacidade de represar 32 milhões de metros cúbicos de água, que é utilizada no abastecimento público. Hoje, devido à crise hídrica que o estado de Sergipe passa, ela está com 40% de sua capacidade. Mas, mesmo assim, olhando de perto, a imensidão das águas do Poxim impressiona e também causa medo aos moradores da região.
Apesar de a Companhia de Saneamento de Sergipe (DESO) afirmar que a barragem não corre risco de rompimento, moradores da região falaram ao CINFORM sobre o medo que eles vivem há pelo menos três anos, quando pescadores viram redemoinhos se formarem dentro da barragem. Esses redemoinhos, segundo os pescadores que conhecem bem o comportamento das águas, indicam que há um forte vazamento no fundo da barragem por onde escoa um expressivo volume de água.
Para completar o quadro preocupante, esse medo aumentou quando um rio de água estourou em uma fazenda localizada um pouco abaixo da represa, há pouco meses. Segundo declarou dona Silvanete, esse “olho d’água” forma uma coluna que se eleva a um metro do solo.
“A gente já tinha medo, e com o rompimento dessa barragem em Minas e o vazamento depois do paredão dessa barragem nós ficamos com mais medo ainda. Pelo que me falaram, o olho da água que se rompeu por aqui sobe quase um metro e corre como um rio no meio do pasto de um fazendeiro”, comenta Silvanete Martins.
RISCOS
Ainda segundo o levantamento da Agência Nacional de Águas, das 13 barragens que existem em Sergipe seis delas apresentam Dano Potencial Associado Alto, principalmente pela sua localização. Elas estão localizadas próximas a áreas ocupadas por casas e fazendas, como a do rio Poxim. Além de a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), “não possuir em seu quadro de pessoal técnicos dedicados exclusivamente à segurança de barragens, como também não possui qualquer referência à segurança de barragens”.
Em entrevista ao CINFORM, o superintendente da Semarh, Olivier Ferreira, afirmou que todas as barragens de responsabilidade do Estado possuem processos de vistoria, fiscalização e monitoramento, e que em nenhuma delas foi constatado “qualquer risco estrutural grave”. No entanto, ainda segundo ele, como muitas foram construídas há mais de 30 anos “é normal” elas apresentarem, pontualmente, algum tipo de problema.
“O Estado de Sergipe está inclusive em processo de contratação do Plano de Segurança de Barragem e do Plano Emergencial. São ações diferentes, uma ligada relativamente à questão estrutural e a outra para caso algum problema aconteça”, explica.
Após tremores de terra terem sido registrados na cidade de Malhador, muitas pessoas se questionavam sobre a segurança das barragens Jacarecica 1 e 2, localizadas naquela cidade. Questionado sobre isso, o superintendente da Semarh afirmou que, segundo o relatório apresentado em dezembro de 2018 pelos consultores especialistas em barragens contratados pela secretaria, “não foi encontrado nada que possa nos deixar receosos”.
INDENIZAÇÃO AOS MORADORES
Dona de um pequeno bar que funciona na parte da frente de sua residência, dona Silvanete Martins mora ao lado da barragem há 35 anos, na verdade, logo abaixo da barreira de contenção das águas. Ela viu a barragem ser construída e ser entregue pelo então governador do estado Marcelo Déda, em 2003, mas como mora em uma região considerada de risco, corre na Justiça um processo para que ela seja indenizada e, assim, possa deixar a casa onde vive com seus dois filhos que possuem problemas mentais.
“Eu estou aqui esperando eles me indenizarem porque, como aqui é uma área de risco, eu tenho que sair. Mas os valores que eles oferecem são muito baixos e eu não teria como comprar um outro imóvel. Na primeira vez, eles ofereceram R$ 35 mil, após os recursos o valor chegou a R$ 40 mil, mas ainda não foi depositado”, comenta.
Dona Silvanete comenta ainda que apesar dos recursos já terem se esgotado, ela ainda teria que deixar o imóvel para só então receber a indenização. “Eles falaram que eu só posso receber o dinheiro para comprar outro imóvel quando eu desocupar esse. Disseram que eu fosse para a casa de algum parente. Eu tenho filhas que moram por aqui, mas como eu vou levar meu dois filhos especiais para a casa de alguém, sendo que um deles é agressivo e está até internado no São Marcelo?”, reclama.
Levando em conta a missão social do jornalismo, a reportagem do CINFORM prometeu apurar o que ocorre com o processo de indenização de dona Silvanete, e para isso vai procurar a diretoria da empresa DESO, responsável pela gestão da distribuição de água em Sergipe, bem com a Defensoria Pública do Estado, nesta semana.