No ano do bicentenário da Independência do Brasil, o contexto é cercado de discordâncias em torno de sua real importância para a nação que começava a se formar, assim como personagens ainda pouco explorados nos livros didáticos.

O tema se relaciona com a história de Maria Quitéria de Jesus (1792-1853), que se vestiu de homem, com a alcunha de ‘soldado Medeiros’, para participar das lutas independentistas em seu Estado – a Bahia – contra as tropas portuguesas resistentes às mudanças regimentais na política brasileira daquele período.

Primeira mulher a integrar as Forças Armadas, Maria Quitéria foi condecorada por D. Pedro I como heroína, exaltada pelo Exército a partir da década de 1950 e rosto emblemático na luta de organizações femininas pela anistia durante a Ditadura Militar brasileira (1964-1985).

Para entender a história de Maria Quitéria e sua entrada nas lutas separatistas, é preciso contextualizar o 7 de setembro. A data, que marca o grito de D. Pedro I às margens do Ipiranga, por si só, não representa o que aconteceu de fato no Brasil. Observe que as demais províncias ainda permaneciam sob controle das tropas portuguesas, caso da Bahia, ou discordavam da ideia de trocar a tutela até então exercida por Lisboa pelo poder centralizado no Rio de Janeiro, caso de Pernambuco, que reivindicava maior autonomia regional.

O cenário é fruto de um acordo feito em São Paulo, muito diferente do que houve na Bahia. As lutas na antiga capital, se intensificaram em fevereiro de 1822, quando tropas portuguesas e soldados brasileiros travaram conflitos em torno do comando da província baiana, na contenda entre o português Luís Madeira de Melo e o brasileiro Manuel Pedro de Freitas Guimarães.

As disputas perduraram até julho de 1823, quando os portugueses se renderam. Nesse meio tempo, há a figura de Maria Quitéria, cuja presença na guerra de independência não fora, nem de longe, nada simples.

Maria Quitéria nasceu em São José das Itapororocas, antiga Freguesia de Nossa Senhora do Porto da Cachoeira, atual município de Feira de Santana, a segunda maior cidade baiana. Seu pai era o lavrador Gonçalo Alves de Almeida e a mãe era Quitéria Maria de Jesus.

Boa parte do que se sabe sobre a trajetória de Maria Quitéria está em biografias escritas na década de 1950, quando comemorações em torno de seu centenário se avolumaram. O livro de Pereira Reis Junior, de 1953, é um exemplo. Relatos esses que partem dos registros de jornais da época e também da escritora britânica Maria Graham, que escreveu um livro sobre sua viagem ao Brasil entre 1821 e 1823, intitulado Journal of a Voyage to Brazil, de 1824.

A partir daí, é possível saber que a mãe de Maria Quitéria teria falecido quando a filha ainda era criança, e que o pai se casara uma porção de vezes nos anos seguintes. Dessa forma, Maria Quitéria cresceu sendo criada por madrastas e pouco afeita aos trabalhos de casa, condição imposta às mulheres daquele período. A família queria que ela bordasse, mas ela se recusava. Maria Quitéria gostava mesmo era de montar a cavalo, cavalgar. Com suas particularidades, acabou se tornando um dos nomes femininos mais reconhecidos da história brasileira.

Quitéria foi a primeira mulher militar conhecida a se alistar para lutar numa guerra. Ocupou um espaço público que era então destinado a homens, em um ambiente onde mulheres não podiam estar. Como soldado Medeiros, ela não só foi aceita, como logo chamou a atenção de superiores pelas habilidades no tiro. Quando o pai descobriu que ela estava lá, foi atrás. O comandante do Exército, então, mesmo informado sobre o fato de ela ser mulher, recusou-se a tirá-la, argumentando que ela era uma atiradora muito melhor do que os demais recrutas. Suas habilidades foram reconhecidas como preciosas para aquele momento, e nem mesmo a contestação do pai fez com que ela desistisse e retornasse para casa.

O comando [do batalhão] percebeu o quanto ela iria ajudar na trajetória de lutas, ela bateu o pé e não voltou com o seu pai.

O pai não conseguiu resgatar a filha, mas o episódio serviu para revelar seu gênero. E não só Maria Quitéria foi acolhida pelos seus superiores como conquistou o direito de seguir lutando devidamente identificada como mulher, sem precisar mais se vestir e se comportar como homem.

Depois de consolidada a Independência, Maria Quitéria teve sua trajetória valorizada institucionalmente. Seu nome se tornou mais popular do que de outras mulheres que lutaram, primeiramente por ter sido reconhecida pelo próprio Dom Pedro I.

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