Obras de engenharia, como pontes, viadutos, edifícios sem
manutenção preventiva podem ser bombas de efeito retardado

Eng. Leonardo Medina*

Na última quinta-feira, dia 15 de novembro, foi possível ver mais uma tragédia, pré-anunciada. Um dos acessos mais importantes da cidade de São Paulo, o viaduto da Marginal Pinheiros, segunda via expressa mais importante, parte dele, entra em colapso estrutural. Sem vítimas fatais! Mais um exemplo da cultura nacional impregnada com o descaso da manutenção.

Uma árvore cresce na lateral do elevado da avenida Hermes Fontes com Francisco Porto

Entra governo e sai governo e o desprezo é o único protagonista que permanece forte e impávido, sob as vestes da ausência da prevenção, da manutenção. Nesta situação, a sociedade se beneficiou com a sorte, pois, os governantes, por coincidência, sempre são pegos de surpresa e tentam a todo custo imputar a responsabilidade ao “ACASO”, à aleatoriedade objetiva. Entidade esta, desprovida da possibilidade do contraditório.

Então, vamos tentar ajudar o requerido, o “ACASO”, a se defender. A maioria das pontes e viadutos no Brasil foram construídas durante as décadas de 1960 e 1970 e, atualmente, boa parte delas necessita de obras de reparo e recuperação uma vez que o volume de veículos que transita pelas obras de arte cresceu muito.

A Associação Brasileira de Normas Técnicas publicou, no dia 8 de abril de 2016, a terceira atualização da norma ABNT NBR 9452 – Vistorias de pontes e viadutos de concreto – Procedimento, que revisa as atualizações anteriores, sendo a elaboração inicial de 1986. Ou seja, norma vigente há 32 anos! Esta norma padroniza, facilita a identificação e avaliação do estado de conservação das obras de arte especiais, por meio de parâmetros de classificação do estado de conservação quanto à gravidade dos problemas observados.

Uma das principais normas técnicas que retrata projeto de estruturas de concreto e procedimentos, a ABNT NBR 6118:2014, é extremamente enfática quanto à necessidade absoluta de manutenção para a durabilidade das estruturas de concreto armado, incluindo as juntas de dilatação e os aparelhos de apoio de pontes e viadutos.

Afastamento visível entre a estrutura de concreto e a coluna de sustentação

Ressaltamos que as normas da ABNT, a partir de 1990, através da criação do Código de Defesa do Consumidor, são observadas pela justiça como força de lei. Não obstante, O DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, também trata desse assunto através de suas instruções técnicas. Na tarefa final e árdua de defender o” ACASO”, perguntamos: Diante do arcabouço de informações técnicas e leis existentes no Brasil, tais fatos não seriam suficientes para dar o devido respaldo preventivo às estruturas e à sociedade? Ainda teríamos fragilidade técnica? Ou, ainda assim, o “ ACASO”, seria o culpado? Só existe uma única resposta para tudo isso! Só depende dos nossos governantes agirem! Eles só precisam tomar o CHA! O CHA (do Conhecimento – da Habilidade – da Atitude).

Caso contrário, o “ACASO” será sempre o protagonista, será sempre o réu, matando e mutilando a sociedade. Fica aqui o recado à prefeitura de nossa cidade e dos demais municípios do nosso estado: Não deixem de olhar para as suas pontes e viadutos, talvez eles já estejam agonizando e só esperando o “ACASO” chegar!

*Prof. Universitário, Especialista em Engenharia Condominial, Patologia e Diagnóstico das Construções e de Estruturas de Concreto, Perícias de Engenharia e Ensaios não destrutivos em edificações.

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