O empresário afirma que a contratação do consórcio para
construir o Hospital do câncer era uma “morte anunciada”

 

Por Julia Freitas

 

Dono da Construtora Celi e presidente da Associação Sergipana de Obras Públicas e Privadas (ASEOPP), Luciano Barreto é um homem público detentor das maiores forças políticas e econômicas do estado, mesmo não sendo filiado a nenhum partido. Em entrevista exclusiva ao CINFORM, o empresário recebeu a repórter Júlia Freitas na sede da Celi, no bairro Industrial, falou sobre sucessão estadual e fez um balanço das atividades no setor da construção civil em 2017. Luciano criticou a burocracia no Tribunal de Contas da União e Controladoria Geral da União, afirmando que esses órgãos deveriam atualizar seus procedimentos para garantir um preço justo e a conclusão das obras públicas, como a do Hospital do Câncer de Sergipe.

Sobre política, Luciano Barreto fez questão de indicar qual o seu candidato na sucessão estadual de Sergipe. Nas últimas três eleições para governo quem recebeu o apoio do empresário acabou sendo eleito. Barreto antecipou sua definição para a escolha do candidato a governador e declarou apoio ao líder do Governo no Congresso, deputado federal André Moura (PSC). Luciano aguarda apenas que André defina em janeiro, que será o candidato à sucessão de Jackson Barreto, pela oposição, nas próximas eleições. Durante a entrevista, Luciano Barreto comentou ainda como foi o ano de 2017 para a economia e quais os desafios enfrentados pelo setor da construção civil.

 

Como o senhor vê os nomes postos como possíveis candidatos a governador de Sergipe nas próximas eleições?

Acho que os nomes que estão postos são bons. O deputado federal André Moura (PSC) é um nome importante pelo seu prestígio e seu esforço em Brasília, e nós sabemos o quanto Sergipe depende da capital federal. Tem o Belivaldo Chagas (PMDB) que tem demonstrado, em todos os cargos que ocupou, ser um excelente gestor. Mendonça Prado (DEM), Dr. Emerson (REDE). Acho que é importante que haja uma renovação. É importante que essas pessoas que tem uma experiência política disputem ao governo oferecendo aos eleitores o poder da escolha.

Apesar de não ser filiado a um partido político, o senhor sempre declara apoio a um candidato ou partido político. O senhor já definiu quem irá apoiar nas próximas eleições?

Caso o deputado André Moura seja candidato a governador, ele terá o meu apoio. Quanto aos demais cargos eletivos nós definimos que vamos apoiar  o candidato do Partido Progressista para deputado federal, mas as definições do quadro político irão ocorrer até o prazo final para mudança de partidos. Um nome que seja viável para a Câmara dos Deputados, junto com Venâncio Fonseca (PP), que será nosso candidato a deputado estadual.

Falando em renovação, o seu neto, Wagner Junior, se filiou ao Partido Progressista (PP) no último ano. Ele deve concorrer a algum cargo?

Tudo indica que ele não saia candidato porque as regras estabelecidas pela reforma eleitoral trazem um benefício muito grande àqueles que já são políticos. Então é muito difícil que haja uma renovação no Congresso.

Em julho deste ano, muitos especialistas diziam que o estoque imobiliário nas metrópoles brasileiras era de aproximadamente 80%. O que explica esse grande estoque e como foi o cenário da construção civil em Sergipe neste ano de 2017?

O mercado imobiliário sergipano, assim como o resto do país, sofre as consequências da crise brasileira. Mas com a redução dos juros, o aumento na taxa de emprego e com a baixa da inflação, o mercado está sentindo, nesses últimos meses, uma retomada da venda de imóveis e isso possibilita uma redução dos estoques.

Quais as perspectivas para o setor no próximo ano?

Nós estamos esperançosos que a recuperação da economia continue e que haja uma recuperação dos preços até o segundo trimestre. Com a diminuição desses estoques, a tendência é os preços voltarem ao patamar que estavam antes da crise e, a retomada do mercado consumidor, possibilita o lançamento de novos empreendimentos. Isso é muito importante para a economia, uma vez que a construção civil é o instrumento mais forte e ágil no combate ao desemprego.

Como o senhor vê a Operação Lava Jato que está investigando, dentre outras coisas, uma série de empreendimentos construídos com recursos públicos, com uma série de irregularidades comprovadas?

O problema da obra pública no Brasil é o excesso de normas, controles que custam caro e terminam não controlando nada. Um exemplo disso são os grandes projetos que estão sendo investigados pela operação Lava Jato. O que a construção civil precisa, e nós da Associação Sergipana de Obras Públicas e Privadas temos levantado o debate, é – sem perder o foco do controle – estabelecer uma política e que as obras possam ser feitas por um preço justo, que sejam entregues no prazo e que a sociedade seja atendida. E isso não está acontecendo no Brasil. Esse modelo de controle através do TCU e da CGU não controlam as grandes obras e, ao mesmo tempo, foram extremamente rigorosas e ineficientes com as pequenas e médias obras. A consequência disso é a quantidade de obras paradas.

E como é feito hoje?

Hoje, quem define os preços não são as empresas, mas sim os órgãos controladores. Nós temos tudo tabelado pelos órgãos de controle federais, levando em conta fatores e cálculos que não estão de acordo com a realidade. Então os preços ficam inviáveis. Esses órgãos de regulamentação têm que levar em consideração que inovações precisam ser feitas. A engenharia civil brasileira está destruída. É proibido inovar, é proibido melhorar a qualidade.

O que precisaria ser feito para que tanto as empresas quanto as administrações públicas e a sociedade se beneficiem de fato com as obras públicas e que não vejamos mais obras paralisadas?

A lei precisa ser mudada e os órgãos de controle federais precisam atualizar os seus procedimentos porque nesses dez anos muitos custos foram incorporados. Esses órgãos são importantíssimos, mas é preciso que eles tenham uma visão de que mais importante do que estabelecer tabelas e regras, tem-se que buscar um preço que seja justo e que permita que a obra seja feita dentro do prazo e com qualidade. Nós da ASSEOP entendemos que esses órgãos devem funcionar permanentemente como uma espécie de árbitro entre o contratado e o contratante para que a obra seja concluída e que a empresa seja punida se não concluir a obra.

Uma das principais obras que está paralisada no nosso estado é a do Hospital do Câncer. O que está inviabilizando a construção?

Essa obra nunca deveria ter sido contratada por um consórcio. Embora ele tenha atendido o edital e o Estado seria obrigado a contratá-lo, foi uma morte anunciada. Se tivessem ido procurar saber quem formava o consórcio, teriam visto que ele não teria condições financeiras de arcar com as responsabilidades de uma obra daquele porte. Principalmente pelo preço proposto. Enquanto isso, Sergipe manda pacientes para Arapiraca (AL), Salvador (BA), Maceió (AL) ou São Paulo… Quanto custa isso? Alguém já parou para fazer essa conta? O que se pretendia economizar na obra do Hospital está sendo gasto para dar atendimento a essas pessoas longe de suas famílias.

Por que a crise na construção civil afeta tanto a população brasileira e a economia?

Primeiro, as obras públicas são necessárias para a sociedade. Elas têm um caráter social estratégico muito importante. Em segundo lugar, tem o incentivo à economia. Obra gera desenvolvimento, que gera receita para o estado e para os municípios, além de gerar empregos. É muito grave quando o desemprego na construção civil é muito alto porque é um setor que trabalha com pessoas menos qualificadas e que, quando perdem seus postos de trabalho, tem dificuldade de obter um emprego em outro tipo de atividade.

 

 

 

 

 

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