O mês de julho é dedicado à prevenção do câncer de cabeça e pescoço, conhecido como Julho Verde. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), é o segundo tipo mais comum entre os homens, atrás apenas do câncer de próstata e o quinto mais frequente nas mulheres, atrás do câncer de mama, tireóide, cólon e reto. O objetivo da campanha é alertar a população sobre as principais causas, os sinais e sintomas, formas de tratamento e reabilitação, bem como os cuidados com a saúde para prevenir esse tipo de câncer.

O câncer de cabeça e pescoço compreende todos os tumores malignos que se desenvolvem na região de boca e garganta: lábios, língua, bochechas, maxila, mandíbula, assoalho da boca (localizado abaixo da língua), palato duro (céu da boca), palato mole, amígdalas, glândulas salivares (parótida, submandibulares e sublinguais) faringe (nasofaringe, orofaringe e hipofaringe), tireóide e laringe.

De acordo com a fonoaudióloga especialista em Oncologia e coordenadora voluntária do Grupo de Acolhimento ao Laringectomizado Total (GAL/SE), Margareth Souza Andrade, parte dos tumores de cabeça e pescoço se desenvolve de maneira silenciosa. “A apresentação de alguns sinais ocorre somente em estágio avançado que necessitam de tratamentos extensos, alguns mutiladores, o indivíduo pode ter com sequelas importantes e apresentar limitações para comer, falar, ouvir e respirar, além de deformidades estéticas e o impacto financeiro, com redução na qualidade de vida do paciente e sua família”, disse

Margareth Andrade, fonoaudióloga

Fatores de risco

O tabagismo e alcoolismo são os principais fatores que podem levar ao surgimento desses tipos de tumores. Mais recentemente o HPV tem sido apontado como outro fator causador do câncer de cabeça e pescoço; além da má higiene oral e contato frequente com produtos químicos e industriais. As neoplasias que acometem a região da laringe correspondem a 25% dos tumores de cabeça e pescoço, dois terços surgem frequentemente nas pregas vocais (conhecidas popularmente por cordas vocais) e um terço acometem a região da laringe acima dessas pregas. A depender da extensão do tumor, o indivíduo pode ser submetido a laringectomia total.

Segundo a especialista, nessa forma de tratamento, ocorre a separação das vias respiratórias superior e inferior, que impede a produção natural da voz e o indivíduo passa a respirar por um orifício definitivo na região da garganta, o traqueostoma.  “Em razão disso, o paciente tosse e expectora secreção com frequência, pela falta dos processos de filtração, umidificação/aquecimento do ar, antes realizados pelo nariz. Além de estar sujeito a infecções bacterianas e virais pela exposição direta da traqueia ao meio externo”, comenta Margareth Andrade.

Além do impacto na função pulmonar e ter sua estética alterada pela presença do orifício no pescoço, a laringectomia total traz outro dano irreversível: a perda da voz laríngea, que prejudica a comunicação oral e consequentemente as manifestações de desejos, sentimentos, as características individuais biológicas, emocionais e socioeducacionais que implica em dificuldades de integração do indivíduo com a sociedade.

Diagnóstico

O aposentado José Elias Dias, de 56 anos, roncava bastante e tossia com frequência. Segundo sua esposa, Maria Aparecida da Silva Dias, eles procuraram um médico que tratou como uma gripe ou inflamação de garganta e passou medicamentos para aliviar os sintomas, porém não surtiu efeito algum. Foi quando o casal decidiu buscar um médico especialista que realizou exames e apontou a necessidade de fazer uma traqueostomia já que ele não respirava direito.

José Elias: “superei com a força de Deus e da minha família”

“Ele roncava muito e tinha muita crise, principalmente à noite. Como ele fumava bastante então isso só aumentava. Após a traqueostomia, fizemos uma biópsia e foi detectado o câncer. Foi um dos piores momentos para nós da família. Foi um baque muito grande, muito doloroso. Mas não paramos por aí. Corremos atrás de um médico cirurgião de cabeça e pescoço que indicou alguns os exames e em seguida foi detectada a necessidade de uma laringectomia total”, disse Maria Aparecida.

Impacto emocional

“Quando eu recebi o resultado do câncer foi como se o chão tivesse sumido dos meus pés. Fiquei muito mal, tentei ser forte por conta da minha esposa que já não estava nada bem, quando o cirurgião falou que a cirurgia seria muito delicada e que teria que fazer um esvaziamento cervical e que eu não poderia mais falar foi um golpe maior ainda, mas superei com a força de Deus e da minha família”, disse o aposentado José Elias Dias de 56 anos.

Após a cirurgia, José Elias passou por 30 sessões de radioterapia e três de quimioterapia, etapas muito dolorosas, mas com ajuda da família, nutricionista e fonoaudióloga, ele conseguiu superar. “Hoje estou vivendo com sequelas, o câncer é um grande mal que pode ser evitado. Eu venci e estou vivendo muito bem, peço a todos que não façam como eu fiz, evitem o tabagismo e o álcool, é por consequência desses vícios que hoje estou sem voz, digam não ao tabagismo e outros vícios que levam ao câncer de laringe”, apelou.

Prevenção

Segundo a fonoaudióloga Margareth Andrade é importante buscar imediatamente um médico ao detectar alguns sinais. “A campanha ressalva a importância de procurar um médico especializado na presença de alguns sinais como rouquidão persistente por mais de 15 dias, nódulos ou massa no pescoço, edema (inchaço), dor, halitose, dificuldade para engolir e sensação de falta de ar. Além de reforçar a atenção para a presença de feridas que não cicatrizam e manchas avermelhadas na boca. A procura precoce por tratamento permite redução de seqüelas e aumento da sobrevida do paciente”, alertou.