Secretário adjunto da Saúde diz que não há
como dar atendimento decente com a superlotação

Depósito de seres humanos doentes morrendo à míngua. Essa é a definição correta para o Hospital de Urgência de Sergipe – HUSE, que atende diariamente 800 pessoas. As macas empilhadas, quase umas por cima das outras. Nos corredores do hospital se acumulam dezenas de macas colocadas lado a lado. revelando um drama macabro resultante do descaso do governo do Estado com o maior hospital geral de Sergipe, que excede hoje em lotação mais de 200% de sua capacidade. Entre os pacientes, o clima é de desolação e desesperança. Reclamam do abandono por parte dos médicos e afirmam que eles sequer cumprem escalas, quando passam até três dias sem aparecer para acompanhar os internos.

A via crucis dos doentes que se valem do HUSE deixa profundas marcas em suas vidas. Para agravar a situação, semana passada o Hospital Cirurgia ao estabelecimento 21 pacientes de hemodiálise. A superlotação, principalmente na ala azul, que comporta 50 enfermos e hoje está com 150, conta com apenas cinco médicos plantonistas.

O Secretário adjunto de Estado da Saúde, Eduardo Prado, apesar de reconhecer a superlotação, não vê motivo para a construção de um novo hospital geral. “As unidades municipais é que precisam funcionar. E não tem como dar um atendimento decente com superlotação. O povo tem que entender isso”, afirma.

Na ala azul, gritos e muito choro mostram que a dor não é respeitada. Maria dos Anjos sofreu um acidente vascular cerebral. Está muito debilitada, mas tudo que conseguiu no HUSE foi ocupar uma cadeira de plástico, onde sofre e passa horas com a mesma fralda geriátrica suja, ou nua. Do hospital, recebeu apenas um lençol. A filha dela, Maria Selma dos Anjos, conta que a mãe passou horas sem trocar a fralda encharcada de urina e fezes. “Nós fomos até o posto médico que fica aqui na ala e pedimos uma fralda. Não temos como comprar no momento. Só faltaram nos bater. Não quiseram liberar. Minha mãe chorou e eu chorei por sofrer tanta humilhação”, relatou.

NO INFERNO

O neto de Maria, Natanael dos Anjos, disse que as equipes de enfermagem agem com muita grosseria diante da dor alheia e que os médicos passam mais de três dias sem aparecer. “Ficamos esperando por horas e ninguém ajuda. A dor da nossa mãe é grande. Há pessoas que desmaiam no chão e não recebem ajuda do pessoal do hospital. É triste. Somos tratados como lixo”, desabafa o rapaz.

Francisleide Paula Oliveira tem câncer. Em desespero, a mulher, que deveria receber na oncologia todos os cuidados necessários, vaga pelos corredores à espera de um médico e de um exame que só pode ser realizado na unidade de urgência. Quase desistindo da vida, ela vai vagando pelos corredores das alas de urgência, quando deveria estar na Oncologia. Além do câncer, ela afirma enfrentar uma superbactéria e a hipertensão arterial. Viu dois dias se completarem no hospital enquanto esperava a realização de um exame. Em pé ou no chão, horas a fio, apesar de o médico ter lhe indicado que ficasse numa cadeira. Ela acredita que vai morrer.

Da mesma forma, de olhos caídos e alegando profunda dor, Maria José Silva, outra paciente com câncer, está depositada em uma cadeira de rodas no hospital há três dias, esperando um outro exame: “Vou morrer aqui esperando esse exame. A sonda já está diferente, as vezes entope, ninguém ajuda. Se chamo a enfermagem, sou xingada e escuto muitas reclamações. Aqui é o inferno em vida”, afirma.

Maria José Silva, paciente oncológica

Assim como ela, Maria José Silva, também paciente oncológica, está jogada em uma cadeira de rodas há alguns dias. A reportagem do CINFORM a encontrou quase desmaiada e sem forças para falar. Mal conseguia abrir os olhos e seu corpo já pendia na cadeira.

Vomitando sangue, Socorro da Silva Chaves despencava de uma cadeira na presença de várias pessoas. A mulher gritava por ajuda na última segunda-feira. Sua filha, Aparecida da Silva, aos prantos, relatou que os maus tratos aos pacientes é absurdo.

 SEM ATENDIMENTO DECENTE

O Secretário Adjunto da saúde Eduardo Prado, defende-se: “Temos uma superlotação crônica e ainda recebemos pessoas com problemas de unha encravada porque as redes básicas não funcionam”. Para ele, as denúncias de maus tratos são infundadas, já que não haveria reclamação oficial dirigida à superintendência.

Ele diz ainda existirem 92 pacientes no hospital para procedimentos cirúrgicos que deveriam estar no Cirurgia e não estão, porque o outro hospital não tem capacidade para  prestar o serviço.

“O Huse é a porta de entrada de todas as demandas do estado. Não há realmente como dar um atendimento decente, numa situação dessas. A população tem de entender as dificuldades”, diz Eduardo Prado, citando a ouvidoria como opção para os insatisfeitos reclamarem.

E ainda complementa: “as pessoas alegam estar com determinadas doença mas não mostram os laudos. Se estão com problemas graves, devem provar. Nós levamos alguns pacientes para fazer exames na urgência porque determinados aparelhos ficam disponíveis apenas naquele setor”, declarou.

 

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