Sindicato dos Enfermeiros sustenta denúncias
e diz ter provas que mortalidade é de 40%
Após denúncia do Sindicado dos Enfermeiros de Sergipe, publicada na edição anterior do jornal CINFORM,
de que 40% dos pacientes da ala vermelha do Hospital de Urgências de Sergipe (Huse) estariam morrendo sem assistência médica conveniente, decorrente da superlotação e da falta de infraestrutura adequada naquele
estabelecimento de saúde, a direção do hospital e a Secretaria de Estado da Saúde convocaram uma coletiva de imprensa, na semana passada, para contestar o teor da denúncia e informar que processarão na Justiça a presidente do Sindicato dos Enfermeiros, Shirley Morales, o próprio sindicato de classe, o jornal CINFORM e o jornalista César Gama, a quem acusam de divulgação de informações inverídicas.
A presidência do Sindicato dos Enfermeiros de Sergipe, no entanto, manteve o teor das denúncias que fez
ao CINFORM, garantindo ter as provas relacionadas às estatísticas de mortalidadena ala vermelha do Huse, que liberou ao jornal, além daquelas referentes à falta de infraestrutura adequada, provas que, por questões jurídicas, afirma não poder compartilhar no momento. Apesar de contestarem a estatística do Sindicato dos Enfermeiros, a diretoria do Huse e a Secretaria de Saúde apresentaram as taxas de 12% dos pacientes da ala vermelha morrendo nas primeiras 24 horas de internamento, e de 31% de óbitos depois de 24 horas de internação, naquilo que eles denominam de “morte institucional”, uma taxa de apenas 9% inferior à alegada pela entidade de classe dos enfermeiros. O responsável técnico pela ala vermelha do Hospital de Urgências, o médico cardiologista Renato Mesquita, argumentou que a taxa de mortalidade na ala vermelha decorreria principalmente do grave estado dos pacientes.
“A ala atende um paciente em que o perfil de mortalidade é alto tecnicamente falando. São pacientes que chegam muito doentes, às vezes com o diagnóstico atrasado. Nós atendemos pacientes que são transferidos do Interior de qualquer jeito, em uma ambulância sem o suporte devido”, ressalta.
Na referida ala, a internação do paciente deveria durar apenas algumas horas, até que o enfermo consiga uma vaga para ser transferido para uma UTI. No entanto a internação nesta ala tem durado, segundo a direção do hospital, 3 dias e meio, em média. Renato Mesquita admite a superlotação na ala que, segundo ele, tem atendido em torno de 24 pessoas, sendo que sua capacidade seria de 16 enfermos. Mas alega que, dentro das limitações, a equipe de médicos e enfermeiros consegue oferecer pelo menos o mínimo necessário ao tratamento dos que estão internados.
Ainda segundo o médico, a taxa de mortalidade por infecção hospitalar generalizada naquela ala tem sido de
30 a 40%, justificando que a média nacional estaria em 60%. A reportagem do CINFORM visitou a ala vermelha do Huse na tarde do dia 7, quando 21 pacientes estavam internados no local. O gerente da ala, o enfermeiro Luciano Lopes, informou que não há limite para os pacientes que são aceitos, gerando grande sobrecarga. Atualmente a ala crítica do hospital possui um maior número de profissionais que o recomendado, mas, para o gerente, esse número ainda não é suficiente em decorrência da grande demanda.
Luciano confirma a informação do Sindicato dos Enfermeiros de Sergipe, divulgada na edição anterior do CINFORM, de que frascos de aspiração de secreções estão sendo compartilhados entre os pacientes, mas argumenta que a Competência em Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) recomenda tal procedimento em condições de urgência, já que oferece um risco mínimo de contaminação aos pacientes. O gerente da ala vermelha informou ainda que apenas os frascos de aspiração têm sido divididos,
mas que os tubos que complementam o sistema são individuais, não podendo ser reutilizados, afirmando ainda que há uma quantidade suficiente para os enfermos.
“Não tem frasco para todo mundo. São 16 leitos com 16 frascos. O problema é que a gente tem uma média maior de vinte pacientes por dia, então é preciso dividir o frasco, procedimento que não oferece risco”, afirma.
SINDICATO RATIFICA DENÚNCIA
A presidente do Sindicato dos Enfermeiros do Estado de Sergipe, a enfermeira Shirley Morales, após ser informada que a Secretaria de Estado da Saúde a processaria e ao sindicato por conta da divulgação de estatísticas que seriam irreais no entendimento da diretoria do Huse, manteve o teor da denúncia que fez na semana passada ao CINFORM e acrescentou que tem provas das denúncias, que, no entanto, não podem ser divulgadas publicamente agora por questões jurídicas.
“As provas estão conosco e serão liberadas à Justiça. O importante é que a pressão que nós fazemos acaba surtindo efeito. Segundo me informaram, depois de todas as denúncias que fizemos, finalmente a situação
da ala vermelha melhorou”, revelou.
De acordo com informações do superintendente do hospital, Luís Eduardo Prado Correia, reformas estão sendo feitas no pronto socorro e na ala vermelha com o objetivo de aumentar o número de leitos. Na ala vermelha serão criados seis leitos, sendo dois deles de isolamento de contato, hoje inexistentes.
DEMORA NAS CIRURGIAS
Luís Eduardo Prado, que também é secretário adjunto da Secretaria do Estado da Saúde, esclarece que algumas cirurgias só podem ser feitas no Hospital de Cirurgia e que, com o fechamento daquela unidade devido à polêmica relacionada a dívidas e liberação de verbas por parte da Prefeitura de Aracaju, o Hospital de Urgência precisa
manter alguns pacientes internados até que sejam transferidos.
“Nós temos 105 pacientes que não deveriam estar internados no Huse. De acordo com o quadro clínico deles, deveriam ser operados no Hospital de Cirurgia, que é o hospital habilitado para realizar os procedimentos”, acrescentou.
No dia em que o superintendente do hospital conversou com a reportagem do CINFORM, 105 pacientes aguardavam
transferências, mas ao longo da semana foi anunciada a transferência de 55 deles para o Hospital Cirurgia. Entre os pacientes transferidos, 24 deles precisavam de cirurgia ortopédica, sete de cirurgia vascular, cinco de neurocirurgias,
nove precisavam de cirurgias cardíacas e outros dez de cirurgia geral.