Depois de uma semana de pancada pós-Sudbrack, hora de entender a importância da Vigilância em nossa segurança alimentar
Centenas de chefs Brasil a fora repercutiram a apreensão – e descarte – dos queijos e linguiças de produtores artesanais com quem a chef Roberta Sudbrack tem relação. A apreensão foi feita no estande da chef instalado no Rock in Rio, no dia 16 último. O órgão, subordinado a Prefeitura, alegou que os produtos não possuíam registro pra comercialização no Rio, o tal selo SIF, que abrevia Serviço de Inspeção Federal.
Roberta fechou o estande, botou uma placa na porta escrita à próprio punho e foi pra rede social desabafar.
Nos comentários que viriam a seguir, e em outros tantos dos outros chefs, se pedia a revisão das leis sanitárias, se alegava corrupção dos agentes que estavam atrás de grana para ‘afrouxar’, falaram da Operação Carne é Fraca para justificar isso, falaram do fim do desenho do pica-pau no SBT, e falaram e falaram. Só não ouviram.
A gente trouxe o debate para Aracaju, e foi ouvir quem mais tomou pancada esse tempo todo: a Vigilância Sanitária.
“A vigilância fez o papel dela no Rock In Rio. Se não tem selo, como a vigilância vai saber que o alimento tem segurança?” questiona Graça Barros, coordenadora da Vigilância Sanitária de Aracaju.
O selo identifica que a empresa cumpriu todos os requisitos, da embalagem à rotulagem, e são sujeitos a inspeção da Anvisa. Se ele chegou dessa forma, a Vigilância – teoricamente – teria uma preocupação a menos. “Fiscalizamos, promovemos cursos, orientamos. A gente está sempre à disposição”, informa Graça.
Pense com a gente agora. Imagine um Garota Vip com Safadão. Um evento com mais de 15 mil pessoas, se apenas 100 consumissem um produto sem garantia e tivessem uma intoxicação o risco à saúde pública seria alto. Teríamos cem ambulâncias do Samu? Cem leitos de hospital disponíveis?
O QUE FAZER?
“A segurança pra população é não comprar. Não dá pra (Vigilância) acompanhar tudo o tempo todo. Porque se compra carne na feira? Não deveria comprar. Ela tá ali em temperatura ambiente, exposta… quem compra tem que saber que está correndo o risco. Porque vc sabe que o produto não tem garantia e compra?”. Preocupada com esses alimentos vendidos na feira, Graça ainda dispara “eu sou radical, se depender de mim eu tiro todas as carnes e peixes dali e eu tenho certeza que eles vão arrumar como comprar sua refrigeração”. É bom a turma se preparar. Vem chumbo aí.
E O PEQUENO PRODUTOR?
Segundo Juliano Pereira, da gerência de produtos animais da Vigilância Sanitária, existem regras para o pequeno produtor, mas na maioria das vezes eles não querem ter investimento nenhum. Existem instalações que se adequam a produções de pequeno porte. “Ele precisa conhecer as normas e adequações da escala menor, só que ninguém quer fazer”.
“Tem quem goste do queijo de fulano mas não sabe se aquele leite foi tirado de uma vaca tuberculosa. Não é só uma vigilância sanitária. Será que houve uma sanidade daquele animal? Não é só um selo. O cuidado começa lá atrás no uso de antibiótico, no manejo do animal. A cidade de origem precisa incentivar esse enquadramento. Não há esse debate. Ninguém tá preocupado. A cidade de origem precisa incentivar esse enquadramento. Não há esse debate. Ninguém tá preocupado”. Juliano Pereira
ALÉM DO ROCK IN RIO
Aproveitando a visita, nada melhor que curiar. Procuramos saber se uma cozinha – o que se produz nela – poderia matar alguém, e Juliano foi enfático: “a melhor cozinha do mundo, a mais limpa, se chegar um funcionário com um problema de saúde e se for transmissível pro alimento, a pessoa que consome corre o risco”.
E ANTES DE IR…
Perguntamos a eles o que um profissional que trabalha na Vigilância Sanitária não come, ou evita comer, fora de casa?
Graça Barros, a coordenadora, não come comida japonesa. Tampouco usa gelo.
Juliano tem uma lista maior: marisco, maionese, queijo, torta salgada e doce, e salada.
Silvia, arquiteta que avalia projetos de bares e restaurantes, e que nos recebeu tão bem dá mais um ponto negativo pro japa: “Sushi tem que sair da refrigeração, manipular e servir. Não pode ficar exposto”.
Os alimentos apreendidos pela vigilância são destinados ao zoológico do Parque da Cidade. Não que o leão vá comer bacon, a partir dali, a decisão é do veterinário responsável.
Pra denunciar, alguma irregularidade observada, ligue 156. Ajude na segurança alimentar do nosso Estado. E vamos seguir com a discussão, que é boa toda desde que refrigerada e etiquetada, ninguém sofrerá.