Ala cardio cirúrgica do Hospital de Cirurgia
foi fechada por falta de materiais
Em um país como o Brasil, em que milhões de pessoas sofrem com doenças cardíacas, ouvir o relato de que alguém próximo infartou não é raro. No entanto, nesta semana, a equipe do CINFORM foi surpreendida com a informação de que um homem estava internado há mais de um mês no Hospital Regional Governador João Alves Filho, em Nossa Senhora da Glória, devido a um infarto, e que até esta semana ele não havia passado por um cardiologista.
José Mauricelio dos Santos Matos, de 46 anos, sentiu-se mal no dia 8 de abril e, depois de passar pela Clínica da Família em Nossa Senhora das Dores, foi internado no Hospital Regional de Nossa Senhora da Glória, distante 126 quilômetros da capital. Segundo sua esposa, Rosany da Silva, durante os mais de 45 dias em que esteve internado no hospital, os únicos exames que ele fazia era um ecocardiograma diário e exames de sangue.
Indignada com a situação, a família de José Mauricelio precisou recorrer à Justiça para conseguir sua transferência para o Hospital de Cirurgia, em Aracaju – único hospital público referência em cardiologia no estado. Na última quinta-feira (24), a juíza Andrea Caldas de Souza Lisa concedeu um alvará judicial determinando a transferência do paciente para a UTI do hospital de Aracaju.
HOSPITAL DE CIRURGIA
Único hospital público referência em cardiologia para os pacientes sergipanos, o Hospital de Cirurgia enfrenta inúmeros problemas que prejudicam e até mesmo impedem o atendimento aos pacientes. A ala cardio cirúrgica do Hospital de Cirurgia não pode mais receber pacientes porque a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) foi fechada.
Segundo o presidente da Cooperativa de Cardiologistas do Estado de Sergipe, Dr. Endrigo Rodrigues, a ala está com o quadro de funcionários reduzido devido ao atraso no pagamento de cinco meses de salário, além da falta de materiais e remédios básicos, como antibióticos.
“Nós estamos com o quadro muito reduzido de funcionários por conta do atraso no pagamento. Além disso, está faltando alguns materiais que são necessários para o tratamento dos pacientes. A direção do hospital falou que os materiais foram comprados, mas que ainda não fecharam devido à greve de caminhoneiros”, comenta.
Ainda segundo Endrigo Rodrigues, os médicos plantonistas contratados pelo Hospital de Cirurgia só conseguem cobrir 81 das 168 horas necessárias para completar toda a escala médica da ala, que antes operava, em média, nove pessoas semanalmente. Com o fechamento da ala e da UTI, a fila de pacientes que aguardam atendimento já supera o número de 250, alguns deles esperando em casa ou nos hospitais regionais.
“O local de espera dos pacientes vai depender do quadro clínico. Alguns pacientes têm um tratamento que pode ser feito de forma ambulatorial, através de consultório, então eles são encaminhados para casa. Já os pacientes mais graves ficam internados nesses hospitais de base, geralmente eles vão para o Huse e de lá eles vão para o Cirurgia”, comenta.
Esse grande número de pacientes na fila esperando por uma vaga no Hospital de Cirurgia se dá, principalmente, pelo fato de que ele é o único hospital referência em cardiologia do estado.
Segundo a própria Secretaria de Estado da Saúde (SES), responsável pelo hospital onde José Mauricelio estava internado, o Hospital Regional de Nossa Senhora da Glória não possui um médico cardiologista porque, quando a rede de saúde foi discutida e implementada no estado, “aquela região, naquele momento, não precisava de um cardiologista”.