Julho Amarelo é uma campanha nacional dedicada à prevenção, conscientização e combate às hepatites virais, doenças silenciosas que podem causar sérios danos ao fígado, incluindo cirrose e câncer. A iniciativa, instituída no Brasil em 2019, reforça a importância do diagnóstico precoce e da vacinação. As hepatites são um grave problema de saúde pública no Brasil e no mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) visa eliminar as hepatites B e C como problema de saúde pública até 2030. No Brasil, mais de 28 mil novos casos foram notificados em 2023, sendo 56,7% de hepatite C e 35,4% de hepatite B.  

Milhões de pessoas no mundo podem estar infectadas sem saber. As hepatites muitas vezes são silenciosas, mas com informação e prevenção é possível evitar complicações graves. A rede de hospitais universitários administrados pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), também engajada no Julho Amarelo, disponibiliza tratamento para as hepatites aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). 

Segundo a gastroenterologista Marcélia Brandelli, do Hospital de Doenças Tropicais da Universidade Federal do Tocantins (HDT-UFT/Ebserh), muitos pacientes são assintomáticos, ou seja, não apresentam nenhuma manifestação da doença, principalmente nas fases iniciais. Já outros podem apresentar sintomas como fadiga, cansaço extremo, febre baixa, dor abdominal – principalmente do lado direito, náuseas e vômitos, perda do apetite, dor muscular e nas articulações, urina escura, fezes claras esbranquiçadas e icterícia (pele e olhos com coloração amarelada). “Esse é um sinal clássico de hepatite. Por isso é importante conhecer e se proteger”, disse a médica. 

Os tipos mais comuns de hepatite no Brasil são A, B e C. A hepatite A é transmitida por água ou alimentos contaminados e é mais comum em regiões com pouco saneamento básico. A hepatite B é a mais perigosa e o contágio acontece por contato com sangue, via relações sexuais desprotegidas e pode passar de mãe para filho durante a gravidez. Já a hepatite C, também transmitida pelo sangue, pode acontecer com o compartilhamento de objetos perfurocortantes como: seringas, agulhas e, até mesmo, alicates de unha sem esterilização adequada. Existem também as hepatites D e E, que são menos comuns no Brasil. 

Vacinação e prevenção 

A prevenção da doença é possível com a vacina contra hepatite A e B, gratuita pelo SUS. A especialista do HDT-UFT/Ebserh, Marcélia Brandelli, reforçou a importância de medidas para evitar a contaminação: uso de preservativo em todas as relações sexuais, nunca compartilhar agulhas, seringas, alicates de unha ou lâminas, assim como qualquer outro objeto perfurocortante. Além disso, deve-se sempre buscar locais limpos e confiáveis para fazer tatuagens, colocar piercings ou serviço de manicure. Outra recomendação é consumir somente água tratada e alimentos bem higienizados. “Essas pequenas atitudes fazem uma grande diferença”, frisou. 

Diagnóstico e tratamento 

“Uma dúvida frequente dos pacientes é: ‘E se eu pegar? Existe tratamento?’ Existe, sim. O paciente com hepatite A costuma se curar sozinho, com repouso e alimentação adequada. A hepatite B pode se tornar crônica, mas dispomos de medicamentos que ajudam a controlar o vírus”, explicou Marcélia. Ela acrescentou que, atualmente, a hepatite C tem cura em mais de 95% dos casos, com medicações modernas disponíveis no SUS. 

“O segredo é diagnosticar cedo. O teste de hepatite é rápido, gratuito e está disponível nas unidades básicas de saúde (UBS). Não espere os sintomas aparecerem, vá e se cuide”, alertou Marcélia. “Cada diagnóstico precoce representa chances reais de cura e a quebra da cadeia de transmissão”, reforça a hepatologista, Leila Tojal, que também coordena a Residência Médica em Hepatologia do Hospital Universitário Professor Alberto Antunes da Universidade Federal de Alagoas (HUPAA-Ufal/Ebserh). 

Complicações da falta de tratamento 

A hepatologista do Ambulatório de Transplantes de fígado do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará (CH-UFC/Ebserh), Elodie Hyppolito, explicou que a hepatite não tratada pode trazer complicações aos pacientes. “70% a 80% das hepatites C e 5% das hepatites B evoluem para hepatite crônica. Dessas, 20% a 30% evoluem para a cirrose. 1% a 4% dos casos de cirrose ao ano evoluem para câncer de fígado”. O HUWC atende pacientes do SUS por meio do Serviço de Cirurgia Digestiva e Transplante de Fígado do HUWC/CH-UFC. 

Segundo Elodie Hyppolito, a testagem de hepatites virais é uma atribuição da atenção básica de saúde. No HUWC/CH-UFC, é feita a testagem ambulatorial e hospitalar dos casos suspeitos referidos para atendimento, como cirroses, hepatites, quadros de icterícia (olhos amarelados).  

Serviço de referência 

O HUPAA-Ufal/Ebserh, por meio da Unidade de Doenças Infecciosas e Parasitárias (UDIP), é referência estadual para o tratamento da doença. Há 27 anos, o Hospital mantém-se na linha de frente contra as hepatites virais em Alagoas. São seis ambulatórios especializados, onde três médicas hepatologistas (Leila Tojal, Andréa Agra e Aryana Isabelle Siqueira) acompanham pacientes com hepatites virais agudas, crônicas e cirrose. “O fluxo começa, muitas vezes, no Centro de Testagem Anônima (CTA), que oferece exames rápidos para hepatites B e C, HIV e sífilis de segunda a sexta-feira, com aconselhamento e encaminhamento imediato para vacinação contra hepatites A e B”, disse Leila. 

Além do atendimento médico, a UDIP/HUPAA-Ufal oferece cuidado integral por meio de ambulatórios de Nutrição, Odontologia especializada para portadores de doenças hepáticas, além do suporte de Psicologia e Serviço Social, garantindo seguimento multidisciplinar e gratuito pelo SUS. Segundo Leila, para acelerar a detecção e atingir a meta da OMS, o HUPAA-Ufal, por meio da UDIP, também participa de mutirões de atendimentos no Julho Amarelo. 

José Antônio Melo Filho foi um dos pacientes atendidos no HUPAA-Ufal. Além da hepatite, ele apresentava esteatose hepática (gordura no fígado). “Por sorte, não peguei uma cirrose hepática! Entre injeções e comprimidos, foram cerca de um a dois anos fazendo o tratamento. Hoje eu me encontro curado! Faço revisão com a doutora Leila Tojal e estou bem. Já fiquei curado, tanto da hepatite como da gordura do fígado. Estou muito bem de saúde”, relatou José Antônio. 

Transplante de fígado 

O transplante de fígado é indicado quando o órgão perde sua função de forma grave e irreversível. As causas mais comuns incluem cirrose avançada (por hepatites virais, álcool ou gordura no fígado) e hepatites fulminantes. Além disso, o transplante pode ser indicado em casos de câncer de fígado e para algumas outras situações mais raras. Em todos os casos, o objetivo é oferecer uma chance de vida com mais qualidade e sobrevida prolongada. 

Leonardo de Lucca Schiavon, gastroenterologista no Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago, da Universidade Federal de Santa Catarina (HU-UFSC/Ebserh), disse que os principais desafios para o transplante são a espera pelo órgão, que pode demorar devido à escassez de doadores, e o risco de piora da saúde durante esse tempo. Além disso, ele afirmou haver o impacto emocional, o afastamento das atividades do dia a dia e a necessidade de acompanhamento frequente com a equipe médica.  

“Após o transplante, a maioria dos pacientes tem melhora significativa na qualidade de vida, podendo retomar atividades pessoais e profissionais. O doador em vida pode ter uma recuperação plena, com segurança e retorno às atividades normais após algumas semanas, desde que bem avaliado e acompanhado pela equipe”, pontuou o médico.   

Sobre a Ebserh  

Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação. 

Por Rosenato Barreto, com revisão de Andreia Pires 

Coordenadoria de Comunicação Social da Ebserh 

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