Por Bruno Ribeiro

A produção de vacinas para a covid-19 de forma a garantir uma campanha nacional de imunização para toda a população ainda depende da chegada de insumos cuja data exata de entrada no Brasil ainda não está definida. Caso esse material não chegue até o fim deste mês, o cronograma de vacinação poderá ser adiado, segundo disse nesta segunda-feira, 18, o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas.

“Preocupa sim a chegada da matéria-prima. Essa matéria-prima precisa chegar para não parar o processo de produção. E esperamos que isso aconteça muito rapidamente. Porque, se chegar neste mês, nós manteremos o cronograma de entrega de vacinas”, afirmou Covas, durante entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, nesta segunda-feira, 18, convocada pelo governador João Doria (PSDB).

São Paulo fez um ato simbólico neste domingo, 17, vacinado profissionais do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e do Hospital das Clínicas, após a Coronavac receber autorização federal para uso emergencial. Nesta segunda, enviou doses do imunizante para profissionais de saúde do interior do Estado. O cronograma originado de vacinações do governo paulista prevê que idosos acima de 75 anos comecem a ser imunizados a partir de 8 de fevereiro.

O contrato do Butantan com a fabricante chinesa Sinovac previu que o instituto fizesse a terceira fase do estudo clínico da vacina, adquirisse 46 milhões de doses da Coronavac e recebesse a tecnologia para a produção do imunizante. Essas doses, entretanto, devem chegar ao longo do primeiro semestre.

O Butantan tem capacidade para a produção de 1 milhão de doses da vacina por dia, segundo afirma Covas. Mas, para executar essa fabricação, o instituto depende de insumos feitos pela Sinovac e que precisam ser importados. “A capacidade de produção foi atingida, mas precisamos dessa matéria-prima”, afirmou Covas.

Covas não foi claro ao detalhar quantas doses poderão ser feitas com a matéria-prima que aguarda importação. “Mil litros (da matéria-prima) dão origem a um milhão de doses”, disse.

Ele afirmou, entretanto, que a questão ao redor da liberação desses insumos é de ordem burocrática. “Temos um carregamento de matéria-prima pronto lá na China para ser despachado e estamos aguardando autorização do governo chinês para aí sim iniciar a segunda etapa de produção”, afirmou.

O Butantan já iniciou a produção de 4,8 milhões de doses da Coronavac com um lote de matérias-primas que já haviam sido importados por São Paulo. Para que esses imunizantes cheguem até o braço da população, entretanto, é preciso que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emita uma nova autorização para uso emergencial, da mesma forma que o órgão concedeu uma autorização para o uso de 6 milhões de doses prontas que haviam sido importadas ao longo do ano passado e foram liberadas no domingo.

Covas disse ainda acreditar que a autorização para essas primeiras 4,8 milhões de doses podem contribuir para acelerar a liberação da importação dos novos lotes de matéria-prima. “As dificuldades do ponto de vista da autorização, neste momento, são da autorização do governo chinês, que precisa autorizar a exportação da Sinovac desta matéria-prima. A matéria-prima já está produzida, já está disponível na Sinovac desde meados deste mês e aguardamos agora essa autorização que, na minha percepção, após a autorização da Anvisa, facilitará essa decisão do governo (chinês)”, disse.

Compromisso

O contrato do Butantan com o Ministério da Saúde prevê o envio de 46 milhões de doses da Coronavac para o Sistema Único de Saúde (SUS) até o dia 30 de abril, a um custo de R$ 2,6 bilhões. A primeira parcela teria 6 milhões de doses importadas e 2,7 milhões de doses nacionais. A segunda autorização para uso emergencial, cujo pedido à Anvisa foi anunciado por São Paulo nesta segunda-feira, se refere já às doses nacionais.

O acordo prevê que, até o fim de fevereiro, mais 9,3 milhões de doses, aí todas de produção nacional, sejam enviadas ao ministério. Em março, serão 18 milhões. No mês de abril, o Butantan se comprometeu em enviar as 9,9 milhões de doses restantes.

A Coronavac precisa de duas doses para atingir a eficiência observada nos estudos clínicos. O tempo de intervalo entre as doses no estudo conduzido no Brasil, que apontou uma eficiência global de 50,4% (mas que evitou 100% dos casos graves e óbitos), foi de 21 dias entre a primeira e a segunda aplicação. Dimas Covas afirmou que os estudos clínicos realizados em outros países, que tiveram intervalo de 28 dias, apontaram uma taxa de eficácia maior.

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