Se aquilo que se pensa tem força, imagine o que se fala, faz e o que se eterniza com o que se escreve. Uma comunidade de roteiristas, escritores, jornalistas têm um papel relevante quando se trata de levar reflexões, intercâmbio de histórias e contextualizar comparações a público. É importante se perceber como agente de mudanças ao exercer esses ofícios, ou não, de apurar em si, as resistências.
Um dos cartunistas mais enfáticos em suas colocações e jornalista que sempre me provocou um grande despertar é Henfil (Henrique de Souza Filho). “Você faz suas escolhas e suas escolhas fazem você”, foi uma das suas pérolas que jamais esqueci. É a plena responsabilidade pelo protagonismo da própria história. Isso rege a forma até como escrevemos. Em uma nota de jornal li sobre alguém ter falecido ‘vítima’ de AIDS. Ora, vítima é aquele ser que está isento do ato, é passivo ao que lhe ocorre. Não era esta a biografia do personagem, pois sabemos os riscos implícitos quando alguém se relaciona sexualmente sem preservativos. Vítima? Não era.
Algumas doenças também recebem novas nomenclaturas. O ‘Mal’ que acompanhava Alzheimer e o Parkinson está dispensado. Não que se trate de um ‘bem’ ser paciente destas moléstias, mas o termo maléfico cria estigmas que não temos como dimensionar. Familiares e cuidadores das pessoas diagnosticadas como tal, também são pacientes por estarem envolvidas emocionalmente no processo de cuidados, não de cura, porque ainda não existe. Mal? Mau gosto seria continuar casando doença com classificações.
O alemão judeu, Joseph Gleber, conta no livro ‘Medicina da Alma’, como a consciência/inconsciência rege a nossa estadia na Terra. Mais do que um olhar espiritual, o médico e físico testemunha com a sua própria vida. Cientista, ele era uma inteligência necessária para os planos do nazismo. Por isso foi mantido vivo, para que pudesse contribuir com o desenvolvimento do que seria o projeto-piloto de uma bomba atômica. Quando ele se deu conta do que se tratava, começou a atrasar ao máximo as ideias de Hitler. Eis que a liderança nazista deu um prazo fatídico. E o juízo final, aquele que não é dado pelos homens deste globo, mas sim pela consciência, voz de Deus em nós, reverbera. Entregar um projeto de destruição em massa ou render-se junto aos seus filhos e esposa? Adentrar no crematório vivos foi o destino deles, assim como milhares de judeus.
“As escolhas fazem você”, de Henfil, torna-se gigante. Não por sentir-se super-herói(na), mas por fazer as pazes consigo mesmo. Quando precisamos escolher, tomar decisões, é necessário consultar onde reside a nossa paz de consciência. Não por fazer o que os outros desejam, ou o que a sociedade diz ser correto, mas o que dentro do nosso coração soa ser prova evolutiva. Pôncio Pilatos lavou as mãos por não querer desagradar aos gritos de ‘crucifica-o’, comando de um gatilho de inconsciência coletiva há mais de dois mil anos. Assim funcionam os políticos, intencionados por aprovação popular. Quer errar na vida? Busque aprovação externa, aplausos com consequências gravíssimas.
Mais de cem cartas foram encontradas embaixo da cama de Lucy Page Mercer após a sua morte, em 31/07/1948. O remetente era o mesmo: Franklin Delano Roosevelt, seu grande amor desde a época em que ele havia trabalhado na Marinha, antes de ser presidente dos EUA. Em trinta anos mantiveram uma relação secreta entre aquela que havia sido sua secretária e até assessora de relações institucionais pelo teor das correspondências. A matriarca dos Roosevelt, Sara, deu o veredicto: se ele oficializasse um divórcio com Eleanor, ela o excluiria do patrimônio da família, incluindo aí, o arruinamento de sua carreira política.
Anna, escritora e uma das filhas do casal presidencial, era testemunha e a principal incentivadora. A mesma organizava os encontros entre Lucy e Delano, e me questiono aqui se era para obter insumo de obra de romance literário, pois conseguia se desprender completamente do papel de filha de Eleanor também. Foi entre as duas que o mesmo faleceu no último encontro e mesmo que oculta, a escolha havia sido feita. “Ao social o social. Ao amor o amor”, sentenciou o escritor, Arly Cravo.
E assim as escolhas vão desenhando o nosso caminho. Até quando a opção é não decidir, esta também é uma escolha que nos define o caráter. Escolhe-se as palavras, faladas ou escritas, o peso e força que damos a cada vírgula, em cada pausa. Somos os capatazes e anjos de nós mesmos, desde o que sentimos e como agimos. É o roteiro de nossas vidas sendo dia a dia construído por uma narrativa que nos define. Joseph Gleber escolheu não ser o autor da bomba atômica. Lucy poderia ter queimado provas, mas preferiu denunciar aos quatro ventos o amor que durante toda uma vida foi ocultado. Roosevelt selecionou o poder e as inúmeras doenças que o acompanhavam. Anna fazia de tudo, rompia laços maternos, para obter uma grande história. E nós, o que temos feito, escolhido para nós mesmos? Nem Pilatos poderia prever que seu teatro de bom moço mais tarde se tornaria o principal enredo do Cristianismo, com a ressurreição daquilo que nunca morre: a verdade que vive em nós, o estado de pura consciência. Boas escolhas pelo caminho!

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