Dra. Mirene Morais é médica especialista em Medicina Intensiva e Acupuntura pela AMB e Pós-graduada em Medicina de Dor pelo Sírio Libanês/SP. Acervo Pessoal

Nesse bate-papo com a Dra. Mirene Morais (CRM SE 3526) vamos entender quais as indicações terapêuticas para tratamentos diversos de doenças como epilepsia, dor crônica/neuropática, fibromialgia, Parkinson e Alzheimer, dentre outras. A Médica Especialista Em Medicina Intensiva e Acupuntura pela AMB e Pós-graduada em Medicina de Dor pelo Sírio Libanês SP, possui Certificação Internacional em Cannabis Medicina pela WECANN. A cannabis é o gênero da planta a partir da qual se produz a maconha. O preconceito farmacológico é uma realidade, contudo, os pacientes têm obtido evolução em seus quadros a partir da substância que poderá ser disponibilizada em óleos, pomadas, extratos ou medicamentos. Através de um trabalho esclarecedor, Dra. Mirene atua na disseminação de conteúdo médico de relevância e sem preconceito quanto à Cannabis Medicinal em Sergipe pelo instagram @dramirenemorais. Confira a entrevista:

 

Shirley Vidal (SV) – Em quais diagnósticos e tratamentos a cannabis tem apresentado maior eficácia em comparação com a prescrição farmacológica tradicional?

Dra. Mirene Morais (MM):  Os diagnósticos principais para tratamento com fitocanabinoides (cannabis medicinal) são as epilepsias refratárias, com vários estudos importantes na literatura mundial, na dor crônica, em sintomas chave do autismo como agitação e agressividade, no suporte a náuseas ao tratamento do câncer, na ansiedade e insônia. Podemos fazer uso da cannabis para suporte compassivo a doenças refratárias e neurodegenerativas como doença de Parkinson e no Alzheimer para alívio de sofrimento.

 

SV – Há relatos de pacientes que utilizavam rivotril, por exemplo, e substituíram pela cannabis. Quais os prós e contras?

MM: O uso de medicamentos da classe dos benzodiazepínicos como o Rivotril ou da classe dos hipnóticos como o Zolpidem são utilizados com frequência como ansiolíticos e para indução de sono, mas podem causar dependência física e psíquica quando utilizados por tempo prolongado podendo gerar, inclusive, abstinência durante o desmame. A cannabis para fins medicinais pode ser utilizada sob doses controladas e sob supervisão médica como alternativa segura e com baixos efeitos colaterais, sem a ocorrência de dependência como as medicações citadas. O recente caso do ator Selton Melo, que relatou a substituição do Rivotril pela cannabis medicinal, foi amplamente divulgado nas mídias.

 

SV – Pela sua experiência com pacientes em tratamento de dor crônica, como tem sido a evolução no quadro com uso da cannabis?

MM: Minha área de atuação principal é Acupuntura e Medicina de Dor, e na minha experiência, principalmente, recebendo com frequência pacientes com dores refratárias e sob múltiplas medicações sem alívio e com elevado grau de sofrimento, a cannabis tornou-se uma ferramenta muito importante na minha rotina, em conjunto com as medicações tradicionais e com o apoio multidiciplinar tenho conseguido importante melhora da qualidade de vida dos meus pacientes.

 

SV – Ainda há muito preconceito quando se prescreve cannabis?

MM: Os pacientes com doenças crônicas, muitas vezes refratárias e com reduzidas possibilidades terapêuticas tradicionais ou sem cura, estão muito receptivos ao uso da cannabis como suporte, mas, infelizmente, ainda existe preconceitos gerados pela falta de informação sobre essa terapêutica, principalmente, por parte de profissionais de saúde que não conhecem a possibilidade da modulação do nosso sistema endocanabinóide através da cannabis medicinal.

 

SV – Pacientes com histórico de dependência química podem utilizar a cannabis?

MM: pacientes com histórico de dependência química a drogas podem estar aptos a utilizar cannabis medicinal em adjuvante a medicamentos tradicionais com tratamento médico e sob acompanhamento bem próximo e personalizado sobre qual fitocanabinoide será mais ideal para cada caso.

 

SV – Como está sendo o acesso medicamentoso? Há relatos do alto custo para manutenção do tratamento.

MM: O Brasil vem avançando nos últimos 10 anos no acesso a cannabis, mas ainda necessitamos de uma regulamentação plena para que os custos possam ser reduzidos e para que toda a população possa ter acesso mais amplo. Medicamentos já estão nas maiores redes de farmácia, regulados pela Anvisa desde 2017, mas nessas redes o custo segue muito elevado. A possibilidade de importação de diversos medicamentos, de várias partes do mundo, e a possibilidade de aquisição de medicamentos via associações de pacientes de cannabis no Brasil, a exemplo da ABRACE na Paraíba e a APEPI no Rio de Janeiro, também são possíveis na rotina do tratamento com fitocanabinoides.

 

SV – Como as mulheres em processo de menopausa podem se beneficiar desse tratamento?

MM: Mulheres são altamente beneficiadas com fitocanabinoides, principalmente na perimenopusa, melhorando a fadiga, a insônia e a ansiedade muito vigentes nesta fase .

 

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