A endometriose é uma doença inflamatória crônica que se caracteriza pela presença de células do tecido endometrial (que reveste internamente a parede do útero) fora da cavidade uterina. Durante a menstruação essas células caem através das trompas na cavidade abdominal e podem se implantar em qualquer região. O endométrio responde aos hormônios e, como nesses locais durante a menstruação não pode descamar, isso causará uma inflamação que pode se tornar cada vez mais intensa, levando a formação de aderências e interferindo na qualidade de vida da mulher.
A doença atinge cerca de 10% das mulheres brasileiras em idade fértil e uma a cada 10 mulheres no mundo. Algumas estatísticas mostram que aproximadamente 43% dos casos de endometriose terão regressão mesmo sem tratamento e em 51% dos casos há o fator genético envolvido, apresentando um risco 3 a 9 vezes maior nas mulheres com parentes portadoras da doença. A incidência pode estar em até 6% nos parentes de primeiro grau. Na adolescência, a ocorrência nas meninas com idade até 20 anos pode chegar a 73%.
A médica Dra Edla Amaral lembra que muitas vezes a endometriose é diagnosticada de forma tardia, levando cerca de 7 a 10 anos, porque ela pode se apresentar de forma silenciosa ou com uma variedade de sintomas que são confundidos com outras doenças ginecológicas. “Quando a paciente apresentar queixa, deve-se realizar exames de ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal, Ressonância Magnética Pélvica, exame laboratorial CA 125, Videolaparoscopia diagnóstica e a Ecocolonoscopia, esse último ajuda a localizar melhor as lesões e a profundidade delas nos órgãos atingidos”, disse.
Dra Edla Amaral: “Muitas vezes os sintomas são rotulados como frescura”
Segundo ela, quanto mais precoce for iniciado o tratamento, menores serão as complicações como por exemplo a infertilidade. “Mesmo com a conscientização de um atendimento mais humanizado, algumas vezes os sintomas são desqualificados e abordados pelos profissionais de saúde como algo normal do período menstrual, fazendo com que a doença progrida, interferindo negativamente no seu tratamento”, alertou.
A médica lembra que por outro lado, no âmbito social, os sintomas muitas vezes são rotulados como ‘’frescura”. Em geral o tempo entre os sintomas iniciais até o diagnóstico pode alcançar até 10 anos ou mais, pois muitas mulheres acreditam ser normal ter cólica menstrual intensa, retardando a procura pelo profissional de saúde, fazendo com que seja diagnosticada numa fase mais avançada.
Sintomas
A endometriose pode ser assintomática, mas quando os sintomas aparecem pode ocorrer cólica menstrual (dismenorreia) intensa e progressiva, dor pélvica crônica e acíclica, independente do período menstrual, dor na relação sexual (dispareunia de profundidade), sangramento ou desconforto ao urinar e/ou defecar, principalmente durante o período menstrual, fadiga, cansaço e infertilidade (dificuldade de engravidar).
“Existem também os efeitos psicológicos em decorrência da dor, que prejudica a qualidade de vida da paciente reduzindo a sua participação social/laborativa, e decorrente da dispareunia causa uma desordem na vida sexual e afetiva, levando a um quadro de estresse, desânimo, depressão e ansiedade. Na adolescência os sintomas clínicos são mais progressivos do que na mulher adulta e a queixa baseia-se apenas na dor”, comentou a médica.
Tratamento
O tratamento da endometriose pode ser feito através de anticoncepcional hormonal combinado ou progesterona isolada, podendo usar o DIU de levonorgestrel (Mirena). Existe o tratamento com analgésicos e antinflamatórios não esteroidais, agonistas e antagonista de hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), implantes de gestrinona, sisioterapia pélvica, acupuntura e hábitos de vida saudável como a prática de exercícios físicos, dormir bem e alimentação antinflamatória. Em algumas situações o tratamento é cirúrgico, através da vídeolaparoscopia como nos casos de endometrioma (cistos nos ovários) ou de endometriose profunda.
A endometriose pode causar infertilidade
Endometriose x Infertilidade
Todos os tipos e graus de endometriose podem causar a infertilidade, por influenciar o hormônio no processo de ovulação, e na implantação do embrião. Alterar a prolactina e as prostaglandinas que atuam de forma negativa na fertilidade. A inflamação e as aderências que a endometriose causa, prejudicam o transporte do óvulo pelas trompas. Quando ocorre da mulher engravidar, pode prejudicar o desenvolvimento da gestação, aumentando a taxa de abortamento.
“A endometriose não tem cura, mas pode ser controlada através da instituição do seu tratamento, recuperando dessa forma qualidade de vida da paciente e muitas mulheres podem engravidar. É importante o envolvimento de uma equipe multidisciplinar no seu tratamento com médicos, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, profissionais de educação física e acupunturistas”, concluiu.