Valadares Filho critica “indisposição” de Belivaldo para receber críticas e ouvir sugestões e diz que “Governo deveria ter um gabinete de crise mais atuante”

A reportagem do CINFORM conversou com o pré-candidato a prefeito de Aracaju, o ex-deputado federal Valadares Filho (PSB), que faz uma análise sobre a atuação das gestões do governador Belivaldo Chagas (PSD) e do prefeito Edvaldo Nogueira (PDT) no combate à pandemia do coronavírus (Covid-19). Valadares acredita que não é tempo de se falar em política partidária, que o foco é salvar vidas, mas externou sua preocupação com a necessidade de se ampliar o diálogo com a classe empresarial, porque além da saúde, também é preciso preservar os empregos. Ele defende o isolamento social, mas ainda não vê necessidade de medidas mais extremas como o “lockdown”. Confira a seguir esta breve entrevista na íntegra:

CINFORM: Iniciando a entrevista, vamos à pergunta que não quer calar: mesmo diante dessa pandemia do novo coronavírus, a eleição está mantida, mas nós temos clima para uma disputa eleitoral?

VALADARES FILHO: Não é justo com as pessoas, em meio a uma pandemia, com famílias sendo dizimadas por esse vírus, com tanto desemprego, com empresários atravessando sérias dificuldades, você propagar uma eleição. Não é de bom senso, a sociedade não aceita este tipo de discussão neste momento. Sei que a eleição traz consigo o principal instrumento democrático que é o voto, que é a alternância do poder. Mas, neste momento, nada é mais importante do que preservar o maior número de vidas possível e, também, garantir a dignidade dos brasileiros com seus empregos. Vamos aguardar a posição definitiva do TSE, o qual, por enquanto mantém o calendário. Creio que até o dia 20 de julho (início do prazo para a realização das convenções partidárias), o TSE, junto com o Congresso Nacional haverão de manter a data de 4 de outubro, ou prorrogá-la. Confirmada a eleição, o PSB estará pronto para o debate. Mas não queremos priorizar essa discussão, por enquanto.

CINFORM: E, se a eleição for confirmada, você será candidato a prefeito de Aracaju, mais uma vez? Há quem diga que um novo resultado negativo não pode encerrar sua trajetória na política. Você concorda?

VALADARES FILHO: Quando decidi disputar o governo do Estado eu acreditei que poderia apresentar soluções para os problemas do Sergipe, e assim o fiz. Não formos vitoriosos nas urnas, fizemos algumas avaliações, de onde acertamos e erramos, mas em momento algum ficou arrependimento. Mesmo muito jovem ainda já exerci três mandatos de deputado federal, tenho consciência da minha atuação parlamentar, ocupei vários espaços de destaque na câmara, sempre votei em sintonia com a sociedade, o volume de recursos que conseguir viabilizar para Sergipe me faz até hoje participar de inaugurações e entregas de benefícios por todo o estado.  O que estará em jogo nessa eleição não é a minha trajetória política, mas o futuro de Aracaju, que não pode ficar eternamente submetida à vontade de um homem só. Ao final desse mandato serão 16 anos de Edvaldo no poder (contando com os seus 6 anos de vice-prefeito). A alternância é salutar, porque oferece aos concorrentes uma oportunidade de disputar a preferência do eleitorado, e dar outro rumo à gestão.

Se tiver que disputar outra eleição majoritária, irei com propostas, com dignidade, serviços prestados, novas ideias, ética e, algo que me orgulha muito: a ficha limpa! Mas friso o que disse antes, não é o momento de priorizar o debate da política eleitoral.

CINFORM: Analistas dizem que Edvaldo Nogueira tem mais vantagem em relação aos demais porque como prefeito de Aracaju ele tem fica mais em evidência. Mas essa exposição também não pode ser negativa para o gestor?

VALADARES FILHO: Edvaldo Nogueira está aparecendo mais, primeiro porque é inerente a função que ocupa. Segundo porque nunca preparou a rede de saúde pública de forma adequada. A crise no setor é permanente na nossa capital. Lembra-se do que ele fez com o Nestor Piva? Terceirizou o atendimento e transferiu os servidores para outras unidades. Tinha gente que não sabia onde trabalhar e o que fazer! Não vou usar a pandemia para fazer palanque em cima dele, tenho tido muita prudência nesse sentido, mas em dois meses de isolamento social, qual a grande ação da Prefeitura de Aracaju para combater a Covid? Temos um prefeito que faz “Ctrl C” e “Ctrl V” dos decretos do governador, que, diga-se de passagem, também deixam a desejar. A exposição que Edvaldo tá tendo é mais negativa do que positiva. Sinceramente torço que a gestão seja mais eficiente e transparente, nunca Aracaju precisou tanto do poder público como agora. 

CINFORM: Superada toda a polêmica em torno da construção de um Hospital de Campanha pela Prefeitura de Aracaju, após mais de dois meses de isolamento social, não já era para esta unidade estar funcionando a contento?

VALADARES FILHO: O Hospital de Campanha, em minha opinião é importante, uma pena que os gastos com a sua construção são muito pouco transparentes, e até hoje (sexta-feira) não está em funcionamento! Vários servidores da Saúde estão infectados nas UPAS por falta dos EPIs necessários. Tenho recebido vídeos e depoimentos chocantes de pessoas humildes que ficam percorrendo as unidades de saúde em busca de testes do coronavírus, em busca de atendimento. As autoridades já noticiam possível superlotação dos leitos, em Sergipe chegamos a cerca 70% dos leitos de UTIs ocupados. É verdade que ninguém estava preparado para enfrentar uma pandemia deste porte, mas nossa rede de Saúde há algum tempo já vinha “capengando”. Pelo que tenho lido e estudado, percebo como o início dos testes demorou por aqui, e não temos um planejamento dos testes em massa a exemplo do que vem fazendo Salvador. O foco em salvar vidas que sei ser a prioridade de todos, requer agilidade em determinadas ações.

CINFORM: Como você tem acompanhado todo o trabalho de combate à Covid pela PMA? Dá para o prefeito reclamar da falta de recursos? O governo federal não repassou já um volume de dinheiro para a capital?

VALADARES FILHO: Já estou conversando com o vereador Elber Batalha e vou procurar outros membros da oposição e até deputados estaduais em busca dos números exatos. Mas sei que entre emendas parlamentares e recursos voluntários da União, somam mais de R$ 200 milhões. Sabemos que os recursos federais estão sendo monitorados por uma força tarefa do Ministério Público Federal, Controladoria-Geral da União (CGU) e a própria Polícia Federal. Isso nos tranquiliza quanto à efetiva aplicação. Como o Tribunal de Contas do Estado, a própria Assembleia Legislativa, Câmara de Vereadores e o Ministério Público Estadual também estão monitorando cada centavo que entra nos cofres da PMA. Fala-se muito em queda na arrecadação, mas também há de se considerar a reposição das receitas com os repasses do governo federal. Ou seja, não é hora para só reclamar. É hora de arregaçar as mangas e trabalhar!

CINFORM: E quanto ao governador Belivaldo Chagas? É público que vocês têm o mesmo apreço por Simão Dias que o chefe do Executivo. Mas esse isolamento contínuo no interior, ficando distante da capital em meio a essa pandemia, não soa estranho?

VALADARES FILHO: O que na verdade tem prejudicado o bom andamento das coisas no âmbito do executivo é a sua notória indisposição para receber críticas e ouvir sugestões. Belivaldo quando dá uma entrevista fala com muita arrogância sem se importar com o tamanho de suas palavras, principalmente quando, incomodado, responde esbravejando contra quem fez algum reparo à atuação de seu governo, mesmo que tenha partido de um aliado. Esse nervosismo só atrapalha as ações do governo num momento de extrema crise por que passa o Estado. 

É com equilíbrio e paciente diálogo mantidos com a população, servidores públicos, trabalhadores e empresários, que o governante encontra apoio e entusiasmo para a cumprimento de seus objetivos administrativos.

CINFORM: Qual a sua avaliação a respeito da “queda-de-braço” do governador com o setor empresarial? Alguns setores falam insistentemente em “lockdown”, mas esse isolamento por completo não poderá acarretar no fechamento de diversas empresas?

VALADARES FILHO: A meu ver o que falta é um diálogo mais amplo e mais franco. Essa postura de distanciamento da classe empresarial é preocupante. Afinal, é a classe que movimenta a economia e gera empregos. Como a pandemia está avançando, infelizmente hoje temos cerca de 3000 casas, ultimamente 200 por dia, 50 óbitos, o governo deveria ter um gabinete de crise mais atuante, planejando diariamente propostas e ações. Quanto ao lockdown, apesar de nos últimos dias o vírus ter-se voltado para Sergipe, multiplicando o número de ocorrências, vejo ainda não ser o caso dessa medida radical de isolamento. Penso que o isolamento social é o único remédio capaz de conter a expansão da covid-19, já que nenhuma vacina foi até agora descoberta para impedir a sua proliferação. O Brasil conseguiu se transformar em um dos epicentros mundiais da pandemia com seus tentáculos atingindo todos os Estados, inclusive ganhando força em Sergipe. Países, como os Estados Unidos, Itália, Espanha, que demoraram a adotar o distanciamento social, estão pagando caro pela imprudência. 

CINFORM: O governador falou que o empresário e deputado federal Laércio Oliveira indicou o secretário de Estado da Indústria e Comércio e poderia ajudar o governo lhe apresentando alternativas. Essa posição do chefe do Executivo não deixa no ar a possibilidade de vários “governos” em um só?

VALADARES FILHO: Esse é o retrato da política atrasada “do toma lá, dá cá”. Sem independência para gerir. Laércio indicou o secretário, mas ele deve respostas ao governador e não ao empresário! Deve ser cobrado por quem o nomeou. Tencionar neste momento só vai piorar as coisas. Acho que o setor produtivo está disposto a ajudar, mas também quer ser ouvido. Nesta “guerra” não existem vencedores. Todos perdemos…

CINFORM: Muito se fala no cenário nacional, mas em Sergipe um secretário de Saúde deixou a Pasta recentemente, em meio a uma pandemia, para disputar uma eleição e o comandante do Corpo de Bombeiros entregou o cargo alegando “interferência do governador”. O cenário estadual não está muito parecido com o de BSB?

VALADARES FILHO: Estamos sob completa instabilidade! Lá em cima, muita gente incentivando uma polarização ideológica em plena pandemia que só faz prejudicar ainda mais o país. Em Sergipe o governador sabia que Valberto ia ser candidato a prefeito de Propriá. Por que já não iniciou o ano afastando todos os pré-candidatos do seu governo? Infelizmente veio a pandemia e o auxiliar teve que sair no meio por opção própria! A saída do Comandante dos Bombeiros se deve a outros fatores também. O servidor público do Estado, em sua maioria, está insatisfeito. A coisa vem se “arrastando”, ano após ano. Prometem tudo na campanha eleitoral e depois não cumprem e acham que pode ficar por isso mesmo!  

CINFORM: Para concluir a entrevista, qual a sua avaliação a respeito do comportamento do governo do Estado, seja via Banese, Deso ou até Assistência Social, em mais de 60 dias de pandemia? Fala-se que o governo federal estaria repassando quase R$ 400 milhões em recursos. Era para Sergipe viver o “caos” que está vivendo hoje?

VALADARES FILHO: Tenho informações de vários municípios sergipanos, sem água nas torneiras por dias. E isso tem sido uma constante da DESO. E como as pessoas vão se higienizar contra o coronavírus? O Banese ao invés de prorrogar os contratos em andamento dos servidores públicos, como o governador anunciou, resolveu refinanciar, ou seja, a pessoa faz uma nova dívida, com juros e por um prazo maior. Não vemos uma política social deste governo! Falam na ajuda de R$ 100 que não chegou a 1% da população sergipana! Além de muito pouco, a falta de cobertura é absurda! Temos informações de muito dinheiro federal chegando e que ainda vai chegar. Isso tem que ser bem fiscalizado, para garantir que a população já sofrida não seja esquecida! Prometeram gestão para Sergipe. Mas só prometeram…

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