Quando se acompanha essa postura do alcaide, que se coloca ostensivamente contra os médicos contratados pelo município, o que se percebe é uma dissociação de interesses entre o compromisso dos médicos com a ética profissional e a obrigação do prefeito para com a população de Aracaju.
Por mais que pareça, o médico é um profissional técnico e não um sacerdote. Alguns deles, pela sua trajetória de amor à causa, chegam a se assemelhar a um padre, ou pastor… A um sacerdote, seja de qualquer credo. Mas não é isso que a sociedade deve esperar dos médicos.
Deve esperar, sim, que eles cumpram sua jornada de trabalho, respeitosamente remunerada, e que se dediquem com profissionalismo e carinho aos pacientes.
Os médicos não podem, e nem devem ser sub-remunerados pois, como qualquer trabalhador, autônomo ou não, têm família e compromissos financeiros para prover. Uma decisão unilateral e ofensiva à classe, como é o caso de uma redução drástica e inexplicável de remuneração, fatalmente receberia uma contraofensiva, pois, afinal de contas, médicos não são escravos de uma gestão que flerta, abertamente, com a tirania.
Matéria de capa desta edição põe a nu a composição articulada pelo prefeito, criando, artificialmente, uma situação de emergência na saúde pública do município para que, estabelecido o caos, pudesse arrogar o direito ao uso da prerrogativa de exceção à Lei para contratar quem bem entendesse para prestar os serviços ao município, sem a democracia exigida em um processo licitatório limpo.
A falta de planejamento, no entender das cortes de conta, do Ministério Público e dos tribunais superiores é, normalmente, a causadora das contratações emergenciais, quando estas não são causadas por desastres naturais.
Mas, a causa pode ser também a desídia, essa bela palavra que significa desleixo, falta de zelo, negligência. Na verdade, há muitas causas que se resumem em uma só: o prefeito não leva a sério a gestão da saúde pública.