Edvar Freire Caetano
Quando escreveu as conhecidas “Cartas persas”, o filósofo iluminista Montesquieu disse algo como “Os homens são infelizes porque vivem oscilando entre a esperança e o medo…”. Esta declaração é retirada do livro “A via de mão dupla: política e intolerância em Montesquieu”, do filósofo sergipano Antônio Carlos, professor-doutor da UFS.
No palco de insensatez, onde se apresentam atores de todos os vieses, neste teatro de horrores chamado Brasil pandêmico, não faltam os bobos, os algozes e os vilões oportunistas, sendo estes últimos os que se valem do sofrimento da população para tirar vantagens; lamentavelmente, faltam os heróis. Um, pelo menos. Um herói que seja, para que salve o enredo.
Ao público ¬ seguindo Montesquieu ¬ resta permanecer “produzindo monstros que o perseguem e fantasmas, que o amedrontam, ao invés de apoiar-se na razão”. Neste caso atual do Brasil, esse público vive oscilando entre a esperança de uma vacina meio milagrosa, e o medo permanente de contágio. Ou seja, o povo brasileiro está infeliz.
No país, os números se aproximam da marca emblemática de 1 milhão de infectados e de 50 mil óbitos, o que faz lembrar um candidato a ministro da saúde que afirmava, bem recentemente, que jamais chegariam a 2 mil o número de mortos no Brasil, por covid-19.
Aqui, em Sergipe, menor Estado da federação, já passam de 300 os óbitos registrados, oficialmente, pela Secretaria da Saúde, e ainda não se atingiu o tal de pico da pandemia.
Em uma live produzida pelo CinfomOnline, no último dia 11, o médico e professor da UFS Luiz Eduardo condenou, de forma veemente, as atuações do prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, e do governador do Estado, Belivaldo Chagas, acusando-os de inércia diante do quadro.
Diante da perplexidade de um povo que já está há 90 dias em isolamento social, fala-se, estranhamente, de um lockdown, como se isso já não existisse nos três mais longos meses da vida dos sergipanos.
Comerciantes entram em desespero, a quebradeira grassa pelo comércio, com centenas de lojas fechando suas portas e encerrando tristemente as atividades, algumas delas com algumas décadas de atuação no mercado, como aconteceu com a loja de jeans do centro de Aracaju, cujo proprietário gravou as cenas de morte de um CNPJ, inspirando o movimento Brasil200 a desfraldar a bandeira dos agonizantes pequenos negócios de Sergipe.
O que resta ao povo, que não seja o agarrar-se oscilante entre a esperança e o medo, já que o uso da razão lhe arranca do peito restos de fé nos dirigentes deste grande e macabro teatro?