Cigano ou Monge? Quem conhece o Alfredo vive a se perguntar. Alfredo Furtado, ou, como todo mundo conhece, Doca Furtado, sergipano, que por acaso nasceu em Salvador, um apaixonado por sua cidade de coração, Aracaju, músico, compositor, intérprete, autor de literatura infantil, poeta e chefe de cozinha dos bons. Fez na estrada sua vida, morou em Campinas/SP, Minas e Itália. Andarilho feito cigano, sempre à procura do seu caminho, fazendo a vida passar, construindo sua história. Seu coração e seu destino sempre foi voltar para Aracaju, seu aconchego, seu porto seguro. Um sujeito apaixonado pela vida. Tranquilo, boa gente, da paz e muito zen, fala mansa com uma palavra de carinho… como um Monge, um iluminado.

Aos quinze anos começou com a música, estudou no Conservatório de Música de Sergipe e logo percebeu que seu negócio era o popular, estudar e fundamentar suas raízes. Estudou em Aracaju com Carlos Mendonça o grande músico e arranjador Moskito; e harmonia e composição com Hugo Baradel; trompete, com Israel Silva, em Campinas (SP).

Conheci Doca começando na música e sendo um dos concorrentes da segunda edição do Festival Estudantil Novo Canto, nos idos de 1985, um festival em que se tornou nos anos 80 e 90, um importante mecanismo de lançar inúmeros talentos musicais como: Chico Queiroga, George Martins, Marco Aurélio, Antônio Passos, Nino Karvan, Kleber Melo, Antônio Rogerio, Cris Emmel, Gena Ribeiro, Rubens Lisboa, Sena, Sergival, Marcos Odara, Jiló, Sergio Luis, Fabio Dorea, Jarbas Moreno, Malba, Thiago Ribeiro, Jadilson Moreno entre tantos nomes da nossa música sergipana.

Doca fez seu primeiro show no Réveillon de 1983, na antiga Cabana, restaurante e bar tradicional e famoso daquela época, espaço agradável e tinha como proprietário seu Américo Carvalho, pai do Mequinho Carvalho e Alex Carvalho, amigos e radialista em nossa terrinha. E a partir daí nunca mais largou nem o violão nem a composição. Fez show em todos os espaços do nosso Sergipe Del Rei, a Dupla Doca Violão na voz, Pio (Marcio Antônio Moreno Jacinto), flauta e o Binho Vicente (Eber Vicente) percussão fizeram sucesso em bares e espetáculos. Doca ganhou experiência e assim arrumou as malas e saiu pelo Brasil, mostrando todo o seu talento, shows, apresentações em TV como o Senhor Brasil, com Rolando Boldrin. Morou na Itália em 2003 onde trabalhou em casas de espetáculos e participou da semana Ítalo-brasileira, em cidades como: Roma, Arezzo e Firenze.

Participamos juntos do Festival Canta Nordeste, e em 1991 fomos os dois representantes de Sergipe na primeira edição do Festival, ele com a música Bocaina e eu com Língua Mãe, foi quando tivemos uma aproximação, pude ver o quanto é dedicado no fazer musical, tem preocupação com linha musical, ritmo e contextualiza suas letras dentro do que ele mais gosta que é a cultura brasileira. Doca grava seu primeiro trabalho com músicas autorais e arranjos belíssimos. “Vento Cais” é o primeiro álbum bem regional com nove faixas: Tú és; A lenda da sexta feira 13; Vento Cais; Bocaina, música que ele participou do Canta Nordeste, Maria Flor; Os quatros Cantos da Pega; Estrela Incandescente; e Amor Roxo, música composta por Joésia Ramos. Bom disco e com esse cartão de visita ganhou o mundo.

Entre um álbum e outro entre um show e outro, Doca escreve poesia e contos, um literata que traduz seus sentimentos e suas vivências em palavras e escrita. Produziu dois livros: “A História que se conta a história que se vê” pela editora Roda & Cia e o “Rapto do Rei dorminhoco” da editora Saber & Ler, dois contos infantis e, logo em seguida, seu segundo álbum é lançado.

Cigano ou Monge, meu preferido, produzido em 2014 e lançado em 2015… o disco é muito lindo, onde Doca se mostra por completo como compositor e intérprete da música brasileira, com arranjos modernos e bem cuidados e uma sonoridade como em poucos discos que já ouvi. Música de Cigano e canto de Monge. Com doze faixas autorais com diversidades de ritmos (maracatu, afoxé, samba, música flamenca…) arranjos requintados e belos poemas. Perfeito, quem não conhece deve ouvir. O Álbum abre com “Cigano ou Monge” música título do CD:

Quem do solo não ver nascer planta

Não se espanta em dormir sobe o luar

Como pode cigano virar Monge

Se nasceu pra não ver vida passar

Se o destino é sem cara sem nome

Se a paixão não tem hora pra chegar

Como pode cigano virar Monge

Se nasceu pra não ver vida passar”

“Obra Fina”, uma mistura de chorinho, guarânia e canção pantaneira, com arranjo requintando recheado de violões; “Crença” uma balada doce que diz: preciso de um minuto para entender, dei a volta ao mundo pra buscar você. Dá até saudade e boas lembranças; “Tempero Nordestino” ‘eitcha’ como diz por aqui, um afoxé gostoso demais que dá vontade de saber quem é essa morena e sair dançando com ela e sentido seu cheiro:  Morena eu tenho a certeza, que tiraram a ceiva do fruto do açaí, botaram num tacho com cravo e canela e passaram na pele que cobre ti… Ê Pancada de coco quando cai, Jangada leve quando sai; “Mundo Monteiro Lobato”, um xote doce infantil em homenagem ao grande Monteiro Lobato, atiça nossa consciência e faz lembrar das histórias do Lobato, e fala do amor e da vida com muita lúdica e beleza: Quem diz que boneca de pano não tem coração, por que não viu Marques de Rabicó chorar paixão…; Você diz está tudo lindo, mais ainda estou ouvindo a raiz do Doca. Aí ele vem com “Samba Riqueza da Alma” uma real homenagem aos 100 anos do samba: O Samba…Põe na alma e no corpo a sagrada Magia… Samba é Brasil… e traz a batida para junto de um só coração… Samba é a nobreza da arte a riqueza nação. Uma declaração de amor e de nacionalidade verdadeira, com amor, fé e ternura; o disco conta também com “Boneca de Milho” canção que mostra a nossa tradição do plantio e colheita do milho; “Cheiro Acalanto”, “Tempo Espera” um Flamenco com violões emocionantes: Ô senhora não me tire a liberdade de sonhar, não é hora de você querer me amar. “Coco da Ilusão” a única parceria do disco e com o violonista e arranjador Ricardo Saragioto, um coco embolado que me lembrou a história de Laranjeiras, lá é o navio e não trem. “Quem ganha com isso” um Funk rap de protesto e de alerta que diz: Fome de cultura, fome de verdade, falta de humanismo sobra de maldade…; E fechando o disco temos “Apelo ao tempo” canção de amor que você pode dedicar a quem sua saudade quiser lembrar: Nenhuma estrada te leva ao passado diz a canção. Mais as lembranças te mantêm no presentes, e como é bom recordar e sonhar com as saudades boas do passado.

Doca lançou outros trabalhos, mas é assunto para outro dia. Quem quiser curtir o Doca ao vivo e experimentar sua cozinha é só ir de quarta a domingo na Atalaia Nova no Ilha das Massas, pizzas boas, regada a música de ótima qualidade. Doca Furtado um exemplo de sergipanidade.

 

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