A hanseníase é uma doença infecciosa que tem tratamento; se for tratada de forma adequada, o mais rápido possível, não deixa sequelas

Descobrir uma doença crônica ainda é motivo de muito tabu dentro da sociedade. Muitas vezes motivado pela falta de informação, o preconceito enfrentado pelo indivíduo acometido torna tudo ainda mais difícil. No caso de uma pessoa que vive com hanseníase, não é diferente.

A doença crônica infecciosa, que comumente se apresenta por manchas esbranquiçadas, avermelhadas ou amarronzadas na pele, tem tratamento. Ela se caracteriza por alteração, diminuição ou perda da sensibilidade térmica, dolorosa, tátil e força muscular, principalmente em mãos, braços, pés, pernas e olhos e pode gerar incapacidades permanentes.

Hoje, a pessoa que vive com hanseníase pode ter um tratamento eficaz, que o afasta de padrões antigos que reforçam o preconceito, como o isolamento da sociedade. “Desde que se descobriu na microbiologia que essa é uma doença infecciosa, mas que tem tratamento, e que se for tratada de forma adequada, o mais rápido possível, ela não deixa sequelas, esse comportamento tem mudado e temos abolido esse estigma”, garantiu o médico infectologista Marco Aurélio Góes.

O vaqueiro Manoel Carlos dos Santos Filho, 46 anos, morador do município de Canhoba, na região do baixo São Francisco sergipano, descobriu recentemente viver com hanseníase.  O diagnóstico veio há cerca de um ano e quatro meses, e, desde então, Manoel vem fazendo o tratamento com acompanhamento médico e uso de medicação.  De acordo com sua esposa, a professora Editácia Santos de Carvalho, o diagnóstico veio após uma infecção nos braços, com aparecimento de nódulos e bolhas na pele. “Quando descobrimos a causa ainda estávamos morando no município de Alta Floresta, em Mato Grosso. A infecção durou algum tempo, tanto que ele chegou a ficar internado e, após sucessivas idas ao hospital, veio o diagnóstico, após o acompanhamento de um infectologista”, revelou.

Morando há pouco tempo no município de Canhoba, a professora conta que a convivência com a doença trouxe algumas mudanças nos hábitos do esposo, principalmente em relação à exposição solar e alimentação. “Como ele é vaqueiro, teve que se afastar do serviço pelo esforço do ofício e a exposição ao sol. Isso mudou um pouco a rotina, porque ele fica mais em casa e toma mais cuidado com a questão da alimentação”.

Editácia Santos de Carvalho ressalta, ainda, a importância do diagnóstico precoce da doença para tornar o tratamento mais rápido e eficaz. “Sempre é bom estar avaliando o corpo, olhando se há manchas ou dormência, porque há casos que demora um pouco mais de tempo para ter um diagnóstico se a pessoa não procurar auxílio médico. E quanto mais precocemente for descoberto, menos tempo durará o tratamento”, afirmou.

Prevenção

Dados do Ministério da Saúde mostram que o Brasil é o segundo país com maior número de casos de hanseníase no mundo, perdendo apenas para a Índia. Já em Sergipe, de acordo com o Boletim Epidemiológico de 2022, do Ministério da Saúde, foram registrados 312 casos em 2019; 250 diagnósticos em 2020; e em 2021 foram 246 casos.

Para enfrentar esse alto número de diagnósticos, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) e a Sociedade Sergipana de Dermatologia, em parceria com o Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe, promoveram na última quinta-feira, 26, uma busca ativa, em alusão ao Janeiro Roxo, no Ambulatório de Dermatologia do Hospital Universitário.

De acordo com a vice-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia Regional de Sergipe, a médica Marta Débora Lira, o objetivo da ação é conscientizar a população e também combater a disseminação da hanseníase, que é muito comum no Brasil e muitas pessoas pensam que ela não existe mais. “A gente quer nessa campanha é facilitar o acesso do paciente porque a gente escuta muito o quanto é difícil conseguir uma consulta. Então, fazer diagnóstico de novos casos e também fazer um trabalho de educação em saúde para que a população entenda sobre a doença é fundamental para que as pessoas saibam que a doença existe e possam conhecer os principais sinais e sintomas, além de buscar atendimento na unidade básica de saúde, para que o médico possa fazer o diagnóstico precoce. A hanseníase é uma doença que tem cura, mas que pode deixar sequelas se o tratamento for iniciado tardiamente”, alertou.

A senhora Cleusa Gomes Miranda da Silva, 65 anos, povoado Lagoa do Forno, no município de Itabaiana, agreste de Sergipe, foi orientada a procurar o Ambulatório de Dermatologia do Hospital Universitário, que é referência no tratamento da hanseníase, após não descobrir a razão do aparecimento de manchas na pele.  Segundo a filha, Creusilene Miranda da Silva Santos, há uns cinco anos a sua mãe convive com manchas e dormência na pele sem descobrir a causa. “Já procuramos vários médicos e ninguém descobriu o que ela tinha. Foi vindo aqui no ambulatório que se descobriu que é hanseníase. E, agora, ela vai fazer o tratamento correto e com fé em Deus, vai ficar boa”, relatou.

O diagnóstico precoce, aliado ao tratamento e à investigação das pessoas que convivem ou conviveram com pacientes acometidos pela hanseníase, pode interromper a cadeia de transmissão. “O desafio é conseguir descobrir os casos o mais rápido possível, instituir o tratamento imediatamente para quebrar a cadeia de transmissão, além de orientar e ofertar conhecimento, porque se a gente mostrar que a doença existe e que tem tratamento, a população vai buscá-lo ainda mais cedo”, afirmou Marco Aurélio Góes.

O diagnóstico também pode ser feito através de um exame geral e dermatoneurológico para identificar lesões ou áreas de pele com alteração de sensibilidade disponibilizado gratuitamente nas unidades básicas de saúde pelo SUS, assim como os comprimidos do tratamento, eficazes e que variam de acordo com a classificação – seis meses para paucibacilares ou um ano nos multibacilares.

Os sintomas
Os sinais e sintomas mais frequentes da hanseníase são:

* Manchas esbranquiçadas, avermelhadas ou amarronzadas em qualquer parte do corpo, com perda ou alteração de sensibilidade térmica (ao calor e frio), tátil (ao tato) e à dor, que podem estar, principalmente, nas extremidades das mãos e dos pés, na face, nas orelhas, no tronco, nas nádegas e nas pernas;
* Áreas com diminuição dos pelos e do suor;
* Dor e sensação de choque, formigamento, fisgadas e agulhadas ao longo dos nervos dos braços e das pernas;
* Inchaço de mãos e pés;
* Diminuição da sensibilidade e/ou da força muscular da face, mãos e pés, devido à inflamação de nervos, que nesses casos podem estar engrossados e doloridos;
* Úlceras de pernas e pés;
* Caroços (nódulos) no corpo, em alguns casos avermelhados e dolorosos;
* Febre, edemas e dor nas articulações;
* Entupimento, sangramento, ferida e ressecamento do nariz;
* Ressecamento nos olhos.

FONTE: AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DO GOVERNO DE SERGIPE

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