“De um modo em geral as pessoas não valorizam as obras”, lamenta

O escritor Antônio Francisco de Jesus foi batizado como Saracura em referência ao nome do sítio em que nasceu e morou, localizado no Povoado Terra Vermelha, no município de Itabaiana. Saracura estudou em escolas rurais e trabalhou como agricultor durante sua infância. Em seguida se mudou com a família para Aracaju, estudou no Colégio Atheneu Sergipense e se formou em Economia na Universidade Federal de Sergipe, iniciando sua carreira como escritor aos 62 anos, em 2008.

“Ainda estudei na Universidade do Distrito Federal e Universidade Cândido Mendes. Fui repórter do Jornal A Cruzada e apresentador da Rádio Cultura de Sergipe. Desenvolvi diversas atividades, mas a minha relação com a literatura começou muito cedo”, conta.
Saracura disse que a literatura faz parte da sua vida desde criança. “Desde os meus 5 anos de idade eu ficava encantado com os romances de cordel que meu avó materno lia. Ele morava em um povoado de Itabaiana, nas Flechas. Aos domingos, vinham filhos, netos e vizinhos e meu avô declamava João Grilo, Pedro Malazarte e Pavão Misterioso. O mundo em volta desaparecia. Aos 12 anos, fui enviado ao seminário e me envolvi com bibliotecas, jornais, muitos livros. Ao sair do seminário, trabalhei em jornais e rádio nas bandas culturais. Nunca mais parei de ler e de escrever, mesmo quando a vida me jogou em outros mundos”, garante.

Carreira
O escritor já lançou seis obras, são elas: Os Tabaréus do Sítio Saracura (2008), Meninos que não queriam ser padres (2011), Minha querida Aracaju (2011), Tambores da Terra Vermelha (2013), Os Ferreiros (2015) e Os curadores de cobra e de gente (2017).
Saracura é membro da Academia Sergipana de Letras, da Academia Itabaianense de Letras e da Associação Sergipana de Imprensa.
“O primeiro livro que escrevi foi um livro técnico de informática tratando do bom funcionamento de um centro de processamento de dados. Teve edição restrita à empresa onde eu trabalhava. O primeiro livro publicado para o mundo foi um romance, ‘Os Tabaréus do Sítio Saracura’. Eu já estava aposentado há oito anos e pude redigir, compilar e depurar textos produzidos desde a adolescência”.

O escritor explica como define o conteúdo de seus livros. “As obras falam de gente boa, do cotidiano de um povo lutando para viver dignamente, mesmo atrapalhado pelos governos equivocados e prejudicado pela natureza adversa. Os livros têm um objetivo sagrado: mostrar ao mundo que aqui na minha aldeia, Itabaiana, vive um povo inteligente, inventivo e digno: fazer um povo invejado pelo modo de ser”.

Desafios
O escritor disse que o maior desafio é encontrar leitores para as suas obras. “Em 2014, começamos o programa de trabalho, ‘O escritor na livraria’, que leva escritores às lojas e os faz interagir com os leitores que circulam nelas. Tem sido muito frutuoso. Tornamo-nos conhecidos dos leitores e livreiros. E aí vendemos mais livros. Até quando não estamos presentes nas lojas. Há outros desafios, mas todos seriam irrelevantes se muitos leitores houvessem. De um modo geral, as pessoas não valorizam as obras. Mesmo quem frequenta as livrarias age como se o livro fosse um supérfluo e reluta em comprar. Satisfaz-se admirando de longe, como se fosse uma estrela”, lamenta.

“Mas há leitores que sabem valorizar os bons livros e muitos compram, até livros de autores sergipanos. Passei a vida inteira lendo bons livros, observando a vida, ouvindo e anotando histórias de minha mãe e de todos que se dispunham a contar. Agora, preciso apenas de tempo e serenidade para construir a obra literária que planejei. Falta muito ainda, acho que não vai dar tempo, estou com 72 anos.”

A falta de recursos é outro desafio enfrentado pelos escritores sergipanos. “Consegui patrocínio para lançar apenas a primeira edição de um livro. As primeiras edições dos demais livros, eu publiquei com ajuda da família e amigos. A internet, os blogs, as redes sociais têm ajudando muito da divulgação dos livros publicados e desperta o interesse de mais leitores para nossas obras. Observamos que mais gente lê hoje. O mercado parece estar em expansão. Ou seria ilusão de ótica?”, questiona.

Incentivo
Saracura disse que nunca é tarde para começar e orienta como ser um escritor de sucesso. “É necessário ler muito para construir um livro superior ao melhor livro lido para não ser mais um perdido na barafunda. Uma dica importante é não ter pressa e nem pena em reescrever, em decepar trechos que parecem sobrar. A obra deve ser submetida a um revisor intransigente e que seja humilde. Palavras, frases, trechos sempre podem ser melhorados. Só publique quando sentir orgulho de sua obra. Quando o livro quebrar os laços que o prendem a você. Quando não tiver mais jeito de segurá-lo. Publicar é uma decisão conjunta e de foro íntimo. Leia livros de autores sergipanos”, recomenda.

O próximo livro de Saracura ainda não foi definido. “Mas vai ser um livro irresistível. Que tenha um título tentador e um conteúdo apaixonante, em cada frase lida provoque um grito de louvor”, finaliza.

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