Por Suyene Correia/redacao@cinformonline.com.br
Pinturas e esculturas sempre foram escolhidas como os melhores trabalhos no Salão dos Novos, projeto da Prefeitura Municipal de Aracaju, por meio da Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju), que serve de vitrine para novos artistas visuais sergipanos. Porém, na 27ª edição do evento, que foi aberta no último dia 28 de março, o júri decidiu romper com essa hegemonia e, das 50 obras selecionadas, concedeu a primeira colocação à instalação “Imergir” de Davi de Souza Cavalcante.
A obra, composta por três fotografias, foi resultado de experimentações feitas pelo fotógrafo e publicitário, a partir de seu aparelho de celular. Um passeio fortuito com a namorada Rayanne Ellem, em um recanto paradisíaco no interior de Sergipe, resultou num trabalho autoral instigante e de técnica apurada, que rendeu a Davi Cavalcante, o prêmio de R$ 5 mil reais. No entanto, no ato da montagem das fotografias para a exposição na Galeria de Arte Álvaro Santos, o jovem artista sentiu-se inseguro para participar da competitiva.
“Quando fui levar o material selecionado para a montagem da exposição, percebi que algumas pessoas defendiam a participação exclusiva de pintores e escultores no Salão dos Novos. Na vernissage, inclusive, ouvi comentários similares de alguns espectadores. Havia um reconhecimento de que minhas fotografias eram bonitas, tecnicamente bem feitas, mas só deveria ter ali, artes plásticas concorrendo. Isso me deixou inseguro com relação à minha participação no Salão dos Novos e descrente sobre uma possível premiação”, confessou Cavalcante.
Mas o júri decidiu romper com a tradição e inovar com a escolha da obra vencedora. Sendo a primeira vez, em 27 edições, que um estudo fotográfico destaca-se no importante Salão, que concedeu a 2ª colocação ao artista Ayslan Silva Santos Dantas pelo trabalho “Passageiros” e a 3ª colocação ao trabalho “Nunca Mais” de Yasmin Thainá Fontes Vasconcelos.
“Eu até compreendo porque muitas pessoas ainda têm uma certa resistência com a obra fotográfica. Erroneamente, acham que porque a fotografia é fruto de uma ação mais automática, ela não tem o seu valor, esquecendo do estudo feito pelo artista, antes de executar o clique. Ainda que muitos enxerguem a fotografia como mero objeto decorativo no Brasil, ela já entrou num patamar de competir com obras das artes plásticas”.
O fotógrafo de 24 anos começou a estudar sobre fotografia, antes mesmo de entrar na universidade. Era um adolescente de 13 anos, inquieto e perspicaz, que ao navegar pela internet, certa vez, descobriu o blog “Dicas de Fotografia” da fotógrafa, Cláudia Regina, que dava muitas dicas de como fotografar. Apesar de não ter uma câmera, Davi praticava num simulador de fotografia na internet, o conteúdo compartilhado pela blogueira. Somente tempos depois, já universitário do curso de Publicidade e Propaganda da universidade Tiradentes, Davi começou a trabalhar e pode adquirir a tão sonhada câmera fotográfica e colocar em prática a teoria aprendida durante horas diante de uma tela de computador.
“Nesse meio tempo, estudei música no conservatório, pratiquei meu ‘lado’ escritor e, somente quando comecei a trabalhar, pude comprar uma câmera e testar todas aquelas dicas que tinha aprendido na teoria. Na prática, as coisas se mostraram bastante diferentes e, no início, tomei ‘uma surra’ do equipamento fotográfico. À medida que fui praticando, experimentei fotos de rua- mas me senti inseguro, andando pelas ruas da cidade com o equipamento fotográfico-, depois comecei a fotografar Rayanne e fui aprendendo a dirigir pessoas, dentro do que chamam de fotografia de retrato”, explica.
Davi Cavalcante chegou a fazer um workshop com Claudia Regina, em Aracaju, no ano de 2015, aprimorando seu trabalho dentro da fotografia de retrato. Seguindo as orientações da sua mentora, ele começou a enxergar a essência dessa arte e a possibilidade de se dedicar como fotógrafo. Não tardou, lançou um convite no Instagram, convocando mulheres a participar do projeto “Retrata-se”, um ensaio de retratos.
A experiência serviu, não só, para seu aprimoramento na direção de pessoas fotografadas, como também abriu portas para o mercado profissional. “Comecei a ser contratado para ensaios fotográficos, sempre primando pelo processo de diálogo com a pessoa a ser fotografada. A cliente, muitas vezes, espera que eu fotografe durante horas, quando utilizo um processo inverso: converso três horas e fotografo uma hora, por exemplo. Isso faz com que o resultado se aproxime mais da verdadeira essência do (a) cliente, do que se eu me preocupasse mais com o número de cliques feitos numa sessão”.
Nesse modelo de trabalho, Davi Cavalcante lança mão da Retratoterapia, método alternativo que utiliza a comunicação e a fotografia como um meio de ressignificar padrões e auxiliar no desenvolvimento pessoal de cada um. “Enxergando a comunicação além da fala, inclusive como um processo de diálogo interno que todos temos, e indo além da fotografia, busco um olhar mais amplo para o ser humano, a fim de compreender e externar aquilo que é preciso, com o objetivo de trazer um novo sentido para o corpo ou reafirmar a sensação de bem estar”, diz.
Com um portfólio diversificado e consistente, contendo fotos publicitárias, ensaios e trabalhos autorais de qualidade inquestionável- que pode ser conferido no site www.davicavalcante.com– , Davi Cavalcante desponta como promessa nas artes visuais sergipanas. No momento, aguarda a divulgação da lista dos artistas selecionados para o 24º Salão Anapolino de Arte promovido pela Prefeitura de Anápolis juntamente com a Associação dos Amigos da Galeria de Artes Antônio Sibasolly e torce para que o poder público local aposte mais em editais culturais e na confecção de catálogos das exposições promovidas pela Galeria de Arte Álvaro Santos e Galeria J. Inácio.