“Brasil: Entre cores, cantos e desencantos – A natureza de Rugendas e Villa-Lobos” está entre as três produções acadêmicas brasileiras escolhidas para o Ardea Film Festival

Há algo profundamente simbólico em ver um filme universitário sergipano cruzar o Atlântico para ser exibido em um museu italiano. Brasil: Entre cores, cantos e desencantos. A natureza de Rugendas e Villa-Lobos, criado pela estudante Shéron Morales, do Departamento de Música da Universidade Federal de Sergipe (DMU-UFS), foi selecionado para o Ardea Film Festival, que acontece de 17 a 19 de julho de 2025, no Museu Giacomo Manzù, em Ardea, província de Roma. Entre mais de 3.000 curtas-metragens inscritos mundialmente, apenas 274 foram escolhidos. Nove curtas são brasileiros; entre eles, três são produções universitárias — sendo o de Shéron o único do Nordeste.

Não é apenas uma conquista pessoal ou acadêmica. É um gesto de resistência cultural. O curta, um fotofilme que une as imagens do pintor alemão Johann Rugendas à trilha sonora de Floresta do Amazonas, de Villa-Lobos, propõe uma reflexão sobre a relação entre sociedade, natureza e colonialismo. Criado como parte de um projeto de monitoria sob coordenação do professor João Liberato, o filme tem um propósito didático, mas transcende a sala de aula. Ele toca em feridas históricas, evoca a beleza da arte brasileira e convida o espectador a pensar — e sentir.

Shéron Morales compartilhou que este é seu quarto curta dentro do projeto — e o mais recente. Sua exibição em solo europeu a deixou muito alegre e honrada; afinal, o caminho até lá não foi simples. A estudante revelou que enfrentou um bloqueio criativo durante a produção e precisou buscar suporte psicológico para concluir os últimos frames. Ela transformou desafio em superação. E talvez seja justamente esse enfrentamento — pessoal, artístico e emocional — que torna o filme tão potente.

A seleção do curta sergipano, ao lado de Beyond the Breakers — semifinalista do Student Academy Awards (SAA), conhecido como o “Oscar dos estudantes” — reforça o alto nível da curadoria do Ardea Film Festival, que em sua primeira edição já se posiciona como um espaço de valorização de obras autorais, inovadoras e socialmente engajadas. A organização do festival destacou a sensibilidade da obra brasileira: “Entre tantos trabalhos recebidos, Brasil: Entre cores, cantos e desencantos se destacou como uma contribuição sensível e potente, que enriquece a programação desta edição inaugural.”

O Museu Giacomo Manzù, sede do festival, é mais do que um espaço físico. É um templo da arte contemporânea, onde o cinema se encontra com as artes visuais. E é lá que o curta sergipano estreará em um festival de cinema — um gesto que projeta a produção acadêmica brasileira para o cenário internacional e reafirma que o Brasil tem muito a dizer, também pelas lentes dos universitários.

O Ardea Film Festival foi idealizado e está sendo promovido pela associação cultural Deutopie e pela Pro Loco de Ardea (organização local voltada à promoção turística e cultural do município), em colaboração com o Ministério da Cultura da Itália, por meio do Pantheon e do Castel Sant’Angelo – Direção dos Museus Nacionais da cidade de Roma, e conta com o patrocínio da Prefeitura de Ardea.

Parabéns ao Brasil, ao Nordeste, a Sergipe, à UFS, à estudante Shéron Morales e ao professor João Liberato — por levarem nossa cultura para além das fronteiras. Que este seja apenas o primeiro de muitos voos para a obra Brasil: Entre cores, cantos e desencantos. E que Shéron Morales motive outros a transformar seus desafios em arte — e sua arte, em voz.

  • Sheyla Morales é jornalista cultural e acompanha produções audiovisuais independentes e universitárias no Brasil e no exterior.

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