
Sergipe está entre os cinco estados com as maiores proporções da população preta do país: cerca de 12% dos sergipanos se autoidentificam como pretos, negros ou afro-brasileiros, de acordo com dados do Instituto Brasilerio de Geografia e Estatística (IBGE). Para representar essa parcela tão importante do povo brasileiro, foi realizada nesta quinta-feira, 21, a V Conferência Estadual de Promoção da Igualdade Racial de Sergipe (Conepir-SE), no auditório do Ministério Público de Sergipe (MPSE), em Aracaju.
A mesa de abertura contou com a presença do governador Fábio Mitidieri, da secretária de Estado da Assistência Social, Inclusão e Cidadania, Érica Mitidieri, da diretora de Articulação Interfederativa do Ministério da Igualdade Racial (MIR), Isadora Bispo, e do procurador-geral do MPSE, Nilzir Soares Vieira Junior, além de representantes da sociedade civil, do poder público e de movimentos sociais. Ao longo do dia, a Conepir promoveu debates sobre políticas públicas voltadas ao enfrentamento do racismo, à redução das desigualdades e à construção de uma sociedade mais justa e inclusiva para a população negra.
“A realização da Conferência, após oito anos, é um ato de resgate e de busca por algo tão importante e valioso que é a justiça racial. Como governo, estamos aqui para ouvi-los e compreender suas vozes, porque administramos e fazemos políticas públicas para todos”, destacou o governador Fábio Mitidieri em seu discurso de abertura.
Na mesma linha, a secretária Érica Mitidieri reforçou o compromisso da sua pasta com a inclusão e os direitos humanos por meio do diálogo. Ela citou como exemplo a inclusão de povos de terreiro, quilombolas, indígenas e ciganos nos editais do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), a realização da Copa Quilombola e a adesão ao Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir). “A conferência é um espaço importantíssimo de debates e de levantamento de pautas que podem transformar vidas, a partir da construção de políticas públicas que resultam de uma escuta qualificada. Esta gestão é comprometida com o cuidado, a dignidade e o respeito a todos”, ressaltou.
Representando o governo federal, Isadora Bispo relembrou suas memórias de infância em Sergipe para destacar a relevância do acesso à informação e às políticas públicas. “A política de igualdade racial precisa ser vista de forma ampla e transversal, em áreas como saúde, emprego, segurança pública e educação, entre outras, que tragam dignidade à população. É importante lembrarmos que estamos falando de 56% da população formada por negros, quilombolas e ciganos, que é maioria e precisa ser enxergada por essa ótica”, afirmou.
Ainda durante a mesa de abertura, a coordenadora estadual de Políticas Públicas para a Igualdade Racial, Ianne Cavalcante, destacou o papel da Seasic na organização da Conferência e na promoção dos direitos raciais. “Essa conferência reúne vozes diversas, do governo, da sociedade civil, de movimentos sociais e dos povos tradicionais, e elas reafirmam nossa convicção de que a construção de políticas públicas efetivas depende do diálogo amplo e da participação ativa de todos”, frisou.
Potência e ancestralidade
A V Conferência Estadual de Promoção da Igualdade Racial também foi marcada pela pluralidade e pela potência cultural dos participantes. Além da programação política e acadêmica, expositores apresentaram produtos voltados à população preta, incluindo cosméticos, vestuário, artesanato e itens medicinais e naturais.
Na parte artística, a cantora Lari Lima recepcionou os conferencistas com um repertório de músicas populares brasileiras que abordam questões raciais e a realidade do povo negro. Já o grupo ‘Um quê de Negritude’, formado por alunos do Centro de Excelência Atheneu Sergipense, apresentou um ato de dança inspirado em canções que reverenciam os orixás das religiões de matriz africana.
As performances dialogaram com um dos principais pontos de debate da conferência: a intolerância religiosa. Ainda na abertura, a ialorixá e coordenadora do Fórum Sergipano das Religiões de Matriz Africana, Ligia Borges, enfatizou a relevância da Conepir e seu impacto para a sociedade. “Sabemos que ainda há índices alarmantes de perseguição e racismo religioso, mas estamos aqui para firmar um pacto estadual de promoção da igualdade racial. Temos uma diversidade de público reunida com o objetivo de acabar com o racismo, por meio de políticas e ações afirmativas que de fato impactem e transformem nossas vidas”, declarou.
Encaminhamentos
A conferência teve como objetivo promover o diálogo entre governo e sociedade civil sobre políticas públicas de enfrentamento ao racismo, combate às desigualdades raciais e valorização da cultura e identidade dos povos e comunidades tradicionais.
A programação começou com a palestra magna ‘Igualdade e Democracia: Reparação e Justiça Racial’, ministrada pela defensora pública e mestra em Direitos Humanos Carla Caroline de Oliveira Silva, que apresentou reflexões alinhadas aos eixos temáticos da conferência: democracia, justiça racial e reparação. Em seguida, foi realizada a leitura e aprovação do Regimento Interno.
À tarde, os participantes se dividiram em três grupos de trabalho. O eixo Democracia contou com a mediação do professor doutor Romero Venâncio Silva; o eixo Justiça Racial foi conduzido pela mestra e Yalorixá Jouse Mara Ferreira Santos e por Lucas Vieira Santos Silva, doutorando em Sociologia; enquanto o eixo Reparação teve a mediação do professor doutor Luís Américo Silva Bonfim. As propostas construídas nos grupos, assim como as moções, foram apresentadas e aprovadas ainda durante a tarde.
Para o coordenador da Rede Nacional de Religiões Afro-brasileiras e Saúde (Renafro), Paulo Roberto Nascimento, os momentos de diálogo reforçam o papel da conferência como espaço de luta e construção coletiva.
“A nossa luta é sobre os nossos direitos sociais. Eu faço parte da sociedade civil e, dentro de vários eixos, discutimos as melhores ações para garantir direitos às comunidades tradicionais indígenas, ciganas e negras. É um espaço de luta com muitos avanços, como a criação de estatutos e planos nacionais, mas também com desafios, como a violência sofrida por homens negros, mulheres negras, indígenas, população LGBT e pelas religiões de matriz africana. O racismo afeta nossa segurança e nosso direito de viver a fé. Estamos aqui para lutar por justiça social e por uma sociedade mais igualitária”, ponderou.
O encerramento da programação ocorrerá à noite, com a votação e aclamação dos delegados que representarão Sergipe na etapa nacional.
Fonte, Secom – Estado.