Na semana passada, os vereadores de Aracaju votaram contra os vetos do prefeito Edvaldo Nogueira que negava os reajustes salariais dos professores, agentes de saúde e agentes de endemia. O fato foi histórico…

Confira na íntegra a análise e comentário do professor e comentarista político, Leonardo Lisboa:

Estamos nos encaminhando para o raiar de um novo ano no legislativo municipal de Aracaju. Essa semana foi agitada, repleta de intensas discussões, sessões extenuantes, reuniões “secretas” e ranger de dentes dos vereadores ligados ao prefeito Edvaldo Nogueira.

Não é novidade para ninguém que acompanhe de perto o que acontece na casa do povo que o relacionamento entre os vereadores da base e a gestão de Edvaldo não está nos melhores dias. Os vereadores aliados do prefeito reclamam da inércia de algumas secretarias em atenderem seus pedidos mais simples que vão de um Quebra-molas, passando pela pintura de uma faixa de pedestre. Sem contar ainda da frieza do prefeito na construção de pontes com o novo legislativo que aparenta não apenas ser novo nos nomes, mas na mentalidade.

O que se ouve falar nos bastidores e em rodas políticas é que novos ventos estão soprando na Câmara Municipal de Aracaju, conhecida de outros carnavais como sendo a casa do amém ou o puxadinho da prefeitura, onde o prefeito mandava e desmandava, casa Legislativa em que até mesmo pedidos de informações de vereadores da oposição conseguiam ser recusados nas legislaturas passadas.

Todavia, o ano de 2022 já começa com uma derrota significativa para Edvaldo Nogueira, em especial no que diz respeito a dois de seus vetos encaminhados para casa parlamentar, no Plano Plurianual (PPA), aqui faço menção às emendas que garantiam o pagamento do piso dos professores, agentes de saúde e endemias que foram aprovadas por unanimidade na última sessão de 2021. A movimentação dessas classes em frente a Câmara foi crucial para pressionar os parlamentares da base do prefeito.

Dentro da Câmara, sabe-se que os vereadores da base suspenderam a sessão por quase meia hora, foram conversar com um secretário da prefeitura, fizeram “muita conta”, porém resolveram manter os votos pela derrubada dos vetos. Uma derrota do ponto de vista político, a considerar que até mesmo seu líder e vice-líder votaram pela derrubada do veto, não sabemos se por narrativa ou por conveniência política.

A derrota foi acachapante, foi mais que uma goleada, foi de 20 a 0, veto derrubado com louvor por todos os vereadores. Não quero aqui interpretar cada voto, esse juízo deixo a critério dos leitores.

É importante ainda lembrar que a guerra não foi vencida, a luta continua, visto que os vetos derrubados precisarão ser derrubados mais uma vez na votação da (LOA) Lei Orçamentária Anual, a vigilância continua necessária e acompanhar de perto cada vereador é mais que importante, é fundamental. Não estamos aqui a falar de nenhum favor, mas de um direito garantido em lei federal e dever de cada gestor preocupado com a educação e saúde do seu município.

Falando ainda em vigilância, não posso deixar de mencionar a manobra regimental feita pelo vereador Ricardo Marques (Cidadania), que ao pedir inversão de pauta, conseguiu fazer com que o veto que garantia o piso do magistério passasse a frente na ordem de votação. Não havia sinal algum de que o veto do magistério seria colocado em pauta na quinta-feira, mas a ação do parlamentar é digna de nota e causou um mal-estar entre alguns vereadores. Talvez, alguns vereadores ansiavam vencer o adversário pelo cansaço, estratégia milenar prescrita no manual de guerra de Sun tzu, mas dessa vez, os planos foram por água a baixo.

Acompanho há alguns anos os trabalhos na Câmara e sempre vi os vereadores da base usarem e abusarem do regimento interno para dar uma volta na oposição, dessa vez no entanto o feitiço se virou contra o feiticeiro. Esse que vos humildemente escreve acompanha de perto há alguns anos os trabalhos do Parlamento aracajuano e é visível a olho nu uma mudança, mesmo que tímida, mas essa legislatura ainda tem pela frente três anos para mostrar se querem continuar a ser um puxadinho da prefeitura ou declarar sua independência.

Escrito por Leonardo Lisboa
Professor e comentarista político

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