Moradores vizinhos relatam receios pela insegurança
Casas particulares abandonadas causam transtornos para moradores de diversos bairros de Aracaju. Servindo de espaço para atividades ilícitas, os imóveis abandonados incitam o questionamento: de quem é a responsabilidade pela fiscalização das propriedades privadas?
Na Rua Cláudio Batista, no Bairro Santo Antônio, a casa de nº 58 está abandonada há anos, como relatam vizinhos, que afirmam que o local serve como espaço para atividades ilícitas, relações sexuais e uso de drogas.
“É uma coisa horrível. Eu não sei quem é o dono. Entra muita gente nessa casa, que era alugada, mas depois que os locatários saíram, alguém colocou a placa de “Vende-se” e estranhos passaram a entrar aqui. Moro em cima e vejo as pessoas entrando”, conta a juíza aposentada Maria José.
Outra vizinha reitera a informação. “Muitas pessoas estranhas entram, a gente não sabe quem é. Quando tinha porta e janelas, entrava mais gente. Agora que arrancaram tudo, entra menos, mas ainda entra. É forte o mau cheiro. Teve uma vez que meu esposo gastou três garrafas de agua sanitária para ver se amenizava. Mas depois eles voltam e ainda intimidam quando veem a gente olhando. Dizem: “o que é?”. E, nesse momento, o que a gente vai fazer?”, indaga a moradora.
MORADORES COM MEDO
A casa de número 459, da Avenida Simeão Sobral, também no Bairro Santo Antônio, está abandonada e sem grades. Moradores vizinhos relatam que diversas pessoas estranhas à comunidade frequentam o imóvel e já furtaram partes da sua estrutura e até o que ainda continha em seu interior.
“Tem uma semana que tiraram o portão. As grades e as janelas tiraram já tem mais tempo. E já tem uns três meses que vem gente estranha para tirar as coisas de dentro da casa. Já tem mais de ano que esse imóvel não funciona, mas não estava assim tão escancarado”, relata um vizinho que preferiu não se identificar.
Nem as casas vizinhas ficaram de fora, como relata outra moradora. “Mês passado pularam pelo muro daí pra minha casa e levaram o meu botijão. Não foi da casa do outro lado, porque tem cerca elétrica. Foi vindo daí”, conta.
DEPENANDO O IMÓVEL
Inclusive, enquanto a equipe do Cinform visitava a casa de número 459 da Rua Simeão Sobral, duas pessoas estacionaram na porta com uma carroça e entraram no imóvel, possivelmente para retirar objetos do seu interior, mas logo deixaram o local, inibidos pela equipe, que estava fazendo imagens e coletando relatos.
Até o momento da visita da equipe do Cinform à casa, no fim da manhã da última quarta-feira, 20, o que mais chamou a atenção foi que o interior do imóvel ainda continha alguns móveis e diversos documentos, contratos e canhotos de cheques de uma empresa, a Prescol Prestação de Serviços e Comércio.
Por outro lado, na tarde do mesmo dia 20, moradores relataram que o antigo proprietário do imóvel esteve no local com um caminhão e recolheu todos os documentos, móveis e objetos que ainda restavam por lá.
O antigo proprietário, em conversa por telefone, afirmou que não é mais dono do imóvel, e que o mesmo pertence agora ao Banco Bradesco. “Tivemos uma certa dificuldade para retirar o que havia ficado na casa justamente pela marginalidade, pois havia elementos alojados no imóvel. Mas com o auxílio da polícia conseguimos retirar. Acredito que tenha mais imóveis nessa situação. Tenho um prédio lá vizinho que também sofre com a marginalidade, e isso está acontecendo na região como um todo. E a casa nunca foi da empresa, era residencial. Apenas utilizávamos para guardar algumas coisas”, diz o antigo proprietário.
DE QUEM É A RESPONSABILIDADE?
A responsabilidades dos imóveis particulares é dos seus proprietários. Mas, enquanto não se acham os donos, essas casas continuam muitas vezes abertas, sem grades e servindo como ponto de encontro para usuários de drogas.
De acordo com o assessor de comunicação da Polícia Militar, Coronel Paulo Paiva, a PM somente atua em casos de flagrante. “Locais abandonados tornam-se covil para marginais que acabam frequentando esses locais. Entendemos que, em primeiro momento, é responsabilidade do proprietário. Em segundo, é do Município, que lista, pelos impostos, os proprietários dos imóveis. Mas, se a população observa alguma situação imediata de possíveis delinquentes, deve ligar com urgência no 190, para que tomemos providência quanto àquela situação imediata”.
Os vizinhos da casa da Avenida Simeão Sobral já recorreram à Polícia, mas não receberam a assistência que esperavam. “A gente tá aqui sem dormir direito com medo. Eu fiquei pasma, um dia a Polícia estava aqui fazendo blitz e os delinquentes iam saindo com o portão da casa abandonada. Fomos falar com a Polícia, mas eles disseram que não podiam fazer nada, somente quando é flagrante. Mesmo com a gente dizendo que era da casa vizinha a nossa. Já ligamos diversas vezes para a Polícia, mas ela não pega os meliantes, porque demora a chegar. Daqui que chegue, já levou metade da casa”, lamenta a vizinha.
MUNICÍPIO
A equipe do Cinform entrou em contato com alguns órgãos da Prefeitura Municipal de Aracaju, em busca de algum amparo legal para os moradores que sofrem com a falta de segurança causada pelas casas abandonadas em seus bairros.
De acordo com o assessor de comunicação da Empresa Municipal de Serviços Urbanos – Emsurb – Augusto Aranha, “a Emsurb só faz a limpeza urbana, trabalha apenas com vassoura e lixo”.
Já a Empresa Municipal de Obras e Urbanização – Emurb -, segundo o seu assessor de comunicação, Ademar Queiroz, “fiscaliza apenas obras em execução. Casos que ofereçam riscos a terceiros, quem deve intervir é a Defesa Civil. Mas se for relacionado à segurança, os moradores devem procurar a Polícia”.
A equipe do Cinform também entrou em contato com a Defesa Civil. “Não é também atribuição da Defesa Civil. Somente se houver riscos de acidente, como rachaduras na estrutura ou conteúdos inflamáveis em seu interior. Nesse caso, a partir da colaboração dos moradores vizinhos, que devem fazer a denúncia, somos solicitados a ir analisar a estrutura do imóvel e se ela oferece riscos aos vizinhos, nós intervimos”, conta o coordenador de Defesa Civil do Município, Coronel Matheus.
Infelizmente, nesse jogo de empurra-empurra, quem sente as consequências são os cidadãos, que continuam com o “risco que mora ao lado”.
Confira o que vimos nas casas abandonadas: