A preocupação com o agravamento da situação da pediatria no Estado voltou à tona na semana passada com o cancelamento das cirurgias eletivas realizadas pelo Hospital e Maternidade Santa Isabel. O motivo, segundo a unidade hospitalar, é a escassez de algumas especialidades médicas, como anestesistas e obstetras, gerando dificuldade para o hospitalt fechar escala médica diária. “Nossa realidade não é diferente de outros hospitais que também vem enfrentando a mesma realidade”, disse o hospital através de nota.
Segundo a nota, “a opção de canalizar forças para nossa porta de urgência foi amplamente discutida internamente e levada para os órgãos competentes apoiadores como CRM, que tem a mesma visão sobre manter completa a escala da porta, da urgência e do centro obstétrico. Sendo assim, a decisão da suspensão dos ambulatórios e cirurgias eletivas seria o que menos teria impacto para população”, destacou o Santa Isabel.
Ainda de acordo com o hospital, foi encaminhado um ofício para a Prefeitura Municipal de Aracaju, que é a contratante, mas eles ainda não tiveram um posicionamento. “Aguardamos alguma posição para essa situação, pensando sempre no melhor aos nossos pacientes e usuários. O hospital está com nova gestão, se reestruturando e buscando apoio para melhorias e se mantenha imprescindível para nosso Estado”, relatou a nota.
Waneska Barbosa, secretária municipal de Saúde
Saúde Municipal
A secretária de Saúde de Aracaju Waneska Barbosa disse que todos os esforços estão sendo feitos para o retorno das atividades no Santa Isabel. Segundo ela, a suspensão dos serviços vai impactar diretamente na prestação da saúde à população. “Nós não queremos que seja feita a suspensão de nenhum serviço. A gente já vem tentando algumas conversas com o hospital nesse sentido e também com a Secretaria de Estado da Saúde porque, apesar do município de Aracaju ser o contratante, o hospital serve a população do estado” disse.
A discussão também gira em torno da redução dos partos no Santa Isabel que acontecerá com a abertura da maternidade municipal, prevista para entrar em operação neste semestre. Segundo Waneska não houve nenhuma redução de serviços no contrato. “Nós tivemos uma conversa com o hospital no sentido de que será necessário reduzir o número de partos no Hospital Santa Isabel a partir do momento que a maternidade estiver em funcionamento, porque o município de Aracaju vai ofertar esses partos também na sua na sua maternidade municipal. Para a população não haverá redução”, frisou Waneska.
O Santa Isabel informou que a assessoria jurídica do hospital está continuamente tentando contato com a secretaria, mas até agora sem agenda. Um novo ofício foi enviado na última quinta-feira, ainda sem resposta. “Desde o primeiro ofício estamos tentando contato presencial, mas a secretaria não dá nenhum retorno”, informou a assessoria de Comunicação. Até o fechamento desta matéria – sábado dia 16/07 – não havia ocorrido uma reunião.
Dr Manoel Marcos: “O que estava ruim vai piorar”
Desabafo
O médico ginecologista e obstetra, Dr Manoel Marcos, que tem 44 anos de atendimento às gestantes, disse estar indignado com a situação. Para ele, o problema maior está na baixa remuneração do SUS que não atrai profissionais de saúde para atender na rede. “Nenhum cirurgião ginecologista quer operar as mulheres pela tabela SUS, porque o médico não vai fazer uma cirurgia de alta complexidade para receber R$ 190 e ainda pagar Imposto de Renda. Eu opero porque tenho coração de fazer. É uma falta de vergonha isso. As pessoas fingirem que estão dando a saúde para a população tratando dessa maneira”, desabafou.
“O que estava ruim vai piorar. Imagine você dia e noite sangrando pelo seu útero? Imagine o que é isso para você, para o seu marido e para sua família? Com a certeza aquilo pode lhe levar a morte. É um momento angustiante. É porque essas pessoas [os gestores] têm seus planos de saúde, tem recurso para buscar os seus cuidados médicos. Aí não pensam nas pessoas [a população] que tem o direito, mas não tem o recurso, porque o recurso dos seus direitos é administrado por pessoas incompetentes, que não tem sensibilidade de ver o sofrimento das pessoas”, comentou.
Estado
Procurada para se manifestar sobre o assunto, a SES enviou uma nota. “Entendendo o impacto que a decisão pode causar na assistência aos pacientes, a Secretaria de Estado da Saúde vem acompanhando a situação e dialogando com o município, que tem contrato vigente com a unidade hospitalar, para que seja encontrada uma solução e nenhum paciente tenha seu atendimento prejudicado”