Se a Sergipanidade tem um coração pulsante, ele se chama Aracaju. Fundada em 1855 para aproveitar o porto natural do rio Sergipe e o escoamento da produção açucareira, a capital tornou-se o espaço onde se misturam povos, sotaques e saberes, concentrando o que há de mais autêntico na identidade sergipana.

O conceito de sergipanidade surge como uma construção cultural que simboliza o sentimento de pertencimento ao estado, revelando-se nas tradições, costumes, gastronomia, artesanato, religiosidade e na forma de falar do povo. Ele não se resume a documentos ou datas históricas; manifesta-se no cotidiano, nas relações sociais e na memória coletiva.

“Quando Aracaju foi fundada, era apenas um povoado. Vieram pessoas de diferentes partes do estado para construir a cidade. Ex-escravizados, comerciantes, trabalhadores, todos contribuíram para erguer a nova capital. E, a partir desse movimento, Aracaju passou a concentrar a sergipanidade como um todo, porque aqui se encontraram histórias, sotaques, saberes e sabores”, explica o historiador Amâncio Cardoso.

Nos mercados municipais e nas feiras da capital, a sergipanidade se manifesta de forma concreta. Luís Carlos, que atua no Mercado Municipal Antônio Franco há quase 50 anos, observa que produtos típicos como a mangaba chamam a atenção de turistas e moradores. Segundo ele, praticamente todos os turistas que visitam o mercado procuram pela fruta que é símbolo da sergipanidade. “Todos os dias passam muitos turistas aqui por este mercado. É gente de todos os lugares e não tem um que não queira experimentar a nossa mangaba. É unânime. Todos querem conhecer e provar essa nossa delícia”, ressalta.

Para Luís, a mangaba é a fruta de maior representatividade dentro da identidade sergipana. Ele explica que, assim como quase todas as frutas, a mangaba tem a época específica para existir; e quando não é “tempo de mangaba”, ele direciona os visitantes para a sorveteria Castelo Branco. “Infelizmente, a mangaba não dá o ano inteiro. Ela tem a época certa de nascer. E quando as pessoas chegam aqui procurando por ela e não está no ‘tempo de mangaba’, eu indico a sorveteria Castelo Branco, que é um lugar que também faz parte da nossa cultura. Lá eles têm o sorvete de mangaba natural que é muito gostoso”, disse.

Em 1992, a mangabeira se tornou a árvore símbolo de Sergipe, através do Decreto nº 12.723/1992. No mesmo contexto, a tradição alimentar se expressa no amendoim cozido, uma marca cultural do Estado. Assim como a mangaba, o amendoim cozido também traduz a sergipanidade. Considerado pelos sergipanos uma obra-prima, a iguaria tornou-se patrimônio imaterial de Sergipe, com a sanção da Lei 7.682/2013.

Wellington dos Santos, que vende o produto há mais de 20 anos, no mercado Antônio Franco, ressalta que o amendoim cozido é exclusivo de Sergipe e representa a identidade do sergipano. Ele explica que o alimento é procurado o ano inteiro, mas que durante as festas típicas, como o São João, a procura é bem maior. “Aqui em Sergipe, não há quem não goste de amendoim cozido. Essa é uma coisa que é só nossa, não existe em outros estados. As pessoas procuram o amendoim cozido aqui todos os dias, mas é na época das festas juninas que a procura está maior. Eu acho que é porque faz parte da nossa tradição, tá nas nossas raízes o São João, o forró e o amendoim cozido”, pontua o vendedor.

A ligação entre gastronomia e identidade cultural simboliza bem a celebração que a sergipanidade traduz em seu povo. Seu José de Jesus Mendonça, conhecido como Maroto, que trabalha no Mercado de Artesanato Thales Ferraz, mantém viva a tradição da culinária sergipana. Ele explica que as pessoas que chegam para comer, buscam os pratos típicos mesmo. “O mercado é ponto de encontro de pratos típicos como carneiro, peixe, feijoada, galinha no molho e sarapatel. Os que são daqui já querem e os que vêm de fora querem provar”, conta.

De acordo com Maroto, as pessoas pedem muito os sucos de dois elementos típicos da sergipanidade, que são o caju e a mangaba. “Entre os produtos mais procurados aqui, destacam-se os sucos de mangaba e caju que atraem tanto moradores quanto clientes de fora do estado”.

Aracaju concentra essas manifestações e reforça a identidade coletiva que atualmente integra o conceito de Sergipanidade. Os mercados e feiras da capital funcionam como uma espécie de mini mundo do Estado, reunindo produtos, saberes e práticas culturais de todos os municípios. Essa diversidade se reflete tanto no comércio quanto na gastronomia, nas festas populares e nas práticas artesanais, reafirmando o sentimento de pertencimento e continuidade histórica.

Entre o caju e a mangaba: símbolos de uma identidade viva

A sergipanidade também se revela em símbolos que marcam o território e o imaginário coletivo. Dois exemplos são particularmente emblemáticos, sendo eles o caju e a mangaba.

“O caju está no próprio nome da capital, que é Aracaju, e aparece nas avenidas, nas praças, nas esculturas e na memória afetiva do povo. A mangaba é a árvore símbolo de Sergipe, reconhecida oficialmente em 1992, e seu fruto, típico dos tabuleiros costeiros, representa a riqueza gustativa e cultural do estado”, explica Amâncio Cardoso.

A presença desses elementos culturais se reflete também na produção artesanal. Ana Karina, especialista em renda irlandesa e filha da artesã, destaca que a prática do bordado permite expressar a identidade local. “As pessoas começaram a trazer elementos da cultura sergipana para os bordados, como o caju, adaptando o trabalho à memória cultural e criando uma identidade própria”. A prática da renda e outros artesanatos locais reforçam a conexão com o passado e fortalecem a circulação da cultura material sergipana.

Entre as expressões típicas de Sergipe, o sotaque característico, palavras e termos próprios de cada região, a culinária com pratos como sarapatel, carneiro, galinha ao molho e feijoada, as danças folclóricas como caboclinho, reisado e quadrilhas juninas, e manifestações religiosas e populares reforçam o vínculo com a comunidade e a memória coletiva.

Sergipanidade: religiosidade, folclore e tradições

A sergipanidade se manifesta também nas festas religiosas e populares, que marcam o calendário do Estado. A tradição do São João, com forró, milho, quadrilhas e comidas típicas, representa a união de gerações e reforça o vínculo com o território. As romarias e celebrações religiosas, presentes em cidades do interior e bairros de Aracaju, evidenciam a devoção popular e a fé coletiva que molda práticas culturais únicas.

O folclore, por sua vez, mantém viva a memória do passado. Danças como o caboclinho, as manifestações de reisado e as festas juninas representam símbolos de resistência cultural e criatividade popular. O sotaque, as expressões linguísticas e as palavras que surgem em cada município consolidam a diversidade interna do estado, transformando a língua em instrumento de identidade coletiva.

Mais do que um conceito, a sergipanidade se manifesta de maneira diversa — no sotaque, nas tradições, na culinária, na fé e nas expressões artísticas. “Não somos 100% sergipanos, porque o estado não está isolado. Há influências da Bahia, de Alagoas e do Piauí, mas isso enriquece nossa identidade. Por isso falamos em sergipanidades, no plural, pois há muitas formas legítimas e valiosas de se ser sergipano. Cada pessoa manifesta a sergipanidade de uma forma”, explica Amâncio Cardoso.

O Dia da Sergipanidade X Emancipação Política: o fato histórico e o sentimento coletivo

O Dia da Sergipanidade é uma data simbólica criada para fortalecer o sentimento de pertencimento e identidade cultural do povo sergipano. Ela se distingue da data da emancipação política do estado, ocorrida em 8 de julho de 1820, quando Sergipe conquistou oficialmente sua separação da Bahia e passou a administrar-se de forma autônoma. Enquanto o 8 de julho marca um fato histórico e institucional, ligado à política e à administração pública, o 24 de outubro representa um marco afetivo e cultural, nascido da necessidade de reconhecer o que torna o sergipano único: seu modo de falar, suas tradições, sua culinária, sua fé e seu sotaque.

Sergipanidade: celebrar e fortalecer laços

Celebrado em 24 de outubro, o Dia da Sergipanidade vai além de uma data no calendário. É um convite à reflexão sobre a identidade de Sergipe, suas origens e os elementos que unem seu povo. A sergipanidade se manifesta no falar, no comer, no rezar e no viver cotidiano de cada sergipano. É um sentimento que, como explica o historiador Amâncio Cardoso, “não se vê, mas se sente”.

“A sergipanidade, como qualquer identidade cultural, é um sentimento, uma abstração, algo impalpável. É como o amor, já que não se ama quem não se conhece, vai-se aprendendo a amar à medida que se convive. A sergipanidade funciona da mesma forma, o sergipano vai aprendendo sua identidade cultural na medida em que vive as manifestações concretas dessa cultura”, aponta o historiador.

O 24 de outubro marca o reconhecimento desse sentimento e da memória coletiva. Diferente da data oficial da emancipação política, 8 de julho, que é reconhecida documentalmente, e conta a história de Sergipe em grande parte, a partir de perspectivas externas, como registros coloniais e relatórios administrativos de outros estados, o Dia da Sergipanidade relata a história sob a perspectiva das experiências cotidianas, as vivências locais e os relatos das comunidades que construíram e mantêm viva a cultura sergipana, refletindo a tradição popular e a história viva do estado.

A data se consolidou para celebrar a emancipação política de Sergipe, em 1820, quando o território se separou da Bahia e conquistou autonomia. O historiador Amâncio aponta uma das possíveis explicações para o 24 de outubro existir. “A ideia de que como a comunicação era mais lenta naquela época, é possível que a notícia da independência tenha chegado em Sergipe, somente naquela data. E a partir daí, os sergipanos passaram a celebrar este dia. Existem documentos oficiais que comprovam a emancipação em 8 de julho, mas como a população teoricamente soube depois, as comemorações aconteceram na possível data em que tiveram conhecimento”.

Mais de dois séculos depois, esse sentimento de pertencimento continua sendo reafirmado por gestos cotidianos, tradições transmitidas de geração em geração e manifestações culturais concretas. Celebrar o Dia da Sergipanidade é celebrar o amor coletivo pelo território, pela cultura, pela história e pelos costumes que se entrelaçam no cotidiano do povo. É celebrar o orgulho de ser Sergipe; pequeno em tamanho, mas imenso em identidade, memória e diversidade cultural.

Fonte, Agência Aracaju de Notícias.

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