Os dias 20 e 21 de julho de 2017 ficarão para sempre marcados nas vidas dos familiares de José Luís da Anunciação Filho e quem sabe de outros cidadãos, que viram seus respectivos parentes falecerem nas dependências da maior unidade de Saúde do Estado, gerido pelo Governo estadual: Hospital de Urgência de Sergipe – Huse -, um dia após presenciarem ali uma grande irresponsabilidade.
Entre os parentes, com certeza, ficará a eterna incógnita: “será que meu pai, minha mãe, meu avô (ó), meu irmão (a) faleceu realmente devido a complicações de Saúde ou a falta de energia no Huse, na última quinta-feira, 20, agilizou a morte dele (a)?” É a pergunta que, pelo menos, a diarista Josefa Paixão, de 40 anos, faz.
O pai de Josefa, o agricultor José Luís da Anunciação, natural de Tobias Barreto, faleceu na última sexta-feira, 21, tendo como causa morte, em seu laudo: “pneumonia comunitária”. “Se não tivesse tido esse apagão, acho que meu pai poderia estar vivo. Ele estava tão bem ontem à tarde (última quinta-feira). Fiquei surpresa né”, afirma a diarista.
PACIENTE ESTAVA BEM
Josefa, juntamente com o cunhado, visitou o pai na tarde de quinta, na ala vermelha do Huse, e viu ali um homem bem, falante, com saúde estável. “Estava sentado, ainda riu, conversou comigo, com o meu cunhado”, diz a filha. Contudo, José Luís precisava de equipamentos para garantir sua estabilidade. “Ele estava no oxigênio, com aparelho de coração e pressão ligados”, informa.
“Se aconteceu a pane (de energia), meu pai foi prejudicado. Não posso garantir 100% se foi, pois, só Deus sabe. Mas a indignação com essa falta de energia fica. Existe tanta gente lá respirando por aparelhos. Foi muita irresponsabilidade. Ali têm milhares de pacientes entubados, que precisam de energia”, desabafa Josefa.
Após o apagão avançar pelo Huse por volta das 18h40, devido a uma explosão de um transformador da área externa do hospital – de responsabilidade da Energisa -, a unidade hospitalar ficou sem energia fornecida pela concessionária por mais de três horas.
PROBLEMA NO GERADOR
Para complicar ainda mais a situação, os geradores não entraram automaticamente. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde – SES -, um deles que alimenta as UTI’s I e II, Área Vermelha e o Centro Cirúrgico não entrou no modo automático. “Porém, no modo manual, a questão foi solucionada e restabelecida normalmente. Essas áreas críticas não apresentaram desassistência”, diz matéria do órgão.
Contudo, um profissional de Saúde do Huse, que prefere não se identificar com medo de represálias, desmente a matéria da SES, como a parte que afirma que: “as baterias dos equipamentos de ventilação e respiradores duram até 12h”. “Mentira. Não dura. A gente que é da área sabe que, se faltar energia, gerador, dura no máximo duas horas”, afirma.
“Inclusive, tivemos dois problemas no aparelho de ventilador (na UTI). Tivemos que usar ambu, que é aparelhinho que fazemos reanimação manualmente para o paciente. Tivemos que nos revesar de funcionário para funcionário para manter a vida daquela pessoa”, relata o profissional do Huse.
PROBLEMA RECORRENTE
“Na UTI, no hospital, ficamos sem energia por volta de 40 a 45 minutos, apagão geral. Os respiradores mecânicos todos na bateria”, informa o profissional. Ainda segundo ele, na ala vermelha – onde José Luís estava internado -, a manutenção dos aparelhos não é tão boa como na Unidade Intensiva. “Não sei se a bateria durou tanto tempo lá. Creio que não tenha sido fácil”, afirma.
Esta não é a primeira vez que o Huse passa por isso recentemente. De acordo com o profissional, um mês e meio atrás, o hospital ficou sem energia e o gerador também não funcionou. “A gente tem medo. Não é fácil trabalhar neste ambiente com energia, imagine no escuro, só com luz de lanterna de celular”, frisa.
Em qualquer parte do mundo e, claro, no Brasil, todos os hospitais devem por obrigação ter gerador de energia para assegurar o pleno funcionamento de todos os setores – principalmente aqueles vitais como UTI e centros cirúrgicos. Inclusive, uma portaria do Ministério da Saúde, datada de 1977, determina isso. Mas, pelo jeito, no Huse, a lei não é seguida à risca, falta manutenção. Talvez seja necessário cada família levar o seu próprio gerador.