Foi realizada, nesta quinta-feira, 9, a audiência pública sobre o uso medicinal da Cannabis, propositura da deputada Maria Mendonça (PDT). O evento recebeu a médica Mirene Oliveira Morais e o advogado integrante da Comissão de Saúde da Ordem dos Advogados do Brasil seccional Sergipe (OAB/SE).
Atualmente, 18 produtos a base da planta estão disponibilizados nas farmácias brasileiras, mas com custo muito alto. Mais de 40 países já regulamentaram o uso medicinal, inclusive na América do Sul.
Mirene Oliveira Morais lembrou existe uma gama de patologias que podem ser tratadas com Cannabis, entre elas, as mais estudadas na literatura são epilepsia, convulsão refratária, Transtorno do Espectro Autista (TEA), dores crônicas, demências e câncer.
“Seja do sistema nervoso central ou periférico, todas as células, a gente consegue modular várias doenças por conta dessa propriedade. A gente tem um bom controle no sono e na hiperatividade, então essa é a intenção dessa palestra, mostrar para todo mundo. As pessoas não sabem que a gente pode ter acesso hoje até com uma certa facilidade, claro que ainda muito caro”, afirmou.
Além de auxiliar no tratamento, é possível diminuir ou até mesmo retirar o uso de medicamentos controlados. A médica citou um estudo realizado em Israel, o país mais avançado na terapia com Cannabis hoje, que demonstra mais de dez mil pacientes em uso de Cannabis na última década.
“Os pacientes, por exemplo, com dores crônicas, conseguiram diminuir a quantidade de medicamentos opioides, derivados de morfina, e isso já é um ganho muito grande. São pacientes que conseguem um controle muito bom dos sintomas em quimio e radioterapia, precisando de menos medicações, então é um ajuste que a gente pode fazer, é uma ferramenta terapêutica a mais”, declarou.
Ela disse que os efeitos colaterais de remédios controlados, de tarja preta principalmente, são bem complexos. Esses medicamentos acabam precisando de doses maiores a cada dia para conseguir o mesmo efeito.
Para Maurício Lobo, Cannabis Medicinal é um tema de extremo preconceito e de tabu, mas o mais fundamental é que é um tema de saúde pública, que dá visibilidade a mais de oito milhões de brasileiros que sofrem. Ele falou que esta é uma demanda e um anseio dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).
“É preciso abrir a forma de acesso aos usuários porque quem tem acesso hoje são os ricos que conseguem viajar ou comprar com custa em média por mês de R$ 8 mil. E o usuário do SUS, como fica? Temos ainda uma falta de regulamentação no Brasil, embora o Estatuto Antidrogas autorize o cultivo para fins medicinais, é importante que seja regulamentado o mais breve possível”, afirmou.
O advogado salientou que a Cannabis é também um negócio favorável para a economia brasileira. “Nós temos o cânhamo, matéria prima que tem mais de 25 mil aplicações. Para se ter uma ideia, há séculos os tecidos e as cordas eram de cânhamo, então cânhamo é inclusão porque pode ser fomentado junto ao microprodutor rural. Não tem como discutir, já pensou se a gente estivesse importando mandioca no Brasil?”, questionou.
A deputada Maria Mendonça destacou a importância do tratamento para diversas doenças que podem garantir qualidade de vida com a Cannabis. Ela ainda disse que é muito interessante que todos tenham o conhecimento necessária para garantir para as famílias sergipanas estas informações.
“É preciso conhecer os benefícios para depois fazer uma avaliação correta, então pretendemos levar o conhecimento através dos meios de comunicação para que de fato as pessoas possam fazer juízo de valor”, falou.
Por Wênia Bandeira/Agência de Notícias Alese
Fotos: Jadilson Simões/Agência de Notícias Alese