Todo jardineiro sabe: entre o plantio da semente até o desabrochar da flor, há o tempo. Mas há também o cultivo, a exposição ao sol para nutrir, tem a rega de água, além do adubar e podar folhas mortas. O jardim é um exemplar em miniatura sobre a vida. Não há ansiedade entre as bromélias, nem angústia no jasmim. Elas acolhem a chuva, o vento, o arder do sol, o luar. E se contentam em ser quem são, em florir ao seu próprio tempo.
 
A natureza viva, todos os dias, nos concede um espetáculo de sabedoria e simplicidade. O ser humano, o único presenteado pela existência com uma mente e capacidade criativa, precisa se inspirar mais com a observação e contemplação daquilo que é movimento natural.
 
Na natureza nada se reprime, ao contrário, tudo se revela em seus próprios ciclos de expressão. Não precisamos de um enxoval ao nascer. Necessitamos de proteção e referências para construir nosso próprio caminho. Até os animais seguem esse instinto. Uma bela tartaruga só desova na mesma praia onde nasceu. Ela percorre toda jornada de honra à sua ancestralidade para promover a vida no mesmo solo que a aqueceu e a fez crescer dentro do ovo. De mil filhotes de tartarugas nascidas, uma sobreviverá. É uma estatística cruel. 
 
Em três dias de vida elas se lançam ao imenso oceano, ao desconhecido. As mães tartarugas sabem que a independência é inevitável e cada um dos seus filhotes precisará lutar por si só diante das adversidades no mar. Certo dia li em um dos escritos de Maria Letícia Mundi, sobre Constelação Familiar, que “filhos, pais e avós têm a mesma ferida para curar”. Fiquei estarrecida e reflexiva. Honrar a ancestralidade, como muitos pensam, é levar flores ao túmulo. Não é. Estamos assistindo cada dia mais idosos segregados, esquecidos e sendo abandonados pela própria família.
 
Erros? Quem nunca os cometeu? As pessoas agem conforme entendimento que têm da própria época, talvez sim, muito norteados pela cultura e escala de falso moralismo que se prega. Quando eu cultivei um roseiral, jamais um beija-flor me pediu autorização para polinizar as rosas. Ele entende que aquele é seu dever e assim o faz de bom grado. À medida que mais beija-flores nos visitava, mais rosas desabrochavam. E havia brancas, alaranjadas, amarelas e vermelhas. O pequeno pássaro não fazia distinção, as tratava com igualdade.
 
Então certo dia eu perguntei para a minha psicóloga como tomar decisões melhores. Ela me devolve as perguntas porque não estou lá à procura de muletas, mas de provocação. Compreendo que é tudo aquilo que vem me deixar em sensação de paz comigo mesma. E isso só é possível com um autorespeito e profundo autoconhecimento. Não estou em busca de reconhecimento, mas cada dia mais, de me reconhecer.
 
Sim, fui eu mesma que assinei aqui, que respondi desta forma, errei acolá e acertei mais à frente. Estou bem longe de ter a natureza simples de uma flor. Reconheço-me complexa por demasia. Até acredito que a ignorância dá uma certa liberdade e livra de certas responsabilidades. Mas quando se sabe o que se é e qual recado veio dar, a consciência cobra. E a paz é irmã gêmea da consciência. Estão amplamente sintonizadas.
 
A paz de uma mãe tartaruga é saber até onde vai o seu trabalho de perpetuar a espécie. Tem ser humano que não tem limites pra isso. Mas um animal irracional tem. O beija-flor trabalha sem salário, pois sua recompensa é amanhã ter mais flores e mais serviço para a sua comunidade. Ele intui perfeitamente o que é para fazer. Nossa capacidade de desenvolver harmonia em grupo ainda é muito baixa. Seja em família, no trabalho ou em qualquer agrupamento que se tenha algum objetivo, unir ainda é um desafio.
 
Precisamos urgentemente cultivar a simplicidade. Por que? Porque do outro lado o que nos espera é a ideia de orgulho, separatismo, egoísmo e muita solidão. Comer um bolo tomando café com uma amiga é mais legal do que fazer isso sozinha. Quando e até onde confiar? Cada qual conhece suas feridas e, portanto, terá que lidar com elas através das experiências inevitáveis do verbo viver. Lembremos da pequena tartaruga se encaminhando ao mar. É uma caminhada cheia de solitude, contudo, ela tem as informações genéticas do que deve fazer caso sobreviva e nade por mais de 100 anos.
 
O casco dela a protegerá. A natureza mais uma vez é sábia. Definitivamente, tudo tem um porquê. Jesus, em suas falas atemporais do Sermão da Montanha, – passagens dos evangelhos de Mateus e Lucas -, conta sobre a não temeridade da existência. “Olhai os lírios do campo, como não trabalham, nem fiam; contudo vos digo que nem Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles. Pois se Deus assim veste a erva no campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé!”.
 
Fé, com origem etimológica do latim, ‘fide’, é a adesão de forma incondicional a uma hipótese que a pessoa passa a considerar como sendo uma verdade sem qualquer tipo de prova. E nós, rebuscados, sofisticados, temerosos, porque trazemos a carga ancestral de séculos de fome, escassez e medos de todos os tipos, queremos garantias. Muitos até exigem o que não podem. A fé é o exercício de pisar sem enxergar chão, para assim, o caminho ser criado. Quantos se atrevem?
Iludidos por posses, títulos, crachás, contratos ou seja lá o que for, vamos desfilando numa corda bamba a uma altura que é a mesma do quanto se percebe quem se é. Deepak Chopra, em sua teoria de física quântica, nos classifica como poeira cósmica. Quem somos e o que levamos ao considerar tempo, espaço e ciclos existenciais? Somos as entregas que efetuamos. Conhecimento, dinheiro, poder, acessos, são formas de energia. Inevitavelmente somos também sentimentos e intenções. E eles nos regem como uma orquestra, funciona tal qual ímã. Iremos atrair as situações e pessoas que precisamos para nos desenvolver. E nosso trabalho é onde se está agora. Viemos no endereço da família certa, perfeita para cada um(a). Quem se considerar vítima do destino que visite um presídio. Está cheio de vítimas por lá.
As roseiras são lindas, perfumadas, coloridas e se comunicam conforme crescem. Haverá dias de sol onde elas serão radiantes. E também, em algum tempo, irão se despetalar para dar lugar a outras rosas, com outros formatos e identidade. Elas se compreendem, lidam com as intempéries e aceitam seus ciclos. Não deem flores mortas aos seus, presenteie com rosas, orquídeas, bromélias, todas plantadas, pois assim serão cuidadas. Cuidemos! Honremos os ancestrais vivos e sejamos profundamente agradecidos pelo ideal de viver com mais fé e confiança. A flor não nasce no mesmo dia em que se planta, paciência. Mas quando ela germinar, tudo será compreendido.

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