A celebração em homenagem a Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Aracaju, reúne todos os anos duas tradições que expressam a identidade cultural e religiosa da capital sergipana: o novenário católico dedicado à santa e a Lavagem da Conceição, realizada pelos povos de terreiro em reverência a Oxum. No sincretismo religioso, Nossa Senhora da Conceição é associada à orixá das águas doces, da fertilidade, da riqueza e do amor. Relação que, ao longo de décadas, moldou práticas, crenças e símbolos da cidade.

Na história da fé católica, a devoção local à Imaculada Conceição remonta ao período da transferência da capital de São Cristóvão para Aracaju, entre 1855 e 1860. Em 1875, foi concluída a Catedral Metropolitana, considerada a Igreja Mãe da Arquidiocese, consolidando a presença da santa como padroeira da cidade. Segundo o pároco Anderson Gomes, essa relação permanece profundamente enraizada. Para ele, a devoção acompanha a formação urbana e cultural de Aracaju, marcada pela presença da Catedral no centro da capital. “As pessoas que têm mais idade carregam uma devoção profunda à Nossa Senhora da Conceição, porque ela realmente fundou uma geração, uma cultura imbuída na fé católica”, ressalta. Mesmo com a expansão urbana e o distanciamento dos fiéis em relação ao centro da cidade, o padre destaca que, durante o período da festa, muitos devotos retornam à igreja para renovar suas orações e agradecimentos.

Ao falar sobre o significado da santa, o pároco reforça sua dimensão espiritual e seu exemplo para os fiéis. “Para nós, Nossa Senhora da Conceição é a Mãe de Deus, a mulher que acolheu o anúncio do anjo e nos inspira pela humildade, pela esperança e pela capacidade de acreditar. Neste tempo difícil, ela aponta para a luz e para o amor”, disse.

Ao lado da tradição católica, os povos de terreiro também celebram, no dia 8 de dezembro, a força de Oxum por meio da Lavagem da Conceição, que se tornou um dos rituais mais marcantes da capital. O cortejo sai da Colina do Santo Antônio em direção à Catedral, onde ocorre a lavagem das escadarias, gesto simbólico que une fé, resistência e ancestralidade.

Responsável pela cerimônia, a iyalorixá Angélica de Oliveira, da casa Humkpame Karê Le Wi Oyá Güilê Ginan, relembra a origem da celebração, iniciada em 1982 a partir da promessa de oito estudantes aprovados no vestibular. Eles atribuíram a conquista à intercessão de Nossa Senhora da Conceição e de Oxum e decidiram realizar um gesto de agradecimento. “Naquela época só existia a procissão. Terminava a celebração religiosa e a cidade se recolhia. Os estudantes quiseram pagar a promessa, mas foram impedidos de realizar a homenagem na frente da Catedral. Ainda assim, seguiram com a ideia, apoiados pelas tias de um deles, que guardaram o estandarte e o material de divulgação”, recorda.

Sem estrutura e com poucos recursos, os jovens improvisaram a primeira lavagem. “Fizeram tudo com o que havia na praça. Com um balde de água tirado de um espelho d’água. Não havia flores; tiraram das árvores do local. Fizeram buquês improvisados. A caminhada começou ali mesmo”, conta Angélica. O cortejo seguiu até as escadarias e marcou a história da celebração, hoje com 43 anos.

Para a iyalorixá, conviver com as duas devoções representa um aprendizado contínuo. Ela afirma que a fé demonstrada pelos participantes, seja por Nossa Senhora da Conceição ou por Oxum, alimenta a caminhada de todos. “Se a pessoa está ali, é porque confia nas duas. Isso é muito positivo para nós”, diz. A mãe de santo também reforça a importância de desmistificar preconceitos contra as religiões de matriz africana. “A nossa caminhada mostra que não é como ensinam nos livros ou na escola. A fé que levamos é construída com respeito, estudo e tradição”, completou.

O padre Anderson Gomes destaca que as duas celebrações caminham juntas no respeito mútuo. Para ele, reconhecer diferentes expressões de fé é essencial. “A dimensão da fé só é humana e profundamente mística quando respeitamos o modo do outro professar a sua crença. A cada ano, acolhemos a lavagem das escadarias com muito respeito. Onde houver um ser humano promovendo o bem, a paz e os bons valores, ali deve haver acolhimento”, frisou.

Programação

Católicos: Com o tema ‘Celebremos os 150 anos da Catedral, sob o patrocínio da Imaculada, Mãe da Esperança’, o novenário de Nossa Senhora da Conceição teve início em 29 de novembro e culmina nesta segunda-feira, 8. A programação inclui missa dos devotos às 7h; missa solene às 9h30, presidida pelo arcebispo Dom Josafá Menezes; celebração às 15h30 seguida da consagração; e, às 16h30, procissão pelas ruas da cidade, retornando à Catedral. Às 18h, será realizada a missa de encerramento, dedicada a agradecer os feitos atribuídos à intercessão da santa.

Povos de terreiro: Neste dia 8 de dezembro, às 8h, começa a concentração para a Lavagem da Conceição na Colina do Santo Antônio. A saída ocorre às 9h, com apresentação inicial sobre o tema escolhido para o ano, que aborda a missão dos iniciados como guardiões do sagrado. O cortejo segue pelas avenidas Simeão Sobral, João Ribeiro e Ivo do Prado (Rua da Frente), com parada no Mercado para homenagem das mulheres das flores a Oxum. No percurso, também são celebrados expositores que apresentaram obras inspiradas na lavagem. O grupo realiza ainda o tradicional encontro entre o rio e o mar na Ponte do Imperador, onde é entregue o balaio ritual. O cortejo segue então para a Catedral, encerrando com a lavagem das escadarias.

Fonte, Agência Aracaju de Notícias.

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